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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Eu gosto! E vocês?

Minha sobrinha tem quatro anos. Depois do almoço de domingo, me disse: “Tia, vou te contar um segredo”. Já que era um segredo, abaixei pra que ela alcançasse meu ouvido: “Tem um menino na minha escola. Ele se chama Maurício”. E abriu um sorriso que revelou o resto. Mesmo assim, perguntei se ela gostava dele. Ao que ouvi: “Gosto, tia”. E lá vou eu, tia bobona. Quis saber como ele é. E a pequena me respondeu: “Ele é escuro. Bem escuro”.

Ai, que linda... Depois que me recuperei da graça, raciocinei. É assim mesmo, querida. Gostamos deles porque são escuros, claros, coloridos, doces ou sem sal. Porque são lindos ou caolhos, palhaços ou tímidos, sensíveis ou machistas. Gostamos porque são incríveis e gostamos mais ainda quando são imbecis.

A verdade é que gostamos de gostar. E não há mesmo nenhuma diferença entre as mulheres de quatro e as de trinta anos.

Por outro lado, conheço homens de trinta que se relacionam como se tivessem quatro.

Então, estamos quites.
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PS1: Querida irmã e querido cunhado, demorem uns anos p/ contar p/ a Tatá que eu publiquei o seu segredo no blog... rsrsrsrs

PS2: Tinha cinco ou seis anos quando aconteceu o primeiro namorado. Estávamos na pré-escola e eu, que nunca tive muitas habilidades manuais, não conseguia cumprir a missão da aula: fazer uma pipa. Daí, o pestinha da sala me disse: “eu faço pra você, se namorar comigo”. Que abuso!!!! Rsrsrsrs
Passei o resto da aula tentando. Mas, não teve jeito. Aceitei a proposta daquele menino danado e namorar consistia em passear de mãos dadas na hora do recreio.
Até hoje não sei fazer pipas e ainda preciso de ajuda pra escolher o vinho. No resto, me viro bem.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O Querer

Quando o ano novo chegou, estávamos juntos. Na mesma roda de abraços, lembranças e promessas. Tínhamos em comum os amigos, a garrafa de champanhe e o mar. Você estava com ela - e eu com ele. Tudo bem. Eu ainda não sabia do teu beijo que devora.

Não conhecia os teus acordes e não sabia com que naturalidade cantaria no palco dos teus olhos. Aliás, até pensei que fosse (só) isso: uma incrível cumplicidade musical. Naquela noite, por opção, eu estava distraída. Mas os teus dedos passeando nas cordas do violão, o teu olhar em mim e o teu sorriso de braço dado com a minha voz... ah, pura provocação.

A música acabou e voltei à minha distração. No final da noite, você dançava sozinho e eu queria dormir, sentada num canto esperando que alguém sugerisse que fôssemos embora. Quando me dei conta, já estava dentro dos teus braços, dançando como se conhecesse o teu corpo com intimidade. Como se aquele não fosse o nosso primeiro beijo. E a música vinha de dentro de nós.

Eu sei, teríamos ficado ali a noite inteira. A vida inteira. Horas e horas experimentando a violência doce dos teus beijos. Os nossos. Os primeiros.

Mas, eu precisava ir embora. Precisava porque às vezes gosto de duvidar dessa alquimia que transforma duplas em casais. Gosto de desafiar o acaso e essa coisa toda que acontece quando o beijo não cabe na boca e envolve o corpo inteiro. Sabe? Quando até as pernas se beijam.

Deixei a noite ir com você. Guardei meu desejo e meu repertório pra outro dia, se houvesse outro dia.
Mas não tive nem um fim de semana inteiro pra raciocinar. Na noite seguinte, lá estava eu: eram quatro milhões de pessoas nas ruas e de repente, você. De repente, nós.

E entendemos que aquele encontro era um presente para ser desembrulhado ali mesmo. Rasgamos juntos a embalagem e os pudores.

Doze horas e milhões de beijos. Acordamos atrasados. Show dos Novos Baianos pra intensificar o que já era fundo.

Mas, preciso te pedir uma coisa. Logo eu, que tenho tanta urgência... quero que tenha calma. Espere a cola secar. Acabei de recolher meus caquinhos do chão e se me beijar com essa força novamente, vou esfarelar.

Me deixe só. Só o suficiente pra respirar, que me falta o fôlego. E saiba que tem que estar de volta antes de a música acabar. Se quiser ficar...

