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domingo, 26 de dezembro de 2010

Bolinha de Sabão

Ele sabia que ela estava aprontando alguma... Enquanto a bobona, sorrindo aprontava. De fato, nada estaria pronto. Nada seria dito. Mas aos trinta, ser boba era um prazer. Privilégio que oferecia a ele. Flores e maçãs.

E foi-se. Ser toda. Toda a menina que era. A emoção de ser pequena com olhos graúdos - brilhantes. O entendimento era dele. Dela, a graça. A pirraça. Bolinha de sabão.

De tão solta, esqueceu-se. Trancou a porta com uma força ingênua - mais rápida que as mãos. Força infeliz! Quebrou-se lá dentro, o osso do dedo e a solidão. Chorou de dor e de contentamento. Que era tão visceral, que era tão infantil aquela dor.

De presente e de susto, quinze dias experimentando a desautonomia da mão esquerda e as gentilezas e cuidados alheios. Quinze dias sem escrever, sem violão, sem uniforme.

A mão direita de férias e a esquerda no recreio. Ah, se não tinha outro jeito... Beijaria o mundo, tateando com a língua. A vida! Puro paladar. E coração.
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Eis o que ando cantando. Sem as mãos (!):

Meditação
Composição: Tom Jobim/ Newton Mendonça

Quem acreditou
No amor, no sorriso e na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais

Quem no coração
Abrigou a tristeza de ver
Tudo isso se perder
E na solidão
Procurou o caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz

Quem chorou, chorou
E tanto que o seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e a flor
Então tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou
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PS: Era segredo. É que fiquei brincando com as rimas e cócegas das bolinhas de sabão... Paixão? Confusão? Feijão?

PS2: Já que leu, atreva-se a brincar também (enquanto meu dedo lateja... e descansa).

domingo, 19 de dezembro de 2010

Quarta

Era um silêncio antigo. Grisalho. De memória fraca e coração bom. Era de duvidar que fosse bom, mas se era a própria dúvida o seu maior segredo. Ah, que de tanto segredo e de tantos silêncios faziam amor. Suavam o prazer de existirem. Há tempos, há sôfregos desejos e enganos e aquela cumplicidade úmida, de tão íntima. De tão só.

Só o que eram. Só o que teriam feito da vida, da praga, do ensaio. Do encontro das bocas tímidas, que nem em sonho. Que nem em vida. Mas, se ainda era vida aquele inferno de ser não, de ser talvez (alguma coisa). Talvez alguma coisa, um dia. Barulhinho de pingo na telha, na testa, de chuva no peito, um dia desses. Um dia nosso.

Qual? Se era o meu silêncio aqui e o teu segredo lá. Se eram tuas as palavras cheias de pó. A minha rouquidão – a nossa covardia. Nosso beijo pós-mar. Nosso impossível beijo – de amor.

Rouba meu mar, que roubo esses olhos azuis. Que troco a paz que nunca tive por esse amor, que sempre foi teu.

Que sempre fui tua.
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... era essa a música que eu desafinava, amando desafinada, pela primeira vez:

DINDI
(Tom Jobim e Aloysio de Oliveira)

Céu! Tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Pra onde elas vão? Ah! Eu não sei, não sei...
E o vento que fala nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém...
Mas que são minhas e de você também...

Ah! Dindi...
Se soubesses o bem que te quero
O mundo seria Dindi, tudo, Dindi, lindo, Dindi...
Ah! Dindi...
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindi
Fica Dindi...Olha, Dindi...

E as águas desse rio onde vão eu não sei
A minha vida inteira esperei,
Esperei por você, Dindi
Que é a coisa mais linda que existe
Você não existe Dindi
Olha Dindi...Deixa Dindi...Que eu te adore Dindi...
Ah! Dindi...
Se soubesses o bem que te quero
O mundo seria Dindi, tudo, Dindi, lindo, Dindi...
Nosso, Dindi...

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PS: Nuvens da quarta-série, da quarta-feira, da quarta poesia. Fica, Dindi...

sábado, 27 de novembro de 2010

Pó(s)

É que n’algum canto ecoavam emoções de um dia frio. Nos lábios tremiam sílabas impronunciáveis. Eram trinta anos. Eram trinta sonhos. Eram trinta mil pecados gulosos, de um acorde só. Era que não cabiam. Não sofriam e não calavam. Eram rugas que não vinham. Era o vinho que não vinha. Era eu. Um pouco mais, um pouco menos. Era a vida tossindo – um desespero. Um tanto de pulmão gritando. Socorro... Um tanto de mel, que o mel acalma. Um tanto de noite, um tanto de dó. Os dedos que não alcançam o dó... O céu tão perto. O chão tão longe. O dia. Ah, o dia... irritante. Promessas se aninhando em teias. Feitiços guardados. Pó.

Queria um erro novo. De frio na barriga e cegueira. A loucura da fé. Do amor. Da noite que chega só. A luz de uma estrela morta. Só.

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PS: Cada vez mais Cafuza. Mais pontual. E menos. E tanto...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Inda

Era o silêncio de outubro. Mês de pagar os pecados e guardar o troco, engasgada. Contar as moedas e os lutos. Sangrar com o não entendimento e o sorriso nervoso – que nasceu cravo, quando se havia plantado girassol.

Ai, que era outubro. Era um soluço na alma. Soluço azul, turvo – como se mar anoitecendo. Amor. Envelhecendo estéril. Sem frutos, sem eco, esfarelando em folhas secas. Se quer a brisa esverdeada prenunciando a esperança. Só aquele mormaço, roubando da alma oxigênio e ternura.

Levantou-se curvando o próprio vazio. Escolheu um vestido cor de festa. Os cabelos eram caracóis de segredos cintilantes. Com a ponta dos dedos acalmou alguns fios. Eram fios fingidos, tingidos, rebeldes. Pensou em cortá-los. Mas, mortos no chão, inda seriam segredos. Inda seriam seus e... outubro.

E era toda de uma rebeldia cruel. Daquelas que não (se) perdoam. Daquelas que passam outubro esperando novembro. Daquelas que mesmo em novembro, ah... mesmo em novembro não vão perdoar.
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PS: Ufa! Finalmente... novembro. Novembro novo, já cheio de exclamações... rsrsrsrs
PS2: !!!!!!!!!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ode ao ódio

Calou-se, como quem espera o castigo. Como se o que acabara de dizer pudesse se materializar. Calou-se de susto, com pressa de ser outra, em outro lugar. Procurou ao redor alguém que pudesse ter dito... e era ela. Era lá dentro que ainda lia-se num cartaz mal-feito: “Odeio você”.

E entre tudo o pretendia dizer, entre tudo que o que não pretendia sentir... era isso enfim, que estava dito.

Lembrou-se da sua paixão pelas palavras. Pelas pessoas. Lembrou-se que odiar era um verbo que nunca havia conjugado. Que desde pequena soava-lhe feio, triste, infeliz. Não gostar era tão mais simples, mais leve. Odiar... odiar era desumano. E ela em todas as suas idiotices, sempre fora tão humana.

Não odiava nem jiló. Nem as injeções que durante a infância obrigaram-lhe a tomar. Detestava música eletrônica, celebridades instantâneas, traição de amigo. Mas, odiar era muito. Ou era pouco? Tanto que nunca quisera pra si.

E agora estava dito. Estava feito? E já havia um segundo depois. Aquele mórbido segundo antecedendo a respiração do “odiado”. A reação que podia ser todas, podia ser nenhuma. Mas, foi essa (que ele disse sem nenhum ódio): “Eu sei”.

Eu sei? Que é ele podia saber se ela (dona das palavras e ex-dona da razão) se quer ameaçara entender?

Mas ele sabia. E o fato o tornara ainda mais odiável. Aquela calma, aquela emoção estável dos que sabem... Era dele o controle e dela a dúvida. A culpa?

Então encheu-se de coragem e repetiu: “Odeio você”. E achou mais bonito e mais humano que todas as vezes que declarou amar alguém. Que o amor às vezes é tão previsível. Tão... clichê.

Naquela noite foi difícil adormecer, pensando se também era odiada. Queria tanto, ser odiada com aquela mesma ternura. Aquele mesmo desejo...

domingo, 22 de agosto de 2010

Lido

Ela não sabia se era coisa de sentir. Ou de comer. Talvez, fosse de sonhar. Que era sempre ele escondido entre as páginas que folheava – perigosamente distraída. E fingia não vê-lo. E ele, fingia nunca ter estado ali.

Mas, o que havia de fazer se estava? Todo. A cada estrofe mais longe. Que era pra poder voltar. Então vinha mais perto, mais certo, mais seu. Era brincadeira de criança. Poesia de ciranda e em todas as flores: bem-me-quer.

Os dias eram impossíveis e a noite, criança também, era de brincar. E quando naquela casa sem teto, os olhos em todos os céus, a boca em todas as palavras... Eram eles!

E o sonho, era de quem?

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Regurgitar

Há tempos não ouso dizer. Que não me sobra um verso, um terço, uma poeira se quer. Nenhuma paz. Nenhum tom cintilante, nem vestígios daquela canção lá de dentro. Lá de trás.

