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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Licor de Cupuaçu

Com tudo, não consigo dormir. Nem prometo silenciar.
Sou o que arde. Queria era romper teus tímpanos (e teu bom senso) num sussurro.

Mostrar-te os dias que guardei em três acordes simples. Não que seja fácil me acompanhar, nem doce. Tenho na boca o azedume próprio dos cupuaçus e anseio beijos violentos. Suculentos, que posso oferecer-te o meu licor num bombom.

Mas, beba tudo. Venha todo, que o pouco não me comove.
O pouco, eu lamento (e devolvo).
Me deixa em brasa e me traga (sem tossir).
Inspira... respira. Me deixa inflar os teus pulmões e a tua alma.
Me traga. Me traga uma emoção.

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PS1: Toty... Dona Cafuza chegou em sua 13ª publicação. E poucos vão entender e sentir como vc, que é tanta alma e tanta poesia. Beijo, amiga! Obrigada!
PS2: Me traga uma emoção. Alguma que dignifique essa noite sem dormir.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ais de Outubro

Onze anos e oito dias sem você. Mudei tanto...
De lá pra cá, a vida veio numa avalanche de emoções. Mas a sua marca ficou, nas entrelinhas da minha personalidade, na gaveta que eu não gosto de mexer, mas está ali.

Ainda tenho um porta-retrato onde você sorri. Daí quase esqueço de chorar. Uma saudade que não acaba. Uma culpa, por tudo o que poderia ter sido, se...

Um “se” cheio de detalhes e negações. Mas eu só tinha 16 anos. Nem sabia dizer “sim”. E de repente, viúva-virgem com uma mala (sem alça) cheia de nãos. E haja poesia pra curar, ou pra tentar. Condenada à tua morte, em liberdade condicional.

Ah, meus outubros de tantos ais... De emoções funestas. De olhares misericordiosos e abraços sufocados de tanta compaixão... Como se não houvesse remédio. Como se eu pudesse também morrer em cada cigarro, em cada bebedeira, em cada minuto atrasada (e sufocada).

Continuo esperando o dia em que abraçar tua mãe não vai me emocionar. Não que eu renegue essa emoção. Mas é que os anos passam e a tua ausência não diminui. Só queria ser mais leve e experimentar. Apesar de tudo. Apesar de ter perdido você. Apesar de ter assistido a tua exumação. Apesar de continuar fugindo da tua carteira vazia na escola e da minha carteira de habilitação.

Meu androceu, me perdoe. Mas, cansei de ser triste. Cansei de esconder o pavor. Vou guardar o teu porta-retrato junto com a camiseta do Rush. Vou doar aquele livro que ainda tem teu cheiro.

Vou escrever o próximo capítulo sem mencionar você. Vou me apaixonar. Vou dar cambalhotas com a minha sobrinha e vê-la crescer.

Talvez, nossas páginas sejam as mais lindas e as mais densas. Mas, eu preciso voar...

Com todo amor e respeito que me cabem (ou melhor, transcendem),

Gineceu.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Segredos de Liquidificador

"As almas precisam dos corpos para se tocar”.
Lya Luft (no livro “O quarto fechado”)

Essa noite minha alma deitou sobre a tua. Naquele abraço brilhavam emoções de uma vida inteira. Nunca um silêncio tão íntimo. Nunca um desejo tão sereno, de suores, pêlos e bocas. Teus segredos de liquidificador derramados sobre a minha nudez. O vinho e o sangue brindando uma concupiscência quase espiritual.

Teus óculos, teus vestígios. Nossas pistas espalhadas pelo quarto. As roupas e as dúvidas pelo chão. Minhas loucuras acolhidas no teu colo. Tua língua rompendo o hímen da minha confusão. Um coral de sussurros e sensações.

Logo eu, que não quero o teu coração, mas o teu peito... A tua camiseta velha pra dormir, como se pudesse vestir você. Dona da tua cama de solteiro. Enamorar, antes de namorar.

De manhã, calo o despertador e acho graça do teu sono misturado aos meus sonhos. Preciso ir, mas te deixo mais um beijo... e um desejo indecente de ficar. Mais um pouco, mais de mim, mais desse nosso delírio - sem porquês, sem senões ou afins.

Bom dia!

