Desci do carro e a chuva era a senhora da noite. Viúva, forte, ostensiva. Tinha algum cheiro de vingança naquela dominação, naquela abundância. A chuva era mulher traída lavando almas, prédios e ruas. Fazendo com que todos corressem mudando seus caminhos – mudando suas vidas.
Eu respeitei. Não corri. Deixei até que ela lavasse sua dor em mim. E medimos força. Medimos sonhos. Abrimos inventários de amor e distrações. Trocamos figurinhas, sem completar álbum algum.
Sentei - molhada. De uma umidade que vinha de dentro e era quase emoção mofando. Era uma cultura de microorganismos deixando rouca a minha voz. Era cinema mudo.
Pedi uma cerveja. A mais forte, que não gosto mesmo de nenhum tipo de leveza. Nenhum gosto ameno merece minha atenção. Minha atenção é cara, embora não tenha preço e percebam-se algumas concessões.
O fato é que eu estava sozinha e as meninas demorariam. O garçom me emprestou uma caneta e eu tive raiva da sua gentileza. Não gosto de pessoas gentis. Corrigindo: não gosto de pessoas comercialmente gentis.
Gosto de pessoas de verdade. Dessas que têm suas gentilezas ou dissabores remunerados pela própria vida. Gosto de reler a minha (vida) e rir. Gosto de sentir essa dúvida que muda de cor. De perceber o olhar intrigado do homem na mesa ao lado pensando: o que será que ela tanto escreve?
Se nem eu sei.
(...) Voltei. O banheiro tem um cheiro doce que contrasta com a minha acidez. E é mais um tipo de doçura comercial. Que quando o ser humano pode mesmo ser, de graça, doce... não é. E o que se vê é uma doçura institucional.
E eu mesma hoje, tão sem açúcar. Instintiva, animal – sem moral. Vou pagar a conta que ainda me resta um tanto de civilidade. Mas, a caneta não devolvo, que gostei do jeito como escorrega. Gostei do jeito como desenha minhas palavras.
Preenchendo o papel de uma maciez que amarga.
_________________________________________________
PS: Meninas, vocês demoraram mesmo... olhem o quanto eu escrevi, no bloco onde o garçom anotava os pedidos! Rsrsrsrs. Ah, no final devolvi a caneta. Na falta de açúcar raspei o tacho de mel.
PS2: Aos que gostam de ler o amor por aqui, me perdoem. Lembro do pseudo-nome da minha ex-banda (que a minha cunhada vive repetindo e ainda ri): "É o que temos para hoje"... rsrsrsrs
4 comentários:
Desculpa a demora...rsrsrsrs...não foi culpa minha...
Cabecinha, obrigada por aparecer aquela noite...por atender o meu pedido...eu tava precisando...depois de tanto stress essa semana que já começou péssima, precisava dos amigos, da cerveja...dos desabafos...
Te amo
bjuss
Eita chuva viu...foi tanta que me fez ficar em casa deitada na cama com a janela aberta só olhando e tentando entender certas coisas..no final? Não tive uma resposta concreta..
Meu Deus!
Queria levar a caneta embora então? rsrsrs tadinho do bloquinho de pedidos...
E a mais forte, é Serra Malte! A melhor! Causa um efeito que nenhuma outra costuma causar...
Ah! Meu blog? Logo mais ta ai..rsrsrs...! Estou voltando...
Beijao!
O que temos pra hoje!
sempre achei um bom nome,
pois o que temos sempre eh realidade.
E eu vivo eh disso.
Gosto sim de doçura e gentilezas.
Desde que sejam completamente sinceras.
Não se desculpo pela demora, por que foi um tempo dedicado ao pensar, pensar sempre faz bem.
Me desculpo sim por sabado uhaahuauha
Vc me odeia? kkk
bjOos Lhe amoO
"E eu mesma hoje, tão sem açúcar"
Eu as vezes me sinto assim. Linda postagem.
beijão
Postar um comentário