É que um de nós precisava de óculos. Na alma.

Um de nós precisava não se enganar. Que tomamos juntos um porre de covardia e a ressaca insiste em se perpetuar.

A cabeça dói. Na minha taça, a covardia era mais doce, mais tenra, mordaz. Na sua era qualquer uma. Qualquer uma que não precipitasse na boca o fel. Qualquer uma que borbulhasse, distraindo o seu próprio paladar – perplexo, temeroso, condenado à mesma dose de leite morno que a mãe (e a vida) diariamente oferecia-lhe.

Achava que era o vinho. Mas eram aquelas doses de covardia, amargurando até matá-las: as borboletas no estômago. Era o susto. Era a vida. Com medo de ser ele mesmo, foi ser outro. Mais simples. Mais confortável nos olhares alheios. Mais feliz?
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PS: Vinicius disse que o ódio era um amor exaltado, exagerado. Mas, as vezes é outra coisa. As vezes as borboletas agoniadas no estômago nos fazem vomitar.

E é por isso que hoje, conversando com a Gabi... achei tão bonito. Bem disse ela que um dia, você acorda ao lado dele e a borboleta vem livre, linda, calma... pousa na nossa cabeça, no colo, na flor.

Que assim seja. Borboletas voando. Pousando, como se beijassem o amor. Mas, nada de clausura no estômago... rsrsrsrs. Chega.

E eu, que não sei perdoar, agradeço. Viva a liberdade das almas, das bocas, das borboletas. Vivam os dias seguintes. Todos.

Ah, claro. A música:

"Obrigado (Por Ter Se Mandado)"
Cazuza
(mas eu prefiro a interpretação da Cássia Eller, que ninguém colocou tanta força na frase OBRIGADO POR ME TRAIR/ME DAR INSPIRAÇÃO/PRA EU GANHAR DINHEIROOOOOOOOOOOO...)

Obrigado
Por ter se mandado
Ter me condenado a tanta liberdade
Pelas tardes nunca foi tão tarde
Teus abraços, tuas ameaças

Obrigado
Por eu ter te amado
Com a fidelidade de um bicho amestrado
Pelas vezes que eu chorei sem vontade
Pra te impressionar, causar piedade

Pelos dias de cão, muito obrigado
Pela frase feita
Por esculhambar meu coração
Antiquado e careta
Me trair, me dar inspiração
Pra eu ganhar dinheiro

Obrigado
Por ter se mandado
Ter me acordado pra realidade
Das pessoas que eu já nem lembrava
Pareciam todas ter a tua cara

Obrigado
Por não ter voltado
Pra buscar as coisas que se acabaram
E também por não ter dito obrigado
Ter levado a ingratidão bem guardada

Pelos dias de cão, muito obrigado
Pela frase feita
Por esculhambar meu coração
Antiquado e careta
Me trair, me dar inspiração
Pra eu ganhar dinheiro
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PS2: O pior é saber que eu ganhei mesmo inspiração e dinheiro, enquanto as borboletas agonizavam no meu estômago. Parodoxo total. Capitalismo e desamor em colapso.
Mas, aprendi. ESTÔMAGO NÃO É LUGAR DE BORBOLETA...

domingo, 1 de agosto de 2010

Tarja Preta

Não podia saber que haveria amanhã. Que buscaríamos o Sol. Que faríamos do desmaio e da arritmia um casal.

Romance tarja preta. Que não se trata a maturidade da loucura com aspirina. Que somos suficientemente loucos pra querer. O risco, a convicção, a companhia. É que ainda não sabemos de nada que nos preocupe. E gostamos assim.

E os nossos segredos se admiram. Eu, que sempre brinquei com meus limites reencontrei nele a cumplicidade desmedida. Que perigo ser eu mesma, ao lado de alguém que também é. É tanto que o coração do moço bate mais forte que os outros. Coração autônomo, rebelde, avesso ao manual de instruções.

Ele é Palmeiras e tem uma nêga chamada Alessandra. E eu? Tenho Tutano na mamadeira, fortalecendo o sangue. Tenho um desejo recíproco. Temos tempo a ganhar, medo a perder, quereres a desvendar...

E é por isso que aplaudem (e cantam!) quando passamos. Bela surpresa? Que a nossa loucura inspira os corações vazios. Àqueles que não aprenderam ainda, aconselho:

Experimentem. Cair em si, a dois.
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Cair em Si
Djavan

Às vezes parece um tambor,
Mas não é tambor nem nada, é o coração
Que fica entre a paz e o terror
Quando vejo a sua cara
Entre as caras da multidão
Logo fico cansado
Como se tivesse estado a correr
Num segundo já me sinto
Sem uma gota de sangue
Mal consigo respirar, sobreviver
Só Deus sabe o saldo
Creditado ao amor que lhe dou
Se terei sono tranqüilo ou vida sobressaltada
Não sei nada, não sei nada.
Olhar pro sol, vencer o mar,
Admitir, brigar com o par.. Isso é nada!
Não ter você, cair em si,
Morrer de amor não é o fim mas me acaba...
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PS: E ainda não cantei só pra ele. Tutano, me aguarde.
(...)
"Há previsão de Sol para os próximos dias? E quantas Evas fizeram-se de tuas costelas? Quantas acordaram no teu colo, num sopro de vida doce, após tanta morte explodindo num desmaio?

Se tiveres medo, saiba que já tive.

Hoje, quero oxigênio e silêncio.

Amanhã, cantarei pra ti."

Dona Cafuza, abril de 2008 – “(RE)VIRADA”
(http://donacafuza.blogspot.com/2008/04/revirada_30.html)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Flor de Oyá

Inquieto, reclamava do cigarro da moça, quando na verdade queria reclamar sua boca. Tomá-la pra si, que nunca uma boca assim, descolada da sua, o incomodara tanto.

A boca da moça era um perigo. Tinha vida, tinha cheiro de flor adulta e em cada pétala um sonho que não dependia dele. E com medo de acertar, ele errava. Era o que sabia bem: errar. Aprendeu a bater antes de apanhar. Desferia o tapa e gozava a dor na palma da mão. Antes essa que a dor da alma – que era capaz de tudo (e nada) pra nunca mais senti-la.

E diante dela, que era inteira primavera, restava-lhe ser o menino. Assustado, precipitado, automaticamente romântico – como se as frases prontas pudessem prendê-la, distraída. Enquanto ele verdadeiramente se preparava.

Enganava-se e embora ganhasse tempo, perdia um pouco e cada vez mais – da moça. Que os cabelos dela eram de ventania e não suportava aquele “eu te amo” morno, plástico, fugaz.

Queria tudo e queria logo. Queria que ele deixasse de amar desesperado para amá-la com cumplicidade, com verdade. A calmaria de quem simplesmente não tem nada a provar. É quando sobra tempo pra viver.

Ela, habituada a pagar suas contas e seus pecados, cansava. Que não era mulher de contentar-se com adoração. Era mulher de vísceras, de colo, de homem dentro dela e não de menino ao redor.

Ai, que era um menino adorável. Rondava sua boca com medo de perdê-la. E a moça, já perdida de amor, ansiava o dia em que ele – destemido – mergulharia naquele beijo, a descobrir...

Que era ele. Crescido. O homem que caberia dentro dela.
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PS: Ao casal mais inquieto, tonto e encantado que eu conheço... rsrsrsrs. Que eles tenham calma. Juntos.
Flor... e se o menino for feito de pólen? Deixa o vento espalhar!

PS2: A música, que eu tenho ouvido tanto e agora divido com vocês:

"Inquieta, Tonta e Encantada"
Interpretação: Maria Rita
Composição: Richards Rodgers / Lorenz Hart (Versão: Carlos Rennã)

Após nove ou dez conhaques
Acordei qual uma flor
Sem Engov nem ataques
Nem senti tremor

Homem sempre me aparece
Geralmente bem me dou
Mas um meia boca desses
Me desconcertou

Tinindo estou, curtindo estou
Criança chorando e sorrindo estou
Inquieta, tonta e encantada estou

Sem dormir, não tem dormir
O amor vem e diz: não convém dormir
Inquieta, tonta e encantada estou

Me perdi dominada e daí errei sim
Ele é uma piada, piada solta em mim
Ele é o fim e até o fim
Vou tê-lo para vê-lo com fé no fim
Inquieto, tonto e encantado também

Vi demais, vivi demais
Mas hoje eu já adolesci demais
Inquieta, tonta e encantada estou

Niná-lo eu vou, no embalo eu vou
Um dia na pele grudá-lo eu vou
Inquieta, tonta e encantada estou

Ao falar ele sente travação, timidez
Mas horizontalmente, falando ele é dez
Perplexa e fim, conexo enfim
Com graças a Deus muito sexo em fim
Inquieta, tonta e encantada estou

Ele é tolo, mas um tolo
O seu charme as vezes tem
Em seus braços eu me enrolo
Que nem um neném

Caso é aquela coisa louca
Nem dormindo eu estou
Desde que esse meia boca
Me desconsertou...