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Carnalismo
(Tribalistas)

No rastro do seu caminhar
No ar onde você passar
O seu perfume inebriante
Pendura num instante,
A rua inteira a levitar

Me abraça e me faz calor
Segredos de liquidificador
Um ser humano é o meu amor,
De músculos, de carne e osso,
Pele e cor.
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PS1: Menino, eu que tinha medo dos meus outubros funestos, troquei os "Ais" desse mês pelos "Uis". Obrigada por abrir a porta do teu quarto... Beijo especial!
PS2: Cazuza, imenso Cazuza... Sou só mais uma a me inspirar com "Segredos de Liquidificador" e tudo o mais que vc espalhou por aí...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Sete mil e duzentos segundos

Duas horas da tarde. Alguma coisa que é sua ficou em mim. Lá dentro. Latejando. E eu não sei se é sexual, espiritual, superficial. Nem quero saber. Não preciso.

Sei do teu gosto na minha língua. A precisão da tua pegada e a minha consistência amolecendo, derretendo, se desmanchando em gozo, em febre, em desejo cíclico. Teu prazer me comove. É uma súplica à cumplicidade. Um convite à intimidade num beijo voraz.

Mas, eu queria mais. Queria que não houvesse horas, nem histórias, nem preocupações pré-concebidas – adormecidas, heranças de outras emoções. Nossos beijos despertando dragões de outros reinos. E eu, sem espada, que abandonei as armas há tempos...

Quer saber? Por você, volto pra a guerrilha, sem armadura. Tudo por mais um segundo. Por mais um centímetro dessa pele misturada. Mais um centímetro e você em mim.

Serei tua ninfa, nua. Refletida na menina (envergonhada) dos teus olhos.

Sim, sim. Posso ser teu anjo negro. Mas, não me peça... Deseje. E sem que eu perceba, me tome. De assalto, de gula. De boca cheia e coração na mão. Mesmo que pareça a contramão.

Arranque o lacre com os dentes.

Posso ser tua. Se quiser...

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PS1: Ui... rsrsrsrs
PS2: Dadá, "contramão" corrigida... Obrigada. O que seria da Dona Cafuza sem vc? rsrsrs

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O Banquete das Deusas

Houve um tempo em que você esteve à frente de qualquer um dos meus planos. Era sua, pelo avesso. Como se alguém que não se pertence pudesse mesmo oferecer ao outro algo de bom. Frutas secas.

Uma coleção de enganos. Um relicário de desejos desencontrados e proibidos. Devota emocionada, cúmplice emprestando minha fé. Vendendo meus sonhos e você... pagando em suaves prestações. O dinheiro do táxi selando uma noite de amor. Quase masturbação a dois. Vaidades que se amavam.

Não me convide. Não me ofereça o que não tem. Olhe de novo. Olhe nos olhos. Falta alguma coisa na sua prateleira de especiarias. Estou cedendo o meu lugar, vazio.

Minha mesa é farta. Suculenta. Sente-se, se for o seu apurado paladar. Prepare a língua para as mais fortes emoções, que não tenho tempo pra menos. Meus sabores são marcantes, mas a excentricidade intoxica os mais fracos enquanto sensações amadurecem (e enlouquecem).

Seja breve na sua equívoca e vaidosa lamentação. Não insista. Ainda guardo a sobremesa. Levante-se, antes que não possa viver sem a menção do doce que sequer conheceu.

Esqueça que freqüentou o meu banquete. Beba um sal de frutas.

Se ainda sentir meu gosto na boca, se ainda o meu rosto sombrear as páginas manuscritas, tente uma oferenda à Iansã (deusa dos ventos e dos mortos). Se merecer, ela sopra pra longe o teu luto.

Eu, Dona Cafuza, senhora das minhas confusões, retiro o teu prato e me despeço num abraço de paz.
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PS1: Dadá, minha amiga especial e atemporal, eu não ia mesmo publicar... Mas publico, suplico, ressignifico. E obrigada por amparar meus anseios, minhas palavras, minhas inquietações. Pra você, beijo com cobertura de chocolate e ternura, com recheio surpresa, de poesia... Axé, Deusa Dadá.

domingo, 31 de agosto de 2008

Intervalo

Ele gosta do meu jeito de andar e se lambuza com uma doçura que eu não reconheço nesse espelho turvo, há pouco esfumaçado.