Queira. Fique.

Feliz Ano Novo!
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PS1: Alê, meu querido... fique tranquilo. O firewall do meu sistema estava desatualizado... rsrsrsrs.

PS2: Lelê, mais um texto que eu não teria terminado se não fosse vc, seu coração e as nossas conversas. Ele é lindo, né? Aliás, os dois são lindos. Mas tem que ser mais que isso... rsrsrsrs. Tem que ligar quando diz que vai ligar. E tem que dar frio na barriga do começo ao fim (ai, será que alguém já morreu de frio na barriga?).

PS3: Toty. Toty. Toty. Sei que quanto mais velho, o whisky fica melhor... rsrsrsrs. Mas quero teu abraço de verdade!!! Já que tuas palavras me abraçaram e me comoveram tantas vezes... Ler vc emociona, cura, inspira. Aliás, o Dona Cafuza é efeito colateral do totynix... Vc sabe disso, né? rsrsrsrs.

PS4: Dadá... obrigada pelos teus olhos e o teu coração sobre as minhas palavras. Hoje, descrevendo as minhas emoções lembrei da tua história. O dia em que você dançou com aquele homem que beijou seus dedos com os dele. Aquilo foi um beijo. Lindo. E queria muito ler essa e as outras aventuras da alma com todos os detalhes que vc guarda. Não guarde não! Nos dê de presente... Beijos!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Vestígios

Há dez anos você me surpreendeu com uma poesia dessas de final de tarde. Dessas, de quem ama todo dia mais. De quem espera no portão alguém que já é seu. E emociona, anoitece e amanhece - e acorda com a felicidade na boca. O título era “Vestígios”, que agora eu empresto pra contar de nós.

E era tudo o que eu amava em você. Aquele sorriso torto, aquela força delicada. Aquele desejo que, com o tempo, era quase devoção.
A paciência incrível ao me assistir, ao me esperar. A pressa em experimentar todos os dias a mulher que você ajudou a construir.

E não importava onde eu estava, se me atrasava ou se chegava com um buquê de confusões. Você me tomava nos braços e me amava. Com fome, com fé, com perdão.

Eu abusava dos teus carinhos, dos teus cuidados, do teu braço forte e do teu coração. Mas era toda sua em minhas meninices. E a minha força ingênua te salvava do mundo e de si mesmo. Um dia você me olhou e percebeu que algo havia mudado. Passou dias intrigado e não conseguia entender. Até que disse, já com a naturalidade e a ternura de um pai: você está grávida.

Eu ri e respondi que você estava ficando louco. Que era quase impossível. E que, mesmo que fosse verdade, você não saberia assim, por pura intuição. Disse que meu jeito estava diferente e que o meu corpo também. Eu ri mais um pouco e você insistiu. Me fez prometer que iria marcar uma consulta.

Prometi, mas não tinha motivos pra me preocupar. Só marquei a consulta depois que você me cobrou mais umas três vezes.

E uma semana depois, estava lá. Trêmula. Com o resultado nas mãos e uma esperança no ventre. Chorava de medo, de deslumbre, de amor. De um amor que eu nunca vou conseguir explicar. E nunca entendi como é que você havia percebido e eu, não.

Eu tinha 18 e você 23. Foi há tanto tempo. Como diria minha sobrinha, “foi depois de ontem”. Beeem depois de ontem.

Eu sabia que estaria ao meu lado e que seria um pai incrível. Mas a verdade é que eu achei que podia enfrentar o mundo - todas as reações contrárias, as surpresas e as reprovações.

E uma das reprovações não estava nos nossos planos. Alguém apareceu, como se fosse a própria maldição. Como se fosse um demônio no meu jardim de anjos. E suas palavras tinham o poder da maldade, do desamor, do desengano. Abriu-se uma ferida em mim. E sangrou tanto. Sangrou até o nosso sonho morrer, numa madrugada de dor desumana.

Ah, eu nunca mais seria a mesma. Sempre faltaria um pedaço, uma luz, uma esperança. Depois disso, você queria casar e eu só queria esquecer.

Fui me afastando de você até não poder voltar. Até ter notícias raras – e rasas sobre a tua vida. Até te encontrar, anos depois, fria. E recusar, pela segunda vez, o teu mais lindo pedido de casamento.

Meu amor, me perdoe. Me perdoe por não ter sido a tua mulher. Me perdoe por ter perdido o nosso filho e por ter despeçado a minha alma, que era sua também.