(...)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

(Des)Amores

Hoje, um coração partiu-se. A veia explodiu, quando contei a ele que sua amada ("aquela amada, mais amada pra valer" – como diria Vinicius), finalmente casaria-se. Com outro.

E não importa o que balbuciou, já que ouvi tudo o que não pudera dizer. Tudo. Que era triste, que era dor, que era injusto. Que era ainda... amor. Que é que o outro tinha, que a levaria ao altar? Se ele mesmo fizera todos os pedidos e usara todas as cores pra pintar o seu amor – e ela, cega? Era isso: o outro A tinha.

Ponto final socando as interrogações.
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Ontem, outro coração partiu-se todo, em migalhas. Que ela era tão menina, tão mais menina quando o viu. E foi-se toda, entregue àquele sorriso de homem que fingia uma conveniente timidez. E quando o primeiro beijo – na festa de aniversário dele – parecia inaugurar o amor (não qualquer um, que talvez fosse o amor de todos os amores)... é que parecia tanto. E a menina foi, convicta. Cansada de confundir-se à toa. Cansada de acordar sozinha experimentando novas confusões. Abriu os olhos e ele ainda estava lá. E sorria. Apresentou-lhe a família, os sinais, as pequenas manias. Teve medo de que tudo aquilo não coubesse em seu colo, mas... queria tanto. Queria mais.

Veio o terceiro dia. A promessa de intensificar a entrega e tomá-la em seus braços, em seus lábios. E bebê-la toda. A menina com seu vestido de boneca mal percebia a festa ao seu redor. Que dentro era incêndio. Era aquele calor da espera, da dúvida, o prenúncio de um gozo macio.

Então ele chegou. Com sua cara-de-pau e outra menina. Outra menina! E todos viram que nela – nossa menina, o incêndio foi-se afogando em necrume.

E a menina chorou, sem nenhuma lágrima. Que era seca, incrédula, cansada.

Era mais um ponto final, interrompendo a gestação de doces reticências.
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Havia outro coração. E esse era encharcado de lágrimas. Partiu-se também e os pedaços largados n'água, tomavam cada um a direção de um novo engano.

É que entre todos, aquele engano doía-lhe mais. Era uma dor ardida. Pontada de cólica sem sangue, sem ciclo, sem maternidade. Era a vergonha, o medo, a saudade. Um coquetel de emoções que não têm nome – nem esperança. Tudo o que queria era ser outra pessoa, em outro lugar. Mas estava ali. Testemunha declarada. Ele era feliz (o quanto era possível sê-lo) com aquela mulher que era tão... tão dele.

E ela, contorcia-se toda esperando encaracolar-se ensimesmada naquela confusão. Não o queria mais. Mas e se quisesse? Que pecado havia em querer ser Aquela, ao lado dele. Que olhava-a há tempos e sempre incomodou-lhe não saber como a danada estava sempre ao lado – exatamente – do que e de quem quisesse. Sem hora.

Era isso. Não queria ser Aquela (nem a sua e nem a outra). Queria era saber querer. Sem perder a medida. Sem perder-se.

Ponto final. Seguido de interrogações e exclamações pontiagudas. Ponto final.
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PS: Conto de outros três corações, enquanto o meu... recupera o fôlego. Ensaia, hesita, transforma. E rascunha outra história.

PS2: Corações, por favor... escolham a música.

sábado, 26 de junho de 2010

Taquicardia

Era uma alegria distraída
Falsa, murcha
De quem se entorpece – num gole cheio
de pequenas dúvidas

O amor: enfermidade
Dores, pílulas e fantasias
de Aniversário, Parabéns!!!
Quando tudo o que teria sido, jaz

N'outro dia a vida, pincelando surpresas
abstrata a tristeza, o susto – a confissão
Uma avalanche de vestígios
Lavando pés, mãos e almas

O coração com pressa
pulando na boca seca
desejando o abismo do mundo
Que não havia mesmo
absolvição

Um céu de pretéritos
- pontiagudos e imperfeitos
Um perigo, um pecado
Uma dó

E foi-se, num segundo
A minha ingênua e cara paz.
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Daí vem a Gal, o Chico e o Djavan, cantando um milhão de vezes:

NUVEM NEGRA
Composição: Djavan

Não adianta
Me ver sorrir
Espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilhada

Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair
Se ligarem não estou

À manhã que vem
Nem bom-dia eu vou dar
Se chegar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei
Tá difícil ser eu
Sem reclamar de tudo

Passa a nuvem negra
Larga o dia
E vê se leva o mal
Que me arrasou
Pra que não faça sofrer
Mais ninguém

Esse amor
Que é raro
E é preciso
Pra nos levantar
Me derrubou
Não sabe parar
De crescer
E doer...
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PS: Gabi, minha borboleta querida, testemunha do inferno que fez-se em mim... Ajuda a cantar (que do canto vem o bálsamo): “Passa a nuvem negra, larga o dia e vê se leva o mal que me arrasou (...) Esse amor que é raro e é preciso pra nos levantar, me derrubou”.

Ah, Nuvem, passa. De vez...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Quarenta e nove luas

Cheguei à última página, ofegante. Havia adiado aquele encontro com o fim como se fugisse de um luto. Quase quinhentas folhas que percorri descalça, sem pressa, reconhecendo que Dona Clarice não é mesmo temporal. Reli muitos trechos e fiz daquela relíquia quase mil páginas e milhões de descobertas e emoções. E quantos sabores podem ter uma emoção?

Ah, não queria mesmo a despedida e sabia que viria o vazio. Sabia que os outros livros na cabeceira não significariam nada depois desse. Depois dessa.

Então abri o vinho. Papel, caneta e um cigarro. Mas lembrei que não era hora. Fazia um ano e fazia frio. Tão frio que a caneta falhava, a palavra engasgava e a memória era o calcanhar de Aquiles. E eu era apenas Alessandra, cheia de calcanhares saltando da imensidão. Era a saudade - imensa e turva e triste. A saudade.

Quinhentas páginas, quarenta e nove luas e doze meses. O ciclo lunar (ou lunático?) onde fui de preferida à preterida, do amor à condenação.

Eu diria um palavrão. Um bem feio e forte, que insano esbofetearia o coração. Mas fiquei com dó. Que culpa tem o pobre se a cabeça é burra e sofre de memória boa?

E se a memória boa é que é ruim, cuidemos das flechas cravadas nos calcanhares. Cuidemos, que é preciso seguir com os pés sadios. E as mãos livres.

Ah, as mãos. Elas, que como bem disse Vinicius "tateiam antes de ter".
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PS: Não era nada disso o que queria dizer. Mas, dane-se. E o livro era a Descoberta do Mundo. Antes de terminar, passei a tarde numa livraria e me dei três bons presentes. Mas trocaria todos os presentes (!) por um passado. Um só. É que o futuro sem ele me parece um tédio. Um tédio novo a cada dia. E a cada noite, um velho sonho e um novo livro (que não saciam a fome).

E agora? Agora eu diria outro bom e feio palavrão e ainda assim, trocaria tudo. Nada. Tudo?

PS sobre a data: Não que seja relevante, mas esse texto é de maio. A Gabi diria que é um segredo de travesseiro. Um segredo assim... póstumo. E em junho seriam mais de 49 luas. E mais quantas páginas e estrelas?

sábado, 29 de maio de 2010

Chuva de dentro

Na gira de preto velho, levei meu próprio, pra garantir: meu pai.
Ele, que não consigo ouvir. Só quando diz cantando. Ele, cheio de ancestralidade, tentando nos contar o que viu e os segredos da sua força... e gagueja, sublima. Sufoca.

Então veio outro caboclo me dizer. Que tinha sete pedras e que minhas mãos eram frias. Perguntou por que demorei tanto (logo eu, que não sabia nem porque viera). Tocou minha cabeça e não entendeu porque é que eu ainda trazia tanta coisa ali. Respondi com os olhos. Que era tanta emoção represada ameaçando dilúvio e meus passos tortos tinham a aridez do interior do sertão. Com a certeza daquela tristeza reconhecida vieram as lágrimas – todas. E era chuva de dentro.

Eu, que só queria que os atabaques dessem um novo ritmo ao coração. Eu, que só queria assistir a dança dos orixás... agora inundava. Era chuva de terreiro bagunçando meus cabelos e as palavras.

Estremeci quando vi no rosto do caboclo escorrer uma lágrima que era minha. Tão minha. As almas que se vêem e (se) choram:

- Filha, peça pra sua mãe, Iansã – deusa das tempestades, que ela manda uma ventania bem forte levar tudo isso da sua cabeça. De vez. Não carregue isso não, minha filha. E no dia de Xangô, nosso pai guerreiro, peça proteção e tranquilidade... peça o que quiser. Só não peça a ele justiça. Não peça. Que o machado da justiça quando cai, bate onde tiver que bater.