E eu... gosto do seu cheiro. O cheiro que deita em mim quando me abraça. Gosto quando me olha sem querer ser visto. E quando me deseja, sem a pretensão de ser benquisto.

Gosto das suas confusões desafiando as minhas. E das suas precauções exageradas, num presente descuido de si mesmo.

Gosto de descobrí-lo num beijo. Gosto quando percebe meu corpo amolecer e toma todo o meu fôlego em suas mãos.

Gosto de assistí-lo, orquestrando meus sentidos enquanto distrai a si mesmo e aos seus fantasmas.

E eu... atenta na platéia. Vou tomar o microfone e experimentar um tom. No intervalo, posso beber você?
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PS (quase desnecessário): Definição de “INTERVALO” segundo o Mini-Aurélio: Substantivo masculino.
1.Espaço entre dois pontos ou duas coisas.
2.Espaço de tempo entre dois fatos, duas épocas.
3.Música: Distância que separa dois sons.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Una

Não se preocupe. Também tenho cacoetes na alma. Calos na personalidade, como se fosse personagem de um filme do Almodovar.

Mas são os calos que tornam a pele ainda mais resistente, embora eles apenas coroem e denunciem os nossos aspectos mais sensíveis.

É a nossa vida, moço. A história, a bagagem, a música, as cicatrizes. O beijo. Aquele beijo, roubado na cozinha, há um mês.

A verdade é que você me inspira. Me inspira a ser fiel a mim mesma e aos meus desejos. Quero te contar meus segredos. Quero que ouça as canções do meu lado B. Quero que me dedilhe. Experimente a harmonia enquanto educo meus sentidos pra te perceber (e receber).

Desejar você é um privilégio. Ter você é uma surpresa que deslumbra. E me perdoe, pois nem sempre tenho calma. A urgência foi a herança que a vida me deixou.

Um brinde à nossa primeira manhã.

Ainda que no paraíso, na Barra ou na ingênua (e diária) guerrilha pra salvar o mundo... Me dê a mão, vamos sair pra ver o Sol...
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Estrada do Sol
Composição: Dolores Duran / Tom Jobim

É de manhã, vem o Sol
Mas os pingos da chuva que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre que me traz esta canção

Quero que você me dê a mão
Vamos sair por aí, sem pensar
No que foi que sonhei
Que chorei, que sofri
Pois a nossa manhã
Já me fez esquecer
Me dê a mão vamos sair
Pra ver o sol

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Eu só quero que você saiba...

Me perdoe por ser assim. E por ter sido, tão pouco em teu jardim. Por ter escolhido errado. Por ter amado, assim torto, assim grande. Assim, bobo.
Sem cuidado. Sem remissão.

E ainda quero tanto. Seu peito, suas dores, seus sorrisos. Perto.
Mas você foi salvo. Enquanto eu... avançava os pés na brasa. Faceira. Hospitaleira. Órfã da tua presença e da tua sombra. Vou te buscar. Não tardo. Só o tempo que me arde. Que me julga inutilmente e protege o teu afago.

Abra os braços, que chego mansa. De olhos úmidos e coração maduro. Pronta pra tua mordida.

Sua.

PS: Há tanto pra dizer... Obrigada por seu amor, que não tem pretensões, nem tempo, nem regras, nem porquês. É amor e ponto. Também te amo. A saudade mais feliz que já senti...

Marisa Monte: A SUA

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais

Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem

Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você caiba
No meu colo, porque
eu te adoro cada vez mais

Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
E que eu te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

domingo, 1 de junho de 2008

Num canto

Canto
Porque não sei rezar
Meus santos são de barro
Pele, osso e vinil

Minha fé revelou-se
anarquista
Meus desejos notívagos
Vêm e vão

Então canto,
Como se nua vestisse asas
E a maciez do tom, um mel
Lambuzando jabuticabas

Dos tons mais graves
Sorriem flores
Quem sabe, do teu jardim?

Então soluço
E canto, canto
Canto.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Crisântemos

Ontem tive febre. Num dos meus delírios, você me abraçou, como se quisesse ficar. A noite toda. A barba por fazer e o olhar de quem sempre esteve ali. Me entreguei como se não houvesse outro dia.

