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quinta-feira, 29 de maio de 2008

Crisântemos

Ontem tive febre. Num dos meus delírios, você me abraçou, como se quisesse ficar. A noite toda. A barba por fazer e o olhar de quem sempre esteve ali. Me entreguei como se não houvesse outro dia.

Antes de adormecer, recebi o calor dos teus lábios na minha nuca e lembrei da segurança do teu corpo forte. Teu cheiro me acalmava e já não sentia frio.

Mas acordei e ainda era tua viúva. Pensei naquele túmulo, sem lápide. Não achei as fotos e procurei manuscritos que falassem de nós. Quisera sentir. Lembra? Um laço, escrito em 31 de dezembro de 1998:

LAÇO

Temo a noite como se vigiasse um laço
que se rompe e amanhece
despertando-nos do desamor
- Frio!

Amo o segredo noturno
A espera pelo momento de amar-te

Quando a menção de teus beijos
Cala-me e quase satisfaz
Umedece o corpo ansioso
e perturba a alma, outrora sã
Enquanto livre de desejos carnais

Por hora não amanhece
Eu carne, alma e desejo
nessa corajosa loucura antropofágica

Eis nosso encontro:
Os poros, a fenda, a língua
Fogos do artifício paixão

Eis nosso desencontro:
A alma, o lúdico, a tinta
Na arte (quase) humana
De fazer bem
o mal.

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PS: Obrigada pela visita, invada meus sonhos sempre que quiser. Ainda obedeço teus braços. Minha irmã diz que não chorei tudo o que precisava. Então, escrevo.