Ah, meu querido caboclo das sete pedras, das sete velas, das sete mil lágrimas. Careço não de justiça que da impunidade dos meus pecados sopra uma lucidez. Quero é paz. A paz das ventanias de Iansã. A paz das almas que sobrevivem aos dias mais frios. Aqueles dias - que amanhecem pincelando saudades no céu.
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Então é samba de macumba, na interpretação maravilhosa da Fabiana Cozza, que canta como se fosse dona dos feitiços do universo:

Xangô Te Xinga
Composição: Leandro Medina

Sim, você sabe
Por tudo que fiz
Basta você sentir saudades
Que eu tô na linha
Nesse caso dava pra dizer
Revigorou o fino fio frio
De longe, de onde o amor vinha

Aí fiz você pra ver e ouvir
Combinei melodias sutis
Maracatu correrás
Pro amor que eu vou dizer
Presente en toda mi vida

Segura o pranto quem chorou
Xangô te xinga
Segura o pranto quem chorou fui eu
Virou no santo que baiou
Sambou neguinha
E no entanto, quem dançou fui eu

Segura o pranto quem orou
Xangô te xinga
Segura o pranto quem chorou fui eu
Virou no santo que baiou
Sambou neguinha
E no entanto, quem dançou fui eu

quarta-feira, 12 de maio de 2010

De vidro

No meu calendário, era outra a lua. No fundo do copo ardia um resto de amor, um caldo gélido de desejos ansiando a exumação. É que cedo aprendi a enterrar os mortos. Meus e mortos. Cedo, de joelho velei meus amores... colhi flores em cemitérios e me vesti de um luto que parecia nunca ter fim.

E agora, que é que faço com os vivos? Que é que faço desse gole no fundo do copo, esse gole tão pouco e tão morno, amargando a ponta da língua e do lençol?

Senhor, que levou meus mortos, que é que faço com meus vivos? Se não posso enterrá-los, se não posso chorar em seus túmulos, se não posso lembrá-los sem a dúvida, essa dúvida maldita, esse desafio do não que não é o da morte. Esse não de amor!

Quisera eu que o amor morresse todo. Tudo. É que o danado é como vidro que se espatifa no chão e você, urgente, limpa com cuidado – um receio calculado de se ferir. Recolhe tudo, impaciente. Joga no lixo como se vomitasse os próprios sonhos.

E meses depois encontra um caco. Um caco esquecido, atrás daquele móvel pesado. E é justo esse caco que rompe a pele, a carne, o sorriso. E quem é que estanca o sangue do amor?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Moedas, sorrisos e soluços

Eu, que só trabalho com achados e perdidos, de repente me achei. Estranha. Mais alta, talvez. De cima pude ver o que antes não. E disse sim. Não um comum. Um sim sôfrego, de boca cheia. De coração vazio.

Então a vida me levou e dançamos. Dançamos um dentro do outro – até que não havia mais nada. Nem ninguém. E já quando não havia mais ninguém, alguém gritou. Depois, soluços. Dos mais tristes. Daqueles de quem ama e não é amado. Daqueles de quem se arrepende. De quem distribuiu tantos erros e mágoas que se desespera. E acha que o mundo, em resposta, só pode magoá-lo também.

Eu cá, com a vida nos lábios. Sorriso nos pés, girando. Em par... Em paz.

Mas soube que desse meu delírio a dois, fez-se a desculpa para alguém chorar. Tanto. E eu, que não tenho culpa de ser assim: eu mesma – calei. Esperei o tombo no final da ladeira. E o tombo não veio. Veio o Sol e era o mais brilhante. Era um abraço apertado e um colo cheio de privilégios. Meus. E era tão forte que minha pressão baixou. Ah, a vertigem dos amantes que não têm pressa. Do prazer de desfalecer nos braços que escondem sua força. Aquela força, que conhecera antes. Escondida entre olhares. Embaixo da aba do boné, todos os segredos guardados ofereciam-se em deliciosas (e cuidadosas) doses.

Mas é que ainda se ouvia o choro. E aquele desespero tinha o meu nome. Logo eu, que não passo de testemunha apaixonada e oblíqua. E bêbada. De repente, serial-killer dos desamores.

Eu tento. Explico. Olho nos olhos e não peço perdão (que o perdão não existe). Existe a minha verdade, que ofereço em troca de alguns goles de compreensão. E os meus beijos são só beijos. Não maqueiam requintes de crueldade. Não tenho moedas pra trocar – que já não guardo (nem dinheiro nem emoções). Meus afetos, valem mais.

Um sorriso ou um soluço?
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PS: Acredite. Em mim. Nas minhas intenções, nas minhas escolhas. Não chore (vc fica feia quando chora – parece a Heleninha falando, mas sou eu). E é ainda mais triste, quando diz que a culpa é minha. Ou que é dele. Amiga, amiga, amiga... somos todos culpados, principalmente pelos nossos sorrisos. Ainda bem.
Amo você, sua bobona.

domingo, 18 de abril de 2010

II

Ele sabia que era impossível. Mas a desejava em seus braços, mais uma vez. E era disso que eram feitos seus segredos: mais uma vez. Em anos, em vezes, em meses. Era impossível mas era doce esperá-la, ainda que não viesse, como na última semana quando de surpresa, a ausência. Arrumou a casa, preparou o jantar. Escolheu o vinho e cuidou para que as velas estivessem cada uma em seu lugar, como se orquestrasse estrelas em seu próprio céu. O céu que daria de presente à ela.

Enfim, abriu a porta e os lábios grossos num sorriso:

- Já faz um ano.
- Um pouco mais.
- Por que demorou tanto?
- É que me apaixonei...

Então a abraçou, como se pudesse perdoá-la por enamorar-se (ensandecida), entre perfumes e mentiras. E voltar.

- Está ainda mais bonita.
- E envelhecida.
- Prefiro assim.
- E eu prefiro você.

A noite era um vento que soprava alívio àqueles corpos queimados de saudade e exaltação. Era a saia do vento, rodando entre o céu e o mar. O amor cigano, o silêncio em festa. E tudo, finalmente, em seu devido lugar.

Ela acordou duas horas antes do despertador e nunca saberia se o alarme do relógio realmente a despertaria. Nunca saberia. Mas já não precisava de bússolas nem fuso-horário, nem números, nem palavras. Mais um beijo. Um banho onde percebeu cada detalhe do seu corpo (tão) explícito. O café-da-manhã que ele preparou enquanto cantarolava aquela febre de serem dois. Dois. Um no outro, mais uma vez (aquela). Tantos anos de espaços, encontros, silêncios. E ainda eram... dois.

Felizes, sorriram(-se). E não era amor. Era água na boca. Água de riacho nascente, inundando o mundo, matando a sede da terra, das flores, das almas sacrificadas nos desertos de concreto.

Ela voltou à sua cidade, suas paredes e confusões. E sempre que o vento brinca com seus cabelos, sorri. É ele, beijando suas memórias impossíveis...
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Eis a música cantarolada (na cozinha, no carro, e na minha cabeça o resto do dia)...

Verdade Chinesa
(Emílio Santiago)
Composição: Carlos Colla/Gilson

Era só isso
Que eu queria da vida
Uma cerveja
Uma ilusão atrevida
Que me dissesse
Uma verdade chinesa
Com uma intenção
De um beijo doce na boca...

A tarde cai
Noite levanta a magia
Quem sabe a gente
Vai se ver outro dia
Quem sabe o sonho
Vai ficar na conversa
Quem sabe até a vida
Pague essa promessa...

Muita coisa a gente faz
Seguindo o caminho
Que o mundo traçou
Seguindo a cartilha
Que alguém ensinou
Seguindo a receita
Da vida normal...

Mas o que é
Vida afinal?
Será que é fazer
O que o mestre mandou?
É comer o pão
Que o diabo amassou?
Perdendo da vida
O que tem de melhor...

Senta, se acomoda
À vontade, tá em casa
Toma um copo, dá um tempo
Que a tristeza vai passar
Deixa, prá amanhã
Tem muito tempo
O que vale
É o sentimento
E o amor que a gente
Tem no coração...
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PS (da série “desnecessários”): Meu pai já ouvia essa música desde a minha infância. Eu, pequena, nunca entendi o que o compositor queria dizer com “verdade chinesa”. Hoje, pequena ainda – com um pouco mais de açúcar e poesia, desconfio do fato de que na língua chinesa existem duas palavras p/ significar “verdade”. Zhen-shi e zhen-li. A primeira refere-se às verdades mais palpáveis, práticas, concretas. A segunda trata de uma verdade quase religiosa: eterna, absoluta.
Acho bonito isso... DUAS verdades. E ainda assim, tanta gente prefere mentir... será que é culpa da nossa “única” verdade ocidental?

E se podemos ser “dois”, por que não podem ser duas – as verdades?

Ai, também quero da vida um beijo doce e uma verdade chinesa. E vocês?

terça-feira, 30 de março de 2010

Marejando...

Mar alto, onde oscilam e cintilam os azuis. O Sol, avesso. E sofro - que afinal, a luz também cega. Ele, lá. Na praia. Desfilando sua poesia nua.