Antes de adormecer, recebi o calor dos teus lábios na minha nuca e lembrei da segurança do teu corpo forte. Teu cheiro me acalmava e já não sentia frio.

Mas acordei e ainda era tua viúva. Pensei naquele túmulo, sem lápide. Não achei as fotos e procurei manuscritos que falassem de nós. Quisera sentir. Lembra? Um laço, escrito em 31 de dezembro de 1998:

LAÇO

Temo a noite como se vigiasse um laço
que se rompe e amanhece
despertando-nos do desamor
- Frio!

Amo o segredo noturno
A espera pelo momento de amar-te

Quando a menção de teus beijos
Cala-me e quase satisfaz
Umedece o corpo ansioso
e perturba a alma, outrora sã
Enquanto livre de desejos carnais

Por hora não amanhece
Eu carne, alma e desejo
nessa corajosa loucura antropofágica

Eis nosso encontro:
Os poros, a fenda, a língua
Fogos do artifício paixão

Eis nosso desencontro:
A alma, o lúdico, a tinta
Na arte (quase) humana
De fazer bem
o mal.

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PS: Obrigada pela visita, invada meus sonhos sempre que quiser. Ainda obedeço teus braços. Minha irmã diz que não chorei tudo o que precisava. Então, escrevo.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

(RE)VIRADA

Ah, menino. Tenho que agradecer por me envolver em teus braços e me salvar da multidão. Mas, quem virá salvar-me de mim mesma?

Não bastam tuas mãos convalescentes, abrindo os caminhos a me conduzir. Minha leveza é passageira. A pressão sanguínea oscila tanto, que desfaleço.

Noutro segundo saio em disparada, desfolhando-me por aí. Sente meu peso. Sofre o meu sorriso. É uma liberdade asfixiante.

Ouve. Pode ser sim, pode ser não. Como em todas as nossas viradas. Nos encontros lunares das noites, tão nossas. Em tão pouco. Até as estrelas fingiam esperar, guardando segredos num ballet de brilhos póstumos.

Há previsão de Sol para os próximos dias? E quantas Evas fizeram-se de tuas costelas? Quantas acordaram no teu colo, num sopro de vida doce, após tanta morte explodindo num desmaio?

Se tiveres medo, saiba que já tive.

Hoje, quero oxigênio e silêncio.

Amanhã, cantarei pra ti.

sábado, 12 de abril de 2008

MEA CULPA

Agradeço o teu perdão. Mas, quanta vaidade há nessa absolvição?
Aliás, tua vaidade continua me surpreendendo. Veio no pacote, quando me apaixonei. Não te ocorre que também preciso perdoá-lo?

Não te ocorre que meu desejo era que respondesse às minhas canções com Djavan? Existiu algum sacrifício feito em meu nome, meu amor?

Você escreveu, mas nunca publicou nossa história. Não dedicou a mim nenhum dos teus livros. Sempre negligenciou esse amor fora-da-lei.

Uma vez, em uma das nossas longas discussões sobre a monogamia ser ou não uma invenção da sociedade – por que era sempre necessário um álibi cultural para o teu comportamento vil – você disse que me amava, mas que eu só encontraria a fidelidade e cumplicidade que procurava numa mulher.

É que eu havia suposto numa ingênua loucura que em você, enfim, encontrara tudo. Com o doce acréscimo das surpresas e da poesia que me fascinavam. Mesmo nos dias em que a pedra era só uma pedra. E ironicamente, não fosse a cabeça errante do teu falo, você teria sido a minha mulher, que eu pediria em casamento e levaria ao altar.

Com sacrifícios, meu bem. E eu teria suportado o comportamento adolescente do teu pênis, que sempre achei mesmo que o sexo em si carrega menos intimidade que um beijo. Mas flagrei poesia nas tuas traições. E a poesia requer ainda mais desejo e fantasia que o encontro dos lábios.

E é por isso que me perdôo por não perdoá-lo. Mesmo que essa decisão me torne mais ocidental do que gostaria. Não importa. A relação entre um homem e uma mulher se configura em dramas neolíticos. E não sou eu quem vai decifrar as regras. Sei apenas do que sinto. E experiencio meus limites.

