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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ais de Outubro

Onze anos e oito dias sem você. Mudei tanto...
De lá pra cá, a vida veio numa avalanche de emoções. Mas a sua marca ficou, nas entrelinhas da minha personalidade, na gaveta que eu não gosto de mexer, mas está ali.

Ainda tenho um porta-retrato onde você sorri. Daí quase esqueço de chorar. Uma saudade que não acaba. Uma culpa, por tudo o que poderia ter sido, se...

Um “se” cheio de detalhes e negações. Mas eu só tinha 16 anos. Nem sabia dizer “sim”. E de repente, viúva-virgem com uma mala (sem alça) cheia de nãos. E haja poesia pra curar, ou pra tentar. Condenada à tua morte, em liberdade condicional.

Ah, meus outubros de tantos ais... De emoções funestas. De olhares misericordiosos e abraços sufocados de tanta compaixão... Como se não houvesse remédio. Como se eu pudesse também morrer em cada cigarro, em cada bebedeira, em cada minuto atrasada (e sufocada).

Continuo esperando o dia em que abraçar tua mãe não vai me emocionar. Não que eu renegue essa emoção. Mas é que os anos passam e a tua ausência não diminui. Só queria ser mais leve e experimentar. Apesar de tudo. Apesar de ter perdido você. Apesar de ter assistido a tua exumação. Apesar de continuar fugindo da tua carteira vazia na escola e da minha carteira de habilitação.

Meu androceu, me perdoe. Mas, cansei de ser triste. Cansei de esconder o pavor. Vou guardar o teu porta-retrato junto com a camiseta do Rush. Vou doar aquele livro que ainda tem teu cheiro.

Vou escrever o próximo capítulo sem mencionar você. Vou me apaixonar. Vou dar cambalhotas com a minha sobrinha e vê-la crescer.

Talvez, nossas páginas sejam as mais lindas e as mais densas. Mas, eu preciso voar...

Com todo amor e respeito que me cabem (ou melhor, transcendem),

Gineceu.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Segredos de Liquidificador

"As almas precisam dos corpos para se tocar”.
Lya Luft (no livro “O quarto fechado”)

Essa noite minha alma deitou sobre a tua. Naquele abraço brilhavam emoções de uma vida inteira. Nunca um silêncio tão íntimo. Nunca um desejo tão sereno, de suores, pêlos e bocas. Teus segredos de liquidificador derramados sobre a minha nudez. O vinho e o sangue brindando uma concupiscência quase espiritual.

Teus óculos, teus vestígios. Nossas pistas espalhadas pelo quarto. As roupas e as dúvidas pelo chão. Minhas loucuras acolhidas no teu colo. Tua língua rompendo o hímen da minha confusão. Um coral de sussurros e sensações.

Logo eu, que não quero o teu coração, mas o teu peito... A tua camiseta velha pra dormir, como se pudesse vestir você. Dona da tua cama de solteiro. Enamorar, antes de namorar.

De manhã, calo o despertador e acho graça do teu sono misturado aos meus sonhos. Preciso ir, mas te deixo mais um beijo... e um desejo indecente de ficar. Mais um pouco, mais de mim, mais desse nosso delírio - sem porquês, sem senões ou afins.

Bom dia!

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Carnalismo
(Tribalistas)

No rastro do seu caminhar
No ar onde você passar
O seu perfume inebriante
Pendura num instante,
A rua inteira a levitar

Me abraça e me faz calor
Segredos de liquidificador
Um ser humano é o meu amor,
De músculos, de carne e osso,
Pele e cor.
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PS1: Menino, eu que tinha medo dos meus outubros funestos, troquei os "Ais" desse mês pelos "Uis". Obrigada por abrir a porta do teu quarto... Beijo especial!
PS2: Cazuza, imenso Cazuza... Sou só mais uma a me inspirar com "Segredos de Liquidificador" e tudo o mais que vc espalhou por aí...