Assisto-o tomar as palavras e deitá-las, seduzidas. Todas. Entregues como se noivas daquele homem, ansiosas por uma noite (um verso!) que possa finalmente, significá-las. E ele, desposando-as ali mesmo, na areia. As estrelas, em seu tímido brilho póstumo, se calam. Tudo o que se ouve, são sussurros. Das donzelas-palavras que, pela primeira vez - nas mãos dele, têm o seu lugar. E véu.

Assim, à deriva ainda, me distraio. Gozo de um feitiço que não é meu. Enquanto ele... se exalta no baile nupcial. Soluça amor e música. Temeroso e muito, de um dia não resistir à sede. De um dia, ser queimado pelas águas daquele mar – que já conhece. Ele sabe. Sabe contar das emoções e seu segredo é fingir que não os conhece (os segredos).

Ah, meu poeta. Redoma que nos sirva? O céu. Ele, que beija os seus lábios na praia e os meus – quilômetros mar à dentro. E doura de luz e de lua a nossa pele, ainda que falte a nau. Ainda que num sonho, o cais. O cais, que não há.

Se cais? Não sei (que já não tenho certezas). Mas se caio, é que num dia amanheço norte e noutro, sul. Num dia sou o poema sem a última estrofe. Noutro experimento algum deboche, sem classe, sem crases. É que assim sobrevivo aos nós. Assim, fantasio a minha dor.

Ele lá: em terra, lamentando o vôo distante do pássaro fugidio. Guardando com pena, uma pena (colorida e só). Eu cá: água e sal, velando a morte das sementes que já não posso plantar. Guardando da fruta, a fome.

Nós (e nós) afins. A fins de fim.
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PS: Eu sei. Vírgulas demais. Sempre. Mas agora, divido-as com você, que quase não tem vírgulas. Que poetiza a vida assim, num sopro. Obrigada (obrigada bem marejado).

E a música... claro. Aquela. Meu presente (meu pedido). E se fechar os olhos agora, me divido entre a sua voz e a da Nana Caymmi:

RESPOSTA AO TEMPO
Composição: Aldir Blanc/Cristovão Bastos

Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Pra ter argumento

Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei

Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo
Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei

E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos

Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto
E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer

domingo, 21 de março de 2010

Chica da Silva

Sou negra, cafuza, brasileira. Intrinsecamente, absolutamente negra. E 122 anos depois da Lei Áurea, pergunto: o que é que se aboliu naquele treze de maio, se o preconceito e as privações sociais continuam assombrando os nossos dias?

Se a princesa Izabel tivesse poderes sobrenaturais, ainda assim não teria conseguido devolver aos homens o seu direto de SER. E ficou conhecida como “A redentora”. Mal sabia que a redenção, de fato, nunca viria. Nunca. Talvez em outro planeta. Em outro milênio. Em outra sociedade. Porque na minha, o que se vê (e o que muitas vezes se esconde) é a perpetuação das distinções.

O tronco, os navios negreiros, os quilombos... apenas mudaram de tempo e de lugar. A escravidão se modernizou. Ganhou requintes e legalidade. E num país de caboclos, cafuzos, mulatos e mamelucos, os negros e os índios ainda são negligenciados. Ainda são velados – como mortos-vivos. Ainda estão à margem de tudo o que se considera ideal e cívico.

Mas é claro, devo admitir. Houve um progresso. Hoje eu consigo comprar uma meia-calça cor da pele que tem realmente a cor da minha pele. E isso vale pra maquiagem, desodorante, cremes, xampus, roupas e até baladas que foram feitas sob medida para a minha negritude. Peraí. Não é evolução, nem redenção. É marketing. É toda uma indústria preocupada em aproveitar o potencial de consumo de um nicho que significa mais de 50% da população brasileira.

Calma. Vou tentar de novo. Temos Obama – presidente do planeta. Temos Thaís Araújo protagonizando a novela das oito num canal que dita as regras no país. Hummm... a coisa está mudando? Não. No aniversário de Yemanjá, em fevereiro, todos os jornais, homenagens e notícias mostravam a imagem de uma branca. E eu pergunto: cadê a Yemanjá africana, negra, original? Quando é que vamos admitir e corrigir o sincretismo que obrigou os escravos a associar seus orixás aos santos da igreja católica – se quisessem continuar com a sua fé, tinham que disfarçá-la. E foi assim que Yemanjá embranqueceu. Foi assim que minha Iansã virou Santa Bárbara, Ogum virou São Jorge e Michael Jackson virou o caso mais bizarro que eu conheço de negação à afrodescendência.

Michael e Yemanjá, brancos e populares. Mas, todo mundo diz que não. Não tenho preconceito, não tenho piedade, sou da paz. A neutralidade me enoja. Uma vez me apaixonei por um cara que tentava amenizar a diferença ouvindo Racionais e Bezerra da Silva. Desfilava comigo por aí, como se dissesse “tá vendo: sou bem resolvido e valorizo a miscigenação”. Até que um dia me disse, na cara: “Não sei. Enquanto éramos amigos, tudo bem. Mas nunca pensei que me apaixonaria assim, por alguém mais escuro que eu”. Terminei e agradeci aquela sinceridade. Fiquei feliz em saber que é preciso muita coragem pra falar ESSA verdade. Agradeço até hoje. E temo quantos quiseram dizer, mas preferiram justificar de outra forma a covardia.

E até hoje, me incomoda quando me chamam de “morena”. É como se quisessem me sincretizar. É como se quisessem “amenizar” a minha identidade. Daqui a pouco, me colocam numa prateleira – morena clara do cabelo liso, ao lado de Yemanjá. E eu tô mais pra Chica da Silva.

Ah, sou neguinha. Das piores. Das misturadas com índio. Das marcadas pela omissão da história. Das que têm preto veio e maracá... Dona Cafuza.
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PS: 21 de Março - DIA MUNDIAL CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Massacre de Sharpeville
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Sharpeville)

No dia 21 de Março de 1960, ocorreu na cidade de Sharpeville, na província de Gauteng, na África do Sul, um protesto, realizado pelo Congresso Pan-Africano (PAC). O protesto pregava contra a Lei do Passe, que obrigava os negros da África do Sul a usarem uma caderneta onde estava escrito onde eles podiam ir.

Cerca de cinco mil manifestantes reuniram-se em Sharpeville, uma cidade negra nos arredores de Johannesburg, e marcharam calmamente, num protesto pacífico. A polícia sul-africana conteve o protesto com rajadas de metralhadora. Morreram 69 pessoas, e cerca de 180 ficaram feridas.

Após esse dia, a opinião pública mundial focou sua atenção pela primeira vez na questão do apartheid. No dia 21 de Novembro de 1969, a ONU implementou o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, que passou a ser comemorado todo dia 21 de Março, a partir do ano seguinte.

terça-feira, 16 de março de 2010

Duotácito

Ele tem cheiro de poesia. Fecha os olhos pra cantar, enquanto os dedos beijam as cordas do violão. Ah, é quase obsceno... Vê-lo assim, ensimesmado, lambuzado de música – sem saber que é ele, a própria composição.

E a sua voz veio buscar a minha. As mãos, cheias de encantamento. Sorriu num convite àquele espetáculo. Ofereceu-me a sua canção mais triste e chorei. Chorei pela disparidade do amor. Pela sublimidade daquele encontro. Pelos segredos que trocamos, como se fossem prendas de uma intimidade ancestral.

Não ouse compreender. Não tente. E eu, que sempre li você... e que um dia, descobri que também era lida. Permita-me reconhecer que há nessa leitura, uma espécie curiosa de amor.
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PS: Meu poeta vivo preferido agora tem voz. Ganhou outros adjetivos, e mais uma fã. Orgulhosa, ansiosa. Comovida.

Lê, obrigada pela inspiração. Obrigada por confiar seu repertório, seus amigos, sua madrugada. Obrigada por entre uma cerveja e outra, recitar comigo Vinicius. E por sugerir (com emoção) que eu leia Guimarães Rosa.

Que loucura. Que loucura! Rsrsrsrs
E essas emoções não tinham nome. Então ficou assim: duotácito.

PS da Toty: É que se não fosse a senhorita, a Dona Cafuza nem teria nascido. E eu não teria essa loucura pra contar. Nem teria o Lê, nem as Gabis, a Fê - nem esse meu espelho. Você foi a parteira de todo esse sonho de poesia. E vou continuar agradecendo em todas as nossas encarnações. Amor e beijo!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Luz?

“Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido: a sombra é que vai devagar"
Marília (Linda) Gabriela (http://minhapoesiasemteunome.blogspot.com/)

Minha poesia também. Já não tem seu nome. Tem aquela sombra infernizando os meus dias. Tornando as noites impossíveis. Cheias dos nossos rascunhos, a nossa caneta. Nosso desejo de ser o que nunca fomos. Malditas noites, cheias de nós. O teu nome jogado no ar. E ainda que feche os olhos, está aqui. Do lado de dentro. Fazendo eco, sem fazer sentido. Eu sinto o cheiro da verdade, lá longe. E a verdade é imunda. A verdade fede.

