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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Regurgitar

Há tempos não ouso dizer. Que não me sobra um verso, um terço, uma poeira se quer. Nenhuma paz. Nenhum tom cintilante, nem vestígios daquela canção lá de dentro. Lá de trás.

É que um de nós precisava de óculos. Na alma.

Um de nós precisava não se enganar. Que tomamos juntos um porre de covardia e a ressaca insiste em se perpetuar.

A cabeça dói. Na minha taça, a covardia era mais doce, mais tenra, mordaz. Na sua era qualquer uma. Qualquer uma que não precipitasse na boca o fel. Qualquer uma que borbulhasse, distraindo o seu próprio paladar – perplexo, temeroso, condenado à mesma dose de leite morno que a mãe (e a vida) diariamente oferecia-lhe.

Achava que era o vinho. Mas eram aquelas doses de covardia, amargurando até matá-las: as borboletas no estômago. Era o susto. Era a vida. Com medo de ser ele mesmo, foi ser outro. Mais simples. Mais confortável nos olhares alheios. Mais feliz?
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PS: Vinicius disse que o ódio era um amor exaltado, exagerado. Mas, as vezes é outra coisa. As vezes as borboletas agoniadas no estômago nos fazem vomitar.

E é por isso que hoje, conversando com a Gabi... achei tão bonito. Bem disse ela que um dia, você acorda ao lado dele e a borboleta vem livre, linda, calma... pousa na nossa cabeça, no colo, na flor.

Que assim seja. Borboletas voando. Pousando, como se beijassem o amor. Mas, nada de clausura no estômago... rsrsrsrs. Chega.

E eu, que não sei perdoar, agradeço. Viva a liberdade das almas, das bocas, das borboletas. Vivam os dias seguintes. Todos.

Ah, claro. A música:

"Obrigado (Por Ter Se Mandado)"
Cazuza
(mas eu prefiro a interpretação da Cássia Eller, que ninguém colocou tanta força na frase OBRIGADO POR ME TRAIR/ME DAR INSPIRAÇÃO/PRA EU GANHAR DINHEIROOOOOOOOOOOO...)

Obrigado
Por ter se mandado
Ter me condenado a tanta liberdade
Pelas tardes nunca foi tão tarde
Teus abraços, tuas ameaças

Obrigado
Por eu ter te amado
Com a fidelidade de um bicho amestrado
Pelas vezes que eu chorei sem vontade
Pra te impressionar, causar piedade

Pelos dias de cão, muito obrigado
Pela frase feita
Por esculhambar meu coração
Antiquado e careta
Me trair, me dar inspiração
Pra eu ganhar dinheiro

Obrigado
Por ter se mandado
Ter me acordado pra realidade
Das pessoas que eu já nem lembrava
Pareciam todas ter a tua cara

Obrigado
Por não ter voltado
Pra buscar as coisas que se acabaram
E também por não ter dito obrigado
Ter levado a ingratidão bem guardada

Pelos dias de cão, muito obrigado
Pela frase feita
Por esculhambar meu coração
Antiquado e careta
Me trair, me dar inspiração
Pra eu ganhar dinheiro
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PS2: O pior é saber que eu ganhei mesmo inspiração e dinheiro, enquanto as borboletas agonizavam no meu estômago. Parodoxo total. Capitalismo e desamor em colapso.
Mas, aprendi. ESTÔMAGO NÃO É LUGAR DE BORBOLETA...

2 comentários:

Marília Gabriela disse...

Linda.. e não é que agoniei sem o terminar a conversar...rs..

Preocupei!

E Fiquei pensando... achei que tivesse se ofendido, interpretado mal.

Mas lembrei, com mt amor e calma... numa manhã eu acordei.. fiquei olhando o rosto desfalecido , caido pela lateral esquerda.. e borboletas invadiram a casa.. pela janela.. numa manhã toda ensoladara... vi que ja estava casada...

Um amor sereno, calmo.. já perpetuado.. e não era tarde.

Acontece assim... quase sem querer
grande beijp

Cåm¡£¡ñhå disse...

Hum!

AMÉM!

Que essas borboletas no estômago, passem logo... afinal, já esta mais do que na hora, não é?

Engraçado, qndo agente começa a pensar diferente, a viver situações "água e vinho"...e o seu vinho ja deveria estar estragado rsrs... e viva as águas agora...tão transparente quanto a sinceridade que existe hoje.

Beijos!