Portanto e por tudo, não insista. Guarde tuas moedas. Ou distribua com teus beijos vãos, por aí.

Clarice dizia que a vida só é possível reiventada. Não atender as tuas ligações e teus apelos é uma das responsabilidades da minha reivenção. E você não suportaria a magnitude das minhas verdades.

Ofereço-te meu mais complexo NÃO. Confuso, eu confesso. Mas, absoluto.

E, no meu dicionário musical é o Itamar Assumpção (na voz da Zélia Duncan) que define e ressignifica esse NÃO:

Vou tirar do dicionário a palavra você
Vou trocá-la em miúdos
Mudar meu vocabulário e no seu lugar
Vou colocar outro absurdo

Eu vou tirar as suas impressões digitais
Da minha pele
Tirar seu cheiro dos meus lençóis
O teu rosto do meu gosto
Eu vou tirar você de letra nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir com quantos nãos se faz um sim.

Vou tirar o sentimento do meu pensamento
Sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento a qualquer momento
Procurar outra lembrança

Eu vou tirar eu vou limar de vez a sua voz
Dos meus ouvidos
Eu vou tirar você e eu de nós
O dito pelo não dito
Eu vou tirar você de letra nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir com quantos nãos se faz um sim.

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PS: Amigos, não existem palavras para agradecer os comentários. É por vocês a minha ousadia e a minha cara exposição. Não sei onde isso vai dar, mas obrigada por encherem minha jovem e esquecida alma literária de coragem... rsrsrs

terça-feira, 8 de abril de 2008

Erros Púrpuros de Português

Amanheceu. E eu tão cansada de sonhar com você. Como se faltasse uma perna, o estômago, o próprio ar. Mas havia de encontrar uma saída gástrica – ácida, pra finalmente digerir teu gosto.

Nessa manhã, a mulher no espelho pertencia mais a você que a mim mesma, com todas aquelas marcas na pele: o caminho do teu cheiro. Desde as pontas dos teus dedos embebidos em urucum. Tua caligrafia em mim. Traços de uma aspereza leviana. Típicos de quem goza os campos sem ao menos reparar neles.

Salve Fernando Pessoa. Salve Clarice, Cecília, Antônio e Yaguarê. Salve Vinicius e suas morais. Ah, mas não salve esse desencanto da concubina emoldurada com todas as suas dores refletidas num rosto de Marquesa. De Santos e de Demônios.

Precisava exorcizar teus vestígios. Precisava devolver-me.
Daí cortei os cabelos. Lavei a alma com todo o soro que rebentava das glândulas lacrimais. Pintei os olhos e escolhi um colar. Refiz o contorno da boca com batom cor de deusa e já podia sentir. Tudo aquilo além do espelho era meu. Um mundo inteiro de encontros e desencontros especiais.

Tonteava, experimentando meu próprio gosto. Foi quando tropecei noutro sorriso - forte, livre de histórias e pretensões. E pude ouvir o seu perfume. Seus poros falaram aos meus.

Que seja. E seja mais. Porque todas essas cores são minhas. E os devaneios, os segundos. A poesia. E os olhares que vigiam os espasmos tímidos de uma cumplicidade recém-nascida, também. E as marcas no meu corpo. Os calos nos dedos, denunciando as cordas do violão. Meus.

E ele tem gosto de pêra. É de uma suavidade suculenta. Quero beijar seus olhos. A música tem um novo tom e a vida me convida a dançar...

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PS 1: Agradecimentos à Toty, porque suas palavras conversam com minha alma. E a Dadá, que suas palavras me emocionam especialmente. Ao grande amigo Dom Gracioli, que sempre diz: "Alê, poucas idéias"... Blééééw.

Ah, e à minha grande-pequena irmã, que voltou a colorir nossas vidas com seus pincéis. Sou sua fã.

PS 2: O nome do blog é uma homenagem à minha avó materna. Dona Rosa. Uma mameluca com nome de Flor. Nordestina porreta que não conhecia o alfabeto, mas trazia nos dentes uma força ingenuamente feminista.

">Ei, Dona Rosa, obrigada. Há dois anos não acreditei quando disse que estava indo embora, mas saiba que toda a sua vida está em mim. Em nós. Mas, eu não sou rosa, sou genuinamente cafuza.