É quando o amor é travesseiro frio. É acordar três da manhã e descobrir que o monstro embaixo da cama é a tua ausência. É ter certeza que nunca mais vou conseguir dormir. E duvidar de qualquer certeza que tenha se plantado um dia. O amor é um murro no estômago. É um sapo que se engole num beijo e fica ali, entalado na garganta. Nem entra nem sai. O amor é ânsia de vômito. É segredo que sangra.

O amor é veneno de matar rato. E eu, rata. Ratazana. Sem queijo, sem beijo. Sem você.
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E eis que vem a Dona Clarice Lispector me buscar:

"(...) e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. (...) Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. (...) Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. (...)"

Trechos de “Perdoando Deus”, publicado no livro “A Descoberta do Mundo”- o maravilhoso, que reúne as crônicas da Dona Clarice.
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PS: A data aí em cima não cabe. Que essas palavras não têm hora. Que quando o telefone tocou, não tive peito. Não tive estômago pra ouvir a voz dele. Que ele ainda me olha – e não diz nada. E é um nada tão brusco. É um nada que desespera a minha alma. E faz crescer a sombra. E a sombra cresce, e ainda é nada. Ainda é a ausência dele.

PS2: Gabi, querida. Sei que a sua sombra era outra. Assim como o rato da Clarice era outro. Mas é que a minha (a sombra), tem ido tão devagar que quase pára. E preciso tanto que ela saia correndo de mim...

PS da série “desnecessários”: Engraçado. Vale observar... o único jeito de matar uma sombra é trazendo luz.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

De amor

“Tenho jasmim, tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã
Ninguém vai me dizer o que sentir
E eu vou cantar uma canção pra mim”

Feliz Aniversário. Hoje, se eu cantar uma canção, será sua. Será pra dizer que você ainda é a minha irmãzinha, escondida atrás desses óculos e dessa pose brava de mulherão.

Hoje, vou cantar a sua força. Seus feitiços de Kárittis, seus sentidos que vão além dos nossos. Tão além dos nossos. Seu modo exagerado (e lindo) de amar. Seus segredos. Seu abraço que acolhe um mundo inteiro. O meu mundo inteiro, tantas vezes no seu colo, no seu jardim de jaboticabas e memórias.

Eu tenho uma irmã. Eu tenho. No peito, na vida, naquele apartamento no quarto andar. Minha irmã que tem erupções de emoção. Que tem medo da clarividência que herdou, mas que nunca (nunca!) teve medo do amor.

E são 27 anos de amor. Não é pra qualquer um. Não é pra qualquer uma. Parabéns, minha querida, por ser assim... tanto de você, em nós.


***(Cunhadinho, não fica bravo, mas a música é da Marisa Monte... rsrsrs).

Soul Parsifal
Legião Urbana
Composição: Marisa Monte e Renato Russo

Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está desperto
É sereno nosso amor e santo este lugar
Dos tempos de tristeza tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar

Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar
Da alfazema fiz um bordado
Vem, meu amor, é hora de acordar

Tenho anis
Tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção
Vivo feliz, tenho amor
Eu tenho um desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração

Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo
E depois renunciar
Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado
Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir

Tenho jasmim tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã
Ninguém vai me dizer o que sentir
E eu vou cantar uma canção pra mim
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PS: Fiquei pensando que ouvimos tanto essa música... quase uma vida inteira. A trilha sonora da nossa adolescência era Legião. E só muito depois eu soube que essa letra linda é da Marisa. Perfeito! Pra você, de aniversário. De amor.

Tenha calma... Não é fácil, eu sei. Mas é você. É você depois de tudo o que viu e sentiu. É você. Vai dar certo. A vida a escolheu. Que sorte a deles. Que sorte a minha.

PS2: Cunha... eu fiz a minha declaração de amor. Agora falta a sua... rsrsrsrs

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Bonita?

Beleza não se institui. Sente-se. Com os olhos, com o toque. Com pequenas e grandes decisões. Pode ser um privilégio dos sentidos. Pode ser sua. Ou, pode-se espalhar no vento, no tempo, nos soluços das esquinas de enchentes - de bueiros e corações entupidos. De arco-íris depois da confusão.

A beleza é só. Ela continua o desfile, ainda que o espectador esconda-se atrás da porta. Ele ainda quer. Ainda quer vê-la passar.
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A Mais Bonita
Composição: Chico Buarque

Não solidão,
Hoje não quero me retocar
Nesse salão de tristeza
Onde as outras penteiam mágoas.
Deixo que as águas invadam meu rosto,
Gosto de me ver chorar.
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar...
Bonita,
Pra que os olhos do meu bem
Não olhem mais ninguém
Quando eu me revelar
Da forma mais bonita
Pra saber como levar
Todos os desejos que ele tem
Ao me ver passar
Bonita...
Hoje eu arrasei na casa de espelhos,
E espalho os meus rostos
E finjo que finjo que finjo
Que não sei.
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PS: “E finjo que finjo que finjo que não sei...”
A música eu ganhei de presente (da minha irmã e do meu cunhado - e mais recentemente do Lê). Foram presentes diferentes, porque eram outros trechos. E eu? Eu também. Diferentes trechos.

PS da série “desnecessários”: 1ª definição de BONITO, segundo o Aurélio: 1.Que agrada aos sentidos ou ao espírito, sem ser propriamente belo.

PS dos Comentários:
Cá. Me espanta alguém buscar respostas por aqui... rsrsrs. Por aqui, o melhor e o pior de mim. Ultimamente, ando mais silenciosa. Cuidadosa com as palavras. Preferindo lê-las que escrevê-las. Antes que se apropriem de mim. Ainda assim, obrigada. Ah, vou rir uns 15 dias com a história do convite p/ o desfile das campeãs. Obrigada demais por me fazer rir.

Gabi... Menina. Ainda bem que é assim: surreal. Ainda bem que tenho você pra ler, pra contar – e pra abraçar (logo mais, na segunda-feira de manhã). E se não fosse o nome do seu blog, seria do meu: “Minha poesia já não tem seu nome...”. Brilhante. Coisa de borboleta com flor no cabelo e emoção escorrendo pelas mãos. Beijo!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Nada menos...

Hoje, eu vou dormir bem. Vou dormir minha. Faxina nas gavetas e no coração. Desfiz as malas. Um saco enorme de emoções na porta, esperando o lixeiro passar.

E não há cachorro capaz de rasgar esse saco. Não há no mundo alguém capaz de roubar a minha paz. Na minha fortaleza não tem campainhas. Na minha agenda, só os telefones necessários. Ao meu redor, só os animais que sabem sorrir e que abraçam assim, como quem ama.

Respeito é bom e eu valorizo. Sei da recíproca. Sei ser cruel. Mas hoje, sou só eu mesma. Nada mais e nada menos. Eu.

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PS:(...)
"Da veia escapa o sangue, e não me movo!?
Não... Apenas deixo a ferida aberta
Para quem sabe o possa entrar de novo. "
(SONETO IMPREVISTO – do Lê – anjomalandro.blogspot.com)

Lê, tão lindo. Me fez pensar tanto. Mexeu comigo de um jeito que saí correndo de mim mesma. E só voltei com curativos e anti-sépticos. Sem anestesia, costurei minha ferida com pontos bem fechados. Agora cuido pra não inflamar. Pesquiso cicatrizantes. Porque não quero (não posso), resisto. Nada de feridas abertas. Nada de "quem sabe o possa entrar de novo". Nada de sonetos "previstos". Das dores, só as experimentais.
Beijo!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Estrelas, brigadeiros e minissaia

A lua minguante, minguou apenas no primeiro dia. No segundo, era eu. De vermelho e minissaia. De sorriso, de bobeira. De cabelo preso pra não dar trabalho. De rabo de olho, pra não precipitar o que era natural. Quem sabe fosse, superficial.

E não era. Era eu sem respostas para as perguntas dele. Era eu, sem querer fazer sentido algum. Mas assim, sem querer, não deixei que fosse embora. Não deixei de ser eu mesma - e fui, nas vírgulas e nas entrelinhas. Até perceber que era isso, exatamente isso, que ele queria. Eu mesma – com tudo o que sobra, tudo o que falta (e tudo o que ameaça explodir em fogos, em fogo, em confusão).

Então, deixei que ele quisesse. Deixei que esperasse, até que eu não pudesse mais pensar. Até que ele viesse, sem sim nem não. Num beijo. E um céu sem lua, mas cheio de estrelas e novidades. Um céu inteiro. Cheio de segredos e poesia.

Um beijo sem precedentes, sem pretensões. Que tomou conta daqueles primeiros minutos da semana que se inicia. E que, nem sabíamos, se era o começo ou o fim.
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PS: Ah, sem PSs. Só quero concordar com a Toty. A vida é perfeita (com lua, sem lua, com cicatrizes, estrelas e brigadeiros). A vida é perfeita e vivam os dias seguintes. Tim-tim. Também amo você. Com orgulho, com saudade, com uma admiração que transcende. Sempre.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Lua Minguante

Abri aquele vinho chileno que você me deu. Acabando a garrafa, extingue-se mais um pouco do que resta de seu em mim.

