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segunda-feira, 15 de março de 2010

Luz?

“Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido: a sombra é que vai devagar"
Marília (Linda) Gabriela (http://minhapoesiasemteunome.blogspot.com/)

Minha poesia também. Já não tem seu nome. Tem aquela sombra infernizando os meus dias. Tornando as noites impossíveis. Cheias dos nossos rascunhos, a nossa caneta. Nosso desejo de ser o que nunca fomos. Malditas noites, cheias de nós. O teu nome jogado no ar. E ainda que feche os olhos, está aqui. Do lado de dentro. Fazendo eco, sem fazer sentido. Eu sinto o cheiro da verdade, lá longe. E a verdade é imunda. A verdade fede.

É quando o amor é travesseiro frio. É acordar três da manhã e descobrir que o monstro embaixo da cama é a tua ausência. É ter certeza que nunca mais vou conseguir dormir. E duvidar de qualquer certeza que tenha se plantado um dia. O amor é um murro no estômago. É um sapo que se engole num beijo e fica ali, entalado na garganta. Nem entra nem sai. O amor é ânsia de vômito. É segredo que sangra.

O amor é veneno de matar rato. E eu, rata. Ratazana. Sem queijo, sem beijo. Sem você.
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E eis que vem a Dona Clarice Lispector me buscar:

"(...) e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. (...) Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. (...) Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. (...)"

Trechos de “Perdoando Deus”, publicado no livro “A Descoberta do Mundo”- o maravilhoso, que reúne as crônicas da Dona Clarice.
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PS: A data aí em cima não cabe. Que essas palavras não têm hora. Que quando o telefone tocou, não tive peito. Não tive estômago pra ouvir a voz dele. Que ele ainda me olha – e não diz nada. E é um nada tão brusco. É um nada que desespera a minha alma. E faz crescer a sombra. E a sombra cresce, e ainda é nada. Ainda é a ausência dele.

PS2: Gabi, querida. Sei que a sua sombra era outra. Assim como o rato da Clarice era outro. Mas é que a minha (a sombra), tem ido tão devagar que quase pára. E preciso tanto que ela saia correndo de mim...

PS da série “desnecessários”: Engraçado. Vale observar... o único jeito de matar uma sombra é trazendo luz.

4 comentários:

TOTYNIX disse...

Lindo! E vc sempre linda!!! Até o coração! Amo e admiro! beijos e luz!!!

Marília Gabriela disse...

querida Pérola Negra do meu colar..rs

Fiquei sem fala! COm seu texto.. com a sua poesia.. que é diferente da minha... mas disse noutras palavras, hoje, tudo que eu diria... rs.

E sei que quando agt escreve, o texto náo so um texto... a poesia nele não é só poesia.. Tem muito mais ali.. muito mais.. além de palavra cifrada.. de rima ou nao rima...
Agt sabe!

Pra vc uma flor hoje!! rs De coraçao pra coraçao, querida!
Porque a vida não alivia...e também to gosto de sapo amarrando a boca , sabe??
rs

Marília Gabriela disse...

óia... e não é que parece agt::

Quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
De noite,
anoiteço (...)"

(Paulo Leminski)

kisses

Alê Ferraz disse...

Que lindo, Gabi!!!

Aproveito pra complementar, pq faltou a música no texto:

O AMOR É FEIO
(Tribalistas)

O amor é feio
Tem cara de vício
Anda pela estrada
Não tem compromisso

O amor é isso
Tem cara de bicho
Por deixar meu bem
Jogado no lixo

O amor é sujo
Tem cheiro de mijo
Ele mete medo
Vou lhe tirar disso

O amor é lindo...

O amor é lindo
Faz o impossível
O amor é graça
Ele dá e passa

O amor é livre

PS: O amor é livre, Gabi. E nós?