Me perdoe por não poder te tocar. Por não entender o que você diz e o que você quer. Me perdoe por eu ter investido tantos anos em técnicas pra esquecer o que sou. Entenda, ninguém vai tomar o seu lugar. Nem o meu.

Não somos o resto de uma história. Não somos sobreviventes.

Você foi o homem mais incrível que eu amei. E obrigada por também ter me amado tanto.

Fique em paz, que eu prometo me cuidar. Que eu... vou ficar bem.
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PS1: Lelê, o que dizer p/ vc? Vc, que me socorre, que escuta meu coração e me mostra o seu, que me lembra que tem coisas que só eu posso fazer. Ah, Lelê... se eu estou na trilha sonora da sua vida, vc está na minha vida inteira. Amo você, cabecinha-gorda-da-estrela-versão japa... rsrsrsrsrs

PS2: A Lelê é minha amiga-irmã. Mas eu também tenho o privilégio de ter uma irmã-amiga. Tia Rosi, você é uma mulher incrível. Mas p/ abraçar o mundo sem se machucar (tanto), é preciso manter a calma. O problema é que p/ “manter”, é preciso ter alguma... (isso vale p/ nós duas... rsrsrs). Também amo você. E sei que, assim como a Lelê, já fazia tempo que vc esperava eu colocar p/ fora os “vestígios” do texto de hoje...

PS3: Ufa!

PS4: Totyyyyyyy... guardei a garrafa de whisky p/ dividir com vc. Naquele dia, antes mesmo do seu comentário, quase te liguei. Senti falta das conversas que ainda nem tivemos.

sábado, 9 de maio de 2009

Anosmia

Essa lágrima no espelho é sua. Já que quase nada é seu. Já que você não me disse a verdade e eu não te mostrei onde dói.

Sei agora. E é tarde. É tão tarde que amanheceu. O dia trouxe uma nova oportunidade que não quero. Queria apagar esse dia. Queria mudar de país. Queria ser outro alguém que não conhecesse teu cheiro. Queria uma página em branco e uma garrafa de whisky.

E trocaria todos os meus sentidos por uma dose de alívio. Pra não sentir você, nunca mais. E nunca tão menos.


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“Ainda era cedo para acender as lâmpadas, o que pelo menos precipitaria uma noite. A noite que não vinha, não vinha, não vinha, que era impossível. E o seu amor que agora era impossível – que era seco como a febre de quem não transpira, era amor sem ópio nem morfina. E “eu te amo” era uma farpa que não se podia tirar com uma pinça. Farpa incrustada na parte mais grossa na sola do pé.
(...) Não havia senão faltas e ausências. E nem ao menos a vontade. Só farpas sem pontas salientes por onde serem pinçadas e extirpadas.”

Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo (trecho de “Calor Humano”, de 1968).

terça-feira, 5 de maio de 2009

De alma, mala e cuia

Vou explicar. Não que eu devesse, nem que você merecesse. Mas se mesmo o amor não é questão de merecimento, que dirá o desamor.

É só que não quero mais. E se um dia eu quis, foi por pura criatividade – vã. Essa mania de achar que sentir é o suficiente. É que o desejo não é um vírus que se espalhe, nem herança que se aproprie. O desejo é ser. E eu sou tanto...

Não tenho tempo, menino. Não tenho dúvidas. O que tenho é um mundo inteiro para desvendar. Enquanto você entra na água com a ponta dos pés e se preocupa em proteger os cabelos. Você de touca, e eu de alma, mala e cuia.

Me poupe dessa indecisão que eu te poupo da verdade. Recupere o fôlego. A minha intensidade dói. Abra a janela, deixa a vida entrar. Acene pra mim, que vou longe.

Sou livre, até de mim mesma.
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Pura coincidência. Só depois de escolher a música (por causa da voz da Dona Nana Caymmi), descobri que é do João Donato:

Até quem sabe

Até um dia, até talvez
Até quem sabe
Até você sem fantasia
Sem mais saudade

Agora a gente
Tão de repente
Nem mais se entende
Nem mais pretende

Seguir fingindo
Seguir seguindo
Agora vou pra onde for
Sem mais você

Sem me querer
Sem mesmo ser
Sem me entender
Vou me beber

Vou me perder
Pela cidade
Até um dia, até talvez
Até quem sabe
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PS1: Game Over. Desculpe falar da touca só agora. É que foi... surreal. E “não falar” fazia parte do meu amor-autista.