A noite expulsei teu fantasma da minha alma. Vá dormir no sofá, se quiser. Ou, não durma. Vá brincar, vá chorar. Vá ver a lua.

A lua é aquela metade, brilhante, minguante, minguando. E lembrei que a metade que falta, brilha em outro hemisfério – que não o meu. E eu não vou buscar. Não vou brigar com os astros, com os anjos, com os orixás. Deixa assim, minguando.

São só mais oito dias pra chegar a Lua Nova, em pleno sábado de carnaval. Antes da quarta-feira de cinzas, terei incinerado teu nome. Todas as analogias, todos os símbolos espalhados em meu caminho. Tudo que ainda é seu, em mim.

Que Iansã me ajude. Que Oxum desista de me mostrar você. Deixem-me fechar os olhos em paz.
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... Já estive apaixonada pela interpretação da Elis Regina, depois da Mônica Salmaso (e eu mesma já tentei interpretar). Mas agora, só consigo ouvir (e ver) com a Fabiana Cozza...

Canto de Ossanha
Composição: Vinicius de Moraes / Baden Powell

O homem que diz "dou”
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "tô"
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!...

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...

Amigo sinhô
Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha
Não vá!
Que muito vai se arrepender
Pergunte pro seu Orixá
O amor só é bom se doer
Pergunte pro seu Orixá
O amor só é bom se doer...

Vai! Vai! Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Dizer!...
Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor.
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PS dos Orixás: Iansã, minha mãe. Deusa das tempestades, dos ventos e dos Eguns (espíritos). Oxum, minha madrinha. Deusa das águas doces, das lágrimas, do amor. E Ossanha (Osanyin), orixá que é 6 meses homem e 6 meses mulher. Senhor/senhora das folhas e dos segredos...

PS 2: Cada um com a sua, ou com nenhuma, fé. Quem me conhece sabe do meu ceticismo e da sua oscilação também. Minha simpatia pela umbanda é quase cultural. É coisa de neguinha cafuza, que sente a batucada no coração, como eu. É como aquele ditado espanhol: “Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem”. E esse carnaval, de lua nova em mim, promete.

PS do Lê: Ei, meu poeta. Não entendi o espanto. Não foi o primeiro PS só seu. Foi o terceiro ou quarto... rsrsrs. Sem contar que tem até texto, só seu. Eu sim, lisonjeada. Porque você que já fez tantos comentários, pela primeira vez derramou suas palavras assim... em público. Volte sempre. Venha tergiversar e me inspirar... Beijo!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Combustão

Ele disse não. Era o que tinha. Um “não” nervoso, hesitante, excitado. Mas, se era o que tinha...

Não. E foi embora como se pudesse correr das chamas. Ela era fogo e era ele quem ardia naquela lareira de nãos.

Então, correu mais. Quem sabe em casa estaria a salvo. Quem sabe as paredes brandas do seu quarto o pudessem proteger de todo aquele desejo.

Não queria pensar na pele dela. Não queria precisar. Queria concreto. Queria o controle. Queria não ser ele mesmo assim, inflamável.

Chegou em casa e ainda queimava. Tomou um banho e sonhou com ela. Não sabia o que fazer e acordou antes que pudesse experimentar.

O que sabia era que ela era fogo. E que cabia nos seus braços como ninguém. E que viria – mesmo que num sonho. Porque ela era mulher de vir.

Então sorriu de saudade – e de medo. Mas havia amanhecido e na boca, aquele gosto de “sim”.
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PS: E lá vem ele cheio de sins. E ela, mergulhada nos nãos. Depois eles invertem: ele diz não e ela diz sim. Juntos, eles se borram de confusão e projetam um “talvez”.

PS2: Kenny, eu nem te agradeci o suficiente. E nunca vou poder. Pelas palavras (as ditas e as tão bem escritas), pela presença, pela paciência, pela confiança, pelo amor. Mas é isso: amor não se agradece, amor se ama e pronto.

PS3: Eu ganhei de presente duas leitoras que tem música e poesia até nos nomes: Gabrielas. As duas escrevem. Aliás, se escrevem. E uma delas estava aqui ao lado... mas nunca havíamos nos olhado assim, de perto. E de tão perto, descobrimos uma ferida igual. E da ferida, as dores, e os caminhos que cada uma escolheu pra curar. E sinto que juntas temos algo a perceber. Nas entrelinhas que são tão cheias de nós. E nós.
E agradeço as duas. Gabis, sejam bem-vindas e muito obrigada!

PS do Lê: Difícil dizer. Difícil escrever. Então, vamos brincar? Com a música que você me deu de presente (emprestada do Chico... rsrsrs). Vamos? Você toca e eu canto, ou cantamos os dois. A mais bonita. Será que eu vou saber levar? Todos os desejos, todos os segredos, toda a poesia? Obrigada.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Rebeldia melíflua

Desci do carro e a chuva era a senhora da noite. Viúva, forte, ostensiva. Tinha algum cheiro de vingança naquela dominação, naquela abundância. A chuva era mulher traída lavando almas, prédios e ruas. Fazendo com que todos corressem mudando seus caminhos – mudando suas vidas.

Eu respeitei. Não corri. Deixei até que ela lavasse sua dor em mim. E medimos força. Medimos sonhos. Abrimos inventários de amor e distrações. Trocamos figurinhas, sem completar álbum algum.

Sentei - molhada. De uma umidade que vinha de dentro e era quase emoção mofando. Era uma cultura de microorganismos deixando rouca a minha voz. Era cinema mudo.

Pedi uma cerveja. A mais forte, que não gosto mesmo de nenhum tipo de leveza. Nenhum gosto ameno merece minha atenção. Minha atenção é cara, embora não tenha preço e percebam-se algumas concessões.

O fato é que eu estava sozinha e as meninas demorariam. O garçom me emprestou uma caneta e eu tive raiva da sua gentileza. Não gosto de pessoas gentis. Corrigindo: não gosto de pessoas comercialmente gentis.

Gosto de pessoas de verdade. Dessas que têm suas gentilezas ou dissabores remunerados pela própria vida. Gosto de reler a minha (vida) e rir. Gosto de sentir essa dúvida que muda de cor. De perceber o olhar intrigado do homem na mesa ao lado pensando: o que será que ela tanto escreve?

Se nem eu sei.

(...) Voltei. O banheiro tem um cheiro doce que contrasta com a minha acidez. E é mais um tipo de doçura comercial. Que quando o ser humano pode mesmo ser, de graça, doce... não é. E o que se vê é uma doçura institucional.

E eu mesma hoje, tão sem açúcar. Instintiva, animal – sem moral. Vou pagar a conta que ainda me resta um tanto de civilidade. Mas, a caneta não devolvo, que gostei do jeito como escorrega. Gostei do jeito como desenha minhas palavras.

Preenchendo o papel de uma maciez que amarga.
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PS: Meninas, vocês demoraram mesmo... olhem o quanto eu escrevi, no bloco onde o garçom anotava os pedidos! Rsrsrsrs. Ah, no final devolvi a caneta. Na falta de açúcar raspei o tacho de mel.

PS2: Aos que gostam de ler o amor por aqui, me perdoem. Lembro do pseudo-nome da minha ex-banda (que a minha cunhada vive repetindo e ainda ri): "É o que temos para hoje"... rsrsrsrs

sábado, 16 de janeiro de 2010

Ele Lê

O Sol invadiu aquele quarto que nem era dela. Não queria ir trabalhar. Queria viver de literatura, de música – de amor. Havia chorado. O rosto, de tão largo, parecia que eram dois. A alma parecia que era nenhuma.

Tomou um banho pra acordar a coragem. Vestiu a fantasia de aprendiz de executiva e foi. O ar condicionado do escritório lhe fazia mal. O calor lá fora, também lhe fazia mal. Queria que as pessoas desejassem um bom dia como se fossem palavras mágicas. Abracadabra. Ela precisava tanto de um bom dia...

O mundo cãoporativo latia. E ela só queria sorrir. Na caixa de entrada, eram duzentos e-mails chegando. Antes de se entregar à labuta, se permitiu uns minutos de Lado B. Quis ser um pouco dela mesma, acessando seu e-mail pessoal. E foi aí que sorriu, inteira.

Ele havia escrito. Pra ela. E era a primeira vez que aquelas palavras a tocariam com o deleite de alguma privacidade, pincelando um merecimento que ela nem conhecia. Era poesia particular. Era ele, por trás do que lera. Em suas confissões literárias, em sua cumplicidade. Derramando algum tipo de intimidade que só em versos se vê. E se Lê.

E se também a lia, era nua. Lúbrica. Grosseira. Dramática. Era lida e era toda. Não se tinha mais o que fazer.

Estava escrito. E agora, ele era um pouco dela. E ela, que era sempre um pouco dele, por hora era mais.
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PS: Lê e Lê. Respeito o seu silêncio quando lê. Mas, respeito ainda mais as suas palavras...
"Poesia pega, ô se pega. É transmissível a beijos devassos. A olhares maliciosos. Não passa na Sessão da Tarde. Poesia não é popular. É risco de vida."(http://anjomalandro.blogspot.com)

Sim, respiro você desde então. Porque a minha coleção de beijos devassos foi, finalmente, significada. Porque eu tento há anos dizer e você chega com essa malandragem angelical e diz - em poucas e certeiras palavras.

