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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Calabouço

Não era dor dessas que um ombro amigo suporta. Era de quebrar os ossos e as convicções. Era de estragar o sangue e os sonhos, envenenar a alma e o ar.

Era mesmo de soluçar, não de esquecer. De sentar sozinha na beira do mar e chorar feito criança. Cicatriz antiga, contornada de rugas e cílios brancos. De vez em quando voltava a sangrar. Todo mês. Todo mês há 15 anos.

Não que eu tenha me acostumado, nem que a menção da dor já não me fizesse estremecer. É que sobrevivi aos 5475 dias após aquele e achei que em algum momento, meu pior medo seria só mais um fantasma na coleção.

Daí o vento soprou mais forte. Sorriu da minha ingenuidade e cravou os dentes bem no coração da minha cicatriz. E dessa vez, não só o sangue jorrou. Foi a minha força. Foi a minha capacidade de levantar e seguir carregando esse ventre. Vazio.
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PS Estúpido: Não, não estou falando de você. Nem de nós. Tenho outras desgraças na vida, além das que construímos juntos. Só coincidiu que hoje, era o pior dia pra receber tua notícia. Pior dia para devolvê-la, direto do fundo do poço. Cuidado. Espero que teus santos sejam tão fortes quantos os meus. Que eles nos protejam do que eu posso fazer, e, especialmente, do que eu NÃO posso fazer.
Nem o feitiço mais bonito será capaz de me salvar do que sou. Com alguma sorte, salvarão você, mas dessa vez, os respingos de lama vão (finalmente) ferir as paredes do calabouço que protege tuas mentiras.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Caríssima

Há tempos não sinto o teu gosto. Tanto tempo, que esqueci de ser tua. Um amargo na língua me lembra você. Amargo cintilante, de quem um dia foi Sol. Tua voz me irrita, que soa permissiva, conformada. Tanta covardia entoa tuas cordas vocais que eu... eu me despeço vingativa. Propósito desumano, o meu. De arrancar-me de dentro do teu peito feito vísceras que se esparramam pelo chão. E, em algum lugar do mundo fazem sentido sendo um resto, um rastro de sangue, uma caixa esquecida onde se guardam cartas, fotos, poemas. Vestígios de um amor que nunca sequer “foi”.

Um tanto mais. Um tanto menos de nós dois que nem dói. Que nem amanhece, enfraquecido de suor e espuma.

Quase nada. Quase nojo. Um cheiro danado de mofo, que incita meus espirros e dois passos pra trás. Três. Dez. Daí, lembro que saí correndo, tão à frente. Aceno pra tua teimosa sombra, lá atrás. Lá.

Ah, chega. Que sou mulher de beijo no claro, no meio do dia. No meio da cara.
E tão cara...
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PS: Beijinho no ombro pra você que não me esquece, e sequer pode estar ao meu lado. Prepare-se que estou em outros braços, baby. E você... Você vai morder os lábios de raiva. Vai escrever crônicas sobre o desamor. E quem sabe, ganhar dinheiro com a minha ausência. Que às vezes, quando se perde, se ganha.

PS2: Sim, meninas. Tem um quê de ironia CÃOporativa no título dessa cafuzice. Caríssimas, amo vocês! E já sinto falta de quando éramos inteiras...

PS3: #partiuvida... :)