PS2: Cunha (meu cunhado preferido – não porque é o único... rsrsrs), seja bem-vindo às minhas confusões escritas, descritas e benditas. Eu tentei disfarçar, mas chorei com você ao telefone. Porque senti daqui sua emoção. É que você me conhece tanto, que achei que não faltasse mais nada. E faltava. Faltava você conhecer a Dona Cafuza. Seja bem-vindo!!!
Tô colocando mais água nesse feijão... rsrsrsrs

PS da Toty: “Acho que amo sempre. Não pra sempre”. Às vezes até me assusto quando leio vc. Pq existe alguma coisa que sempre corresponde às minhas emoções. E eu fico pensando que vc sim, conseguiu descrever. E quando escrevi esse último texto (especialmente confuso), esperava que de todos, você, fosse mesmo entender. Mas você não entendeu. Sentiu. Viveu, transcendeu... Menina, o que é isso? Rsrsrsrsrs. Beijo especial (com dose extra de admiração, de respeito, de querer-bem. De querer muito bem.).

segunda-feira, 4 de maio de 2009

PS

“Me cansei de ficar mudo, sem tentar
Sem falar
Mas não posso deixar tudo como está
Como está você?”
(“Ainda é Tempo pra Viver Feliz” dos poetas do samba Arlindo Cruz, Sombra e Sombrinha).

Bebi um pouco. Um pouco mais. E lá estava eu, na porta da tua casa, com o telefone e o coração nas mãos.

Você desceu, surpreso e lindo. Me deu um abraço tímido que me trouxe a calma de um frade, austero. A tua rua deserta era o pátio do nosso mosteiro. E como sempre, tínhamos assunto para a uma vida inteira. Pedi licença pra, depois de tanto tempo, ter novamente os seus cabelos escapando entre os meus dedos. Estremeci.

Eu era inteira um sorriso de criança sem juízo. Sem memória. Leve, como os que ainda não aprenderam a sentir culpa. E tinha alguma coisa que acabara de nascer. E quem lembraria de ir embora? Dane-se a hora. Danem-se os outros.

Vamos pecar?

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E vamos de mais samba (Cartola – Salve, Cartola!!! De onde está, pode ouvir a Fabiana Cozza interpretando a tua música?):

Sinto abalada minha calma
Embriagada minha alma
Efeitos da tua sedução
Oh! Minha romântica senhora Tentação
Não deixes que eu venha a sucumbir
neste vendaval de paixão.

Jamais pensei em minha vida,
Sentir tamanha emoção
Será que o amor por ironia,
Move esta fantasia vestida de obsessão?

A ti confesso que me apaixonei
Será uma maldição? Não sei.

Sinto abalada minha calma
Embriagada minha alma
Efeitos da tua sedução
Oh! Minha romântica senhora tentação,
Não deixes que eu venha a sucumbir,
Neste vendaval de paixão.

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PS1: Nessa noite meus dedos beijaram seus cabelos. E só quando cheguei em casa, soube que você também queria me beijar – com os lábios e talvez com a alma. E ficamos um no outro de um jeito que me comoveu.

PS2: Incrível. Esse texto foi escrito na última madrugada de abril. Estamos no quarto dia de maio, e tudo, tudo mudou. Revirou. Surpreendentemente.
Êêêêê mundão! Que venha o vendaval, destelhar minhas razões! rsrsrsrs
E eu continuo no samba... “Sinto abalada minha calmaaaaa/embriagada minha almaaa/efeitos da tua sedução(...)”

PS3: Talvez esse amor fosse um pouco autista. Por isso eu demorei tanto a perceber o mundo exterior. É difícil ouvir a sua voz, especialmente quando ela não diz o que eu desejo. E você também não entendia a minha linguagem de sinais, enquanto eu sustentava uma desconfortável mudez. Por tanto, assumo a total responsabilidade desse autismo. No mais, o fim de um amor autônomo é menos problemático. Não tem separação de bens, nem de afetos. É só abrir os olhos e olhar mais p/ fora que p/ dentro...

PS4: Alê, meu amor-amigo. Que presente ter vc de volta na minha vida. Não se preocupe não. Meu sorriso é o mesmo. Mais intenso, mais freqüente, à medida que me conheço mais. É que o blog é o meu espaço p/ virar do avesso... Um beijo enorme (e exclusivo... rsrsrs). Amo você.

PS5: Adoro PS’s. (Mesmo os desnecessários...)