Obrigada! Por essa e por outras felicidades. É isso. Ler você é uma felicidade...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Mais alguém?

Meu amor agora é popular. Qualquer uma que quiser, pode chegar. As que não quiserem também podem. Que ele agenda. Ele espera. Ele faz um pacote de quatro dias e o pagamento pode ser em suaves prestações. O pacote inclui a champanhe e o passeio de mãos dadas pela orla.

Meu amor agora é popular. Pague meio e leve dois. Ele não tem mais nada a perder – que já perdeu o que tinha. Ele é doce. Ele canta. Mas, não sabe a diferença entre exclusividade e prioridade. Não sabe a diferença entre ser ele mesmo e ser o que inventaram dele mesmo – e o que poderia ser.

Meu amor agora é popular. Avalia contra propostas, experimenta moedas e mentiras. Acumula cunhados, cidades e etnias.

Meu amor agora é popular. Na quarta-feira tem promoção. No fim de semana, confusão. Pra qualquer uma, pra quem quiser experimentar.

Mais alguém? Mais alguém se interessa? Aproveitem! O homem que eu amo está na hora da xepa.
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PS: Ah, a popularidade me deprime. É como aquela música linda que a Roberta Sá gravou, mas que eu não quero mais porque virou tema de novela.
Aliás, qualquer dia ele (sim, ele mesmo) faz uma propaganda no intervalo da novela das oito. De tão popular.
Ainda bem que eu cheguei bem no início da feira. E fui embora antes da hora da xepa.

E a música (linda - mas estragada pela popularidade) é essa:

Mais Alguém
Roberta Sá
Composição: Moreno Veloso e Quito Ribeiro

Não sei se é certo pra você
Mas por aqui já deu pra ver
Mesmo espalhados ao redor
Meus passos seguem um rumo só.

E num hotel lá no Japão
Vi o amor vencer o tédio
Por isso a hora é de vibrar
Mais um romance tem remédio

Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha.

O amor é um descanso
Quando a gente quer ir lá
Não há perigo no mundo
Que te impeça de chegar.

Caminhando sem receio
Vou brincar no seu jardim
De virada desço o queixo
E rio amarelo.

Agora é hora de vibrar
Mais um romance tem remédio
Vou viajar lá longe tem
O coração de mais alguém.

Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Gotículas

Fui me buscar. Estava lá, como a criança que os pais esqueceram na porta da escola. Quase chorando. Quase morrendo. Com um medo danado de não resistir. E de não existir.

Me levei pra passear. De presente, dois livros novos da Clarice e um vestido. Que a minha alma inteira queria se vestir de alguma novidade. Uma que fosse só inspiração e páginas em branco.

Lembrei que era aniversário dele. Entre ligar e não ligar, liguei. E rimos. Contamos. Brincamos de pega-pega com tudo o que havíamos sentido - antes.

Mas, hoje era depois. Eu era depois. E de repente, precisava saber o que seria daquele abraço, aquele que ficou guardado, amargo.

Cheguei e pressenti a dúvida. Ouvi alguém dizer que eu era o presente dele. Não era. Eu era o passado. Eu era o futuro que não veio. As gotículas de confusão, que ele beijou.

E ele quis morar em mim. Quis que eu ficasse, que eu entendesse, que o perdoasse (que ele mesmo não era capaz). Mas o cheiro dele mudou. Ou fui eu que mudei. Ou foi ele – que irremediavelmente me perdeu.

Ah, não sei. Aquele beijo riu das nossas certezas. Era a própria contemplação do susto. O desejo assustado que sobrevive aos desencontros. Um desejo que duvida de si mesmo. Eu, duvidando de nós dois.

Sem mais nem menos, era isso. Eu voltando a ser minha. Sem paciência. Sem música. Sem paixão.
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PS: Tenha cuidado. Não quero machucar a saudade que sentiu e o trono que me deu. Te ofereço as minhas verdades e elas são pontiagudas. Elas sangram. E por hora, meus beijos são mornos e sem dias seguintes. Dias seguintes não me comovem mais. Meu coração está longe. Cheio de pontos, pontes e interrogações. As gotículas de suor no meu nariz são as mesmas. Mas eu... nunca mais fui aquela. Nunca mais fui a mesma.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Achados e perdidos

O que sinto não tem nome. Quisera também não tivesse dono e fosse o fel de alguma história contada – e não vivida. Mas é meu. É no meu peito e não em outro que borbulha. Na minha fé que se derrama esse licor acidulado. Essas palavras não ditas. Malditas.

Malditas as 25 declarações da Dona Cafuza, que me emprestou a realeza e a poesia pra dizer de você. Malditas as duas vezes que a Dona Alessandra disse, pessoalmente e só.

Agora, uma culpa a outra. E eu, culpo você.

Por ser assim, tão capaz de desconsiderar. Por ser capaz de não dizer. E ainda pedir que outros também não digam, fiéis a você e ao seu mundo de papel.

Aprendeu a mentir. Direitinho. Parabéns. O que vai fazer com tudo isso agora? O que vai fazer com nada disso, que ficou?

Eu vou tomar um banho de sol e estarei pronta antes que o outro dia amanheça. E você?

Você, tem os amigos e os amores que merece. De sobremesa, um gole de hipocrisia e uma fatia de bolo de maracujá. Pra acalmá-lo de si mesmo e do que falta. A cobertura é de mentira e a cereja é de chuchu. Nada cairia tão bem. Nada mereceria tanto.

Cuidado pra não engordar. De tristeza e da coleção de nãos.
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PS: Pronto. Saldo final: Você ganhou meu amor e desamor, 26 crônicas, 2 declarações reais e algumas dívidas com a natureza. Porque, aqui se faz e aqui se paga. Aqui também se vive. E eu... algumas noites frustradas de sono e alguns sonhos (quase pesadelos) a mais. E, infelizmente, ainda perdi a confiança e o respeito por alguém que estava entre meus mais importantes amigos.

No mais, a verdade tem gosto de fel: o homem que eu amo nem existe. Se nem existe, não demora a se desfazer a personagem que eu mesma construí. Aguardem as cenas dos próximos capítulos.

"Escrevo-te em desordem, bem sei. Mas é como vivo. Eu só trabalho com achados e perdidos." (Clarice Lispector)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Desejo

Que 2010 seja pouco. Que sejam dias novos de velhos sonhos. Que sejam as horas mais essenciais das nossas vidas. E que sejam todas.

Todas as nossas horas de emoções imundas e humanas. É que cansei de endossar o coro dos que vivem lavando a alma (especialmente as mulheres... os homens são mais práticos e mais relaxados até na criticidade emocional). É hora de se sujar! Viva o amor obsceno, vivam as verdades declaradas e todas as suas complicações.

Amor é lama. É a mistura da terra com a água, do bem e do mal, do sim e do não. E que 2010 seja pouco pra limpar. E que as nossas barracas resistam à chuva e aos vendavais. Que o nosso cantil esteja cheio. E o coração... ah, o coração. Desejo saúde às nossas artérias. Que elas possam livremente conduzir o sangue a todas as partes do nosso corpo. E que não falte fôlego às nossas almas nem tinta nos nossos pincéis.

Que brotem no mundo amores como o da Fá Fioretti e do Shira, da Gih e do Dimas, da Vivi e do Marcelinho. Desses amores que não têm hora nem razão.

Esses, que significam as palavras e subestimam todas as previsões.

Aliás, que seja um ano sem previsões. Que horóscopos e oráculos virem piada. E que o mundo inteiro viva uma epidemia de emoções. Dessas que não deixam ninguém de pé.

Ninguém.

E que 2010 seja pouco, pra tanto.
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PS: Inspirem-se no amor da Fá Fioretti: http://devoradoradehistorias.blogspot.com/2009/12/o-homem-que-eu-amo.html

É o meu melhor exemplo de desejo para 2010. Amores reais, pessoas reais, felicidade real.

Mais amor e menos planos. Menos BBBs e mais bebês. Mais abraços e menos dinheiro guardado. Mais de mim, mais de nós, mais do mundo.

PS2: Toty, uma das melhores emoções de 2009 foi o nosso encontro. Que 2010 traga outros. E que sejam dias cheios de poesia e confusão... rsrsrsrs. Que é disso que vivemos. É disso que vivem e sonham as nossas palavras. Também amo você. E amo mais ainda o privilégio da recíproca. É uma honra tê-la em minha vida. Sempre.

PS3: Lê, meu poeta vivo preferido. Não sei se me lê. Eu teria vergonha até, que minhas palavras são crianças perto das suas. Não sei quem é. Mas sei da sua poesia me comovendo, me inspirando, me fazendo rir. Obrigada por atender à minha súplica. Oconjuntorto é uma pérola. Só mesmo a malandragem de um anjo seria capaz de tanto - e mais.

Eu recomendo. Leiam o Lê (o link está aí ao lado).