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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

(L) ama

Amor, eu não tenho as respostas que você precisa. Mas também não confio na natureza das tuas dúvidas. Não sei se você realmente desejava as respostas, ou se foi uma maneira de sair na minha frente, me deixando pra trás com as culpas e a negligência.

Porque, um gole a mais, e eu fiquei com todo o peso no colo. Nos olhos. Na alma.

Como se tivesse caminhado esse tempo todo sozinha, serelepe e irresponsável nas minhas peraltices - inclusive as que você chama de sexuais. Como se eu fosse a Samarco, e você, Mariana.

E eu, nem sei quais são minhas próprias perguntas. E sem saber, se você precisa de água, de um cobertor, um emprego ou meu peito.

Houve um tempo em que eu assumiria todas as culpas por você. Todas. Mas esse tempo, danado, soprou tão forte...

Hoje em dia, tem até tornado no Brasil.

Você deveria saber. Você, deveria saber muito mais de mim.
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PS: Dos desastres naturais (!) em nós. Nós.

PS2: Ai, esses tornados de Iansã. Desço tonta e descalça. Mas é quando tenho certeza que minhas asas ainda estão aqui.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Primaverando

Com as flores que me deu, fiz um colar. Vesti você no peito, mas fiz cara de paisagem... Paisagem convidativa, é verdade. Ruas de terra, desertas, estreitas, largas, íngremes. Ladeiras, montanhas, campos vastos. Tinha tudo o que você quisesse. Até uma bola, caso fosse necessário se distrair depois que me beijasse.

Eu, que prometi nem te beijar. Eu, que prometi ser bem mais minha que tua. Eu, que prometi não florescer.

Mas, é primavera e tuas sementes me comovem. Tua relva ficou aqui dentro. Meus seios livres reconhecendo tua grama. Teu gosto na ponta da minha língua. Tuas mãos desenhando amor e dor nas minhas costas. Tuas folhas em mim - e os galhos da nossa confusão.

Das promessas que não cumpri, você aqui dentro é a minha preferida.

Acordei no teu peito. Florida, úmida, fértil. Nãos colorindo-se de sins.

Ainda são nãos. Mas, cheios de pólen, de sêmen, suores e mordidas.

A vera, brotando na pele, engolindo nossas mentiras.

Primavera.
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PS: Dessas verdades que não se escancaram, mas que são absolutas. Que não dependem de audiência, nem de lucidez. Apenas são.

PSdoJagner: Querido (tão, mas tão querido!)... Desejo que tuas verdades preferidas te acordem no meio da noite (aliás, que elas não tenham hora). Que tenham esse gosto forte, pra merecer teu paladar. Que façam brisa, que acariciem teu peito. Bora seguir cantando, poetizando, divando, que a vida tem que ser mesmo suculenta. Assim.
Gratidão e beijo enoooorme! 

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Leitura Labial

Nem talvez, nem outro dia, nem “se”. Presta atenção nos meus lábios, que vou dizer só mais uma vez: Não. Não sou intocável, nem frígida, nem casta. Só não quero você e não existe nenhum motivo cósmico, nenhuma conspiração por trás disso.

Eu não quero, baby. Ponto. Coisa chata ficar esmiuçando meus nãos. Coisa chata você continuar agindo como se o meu não querer fosse uma gripe que vai passar. “Bom dia, tudo bem?”, “Boa tarde, tá melhor?”, “Boa noite, agora você quer? Ainda não? E semana que vem?”.

Querido (- cuidado, é só uma expressão harmônica e não significa que te quero -), estou bem. Estou ótima. Um pouco cansada, talvez. Você não entende o que digo. Nem escrevendo. Nem desenhando. Nem dramatizando com o corpo inteiro.

E se por algum motivo psicótico você acreditar que estou apenas fazendo jogo duro, esqueça. Não sou dessas. Meus desejos têm vida própria e não esperam o dia seguinte.

Nem se você aparecesse tocando cuíca. Nem se esfregasse poesia na minha cara. E não adianta apelar pra aquele feitiço que traz a pessoa amada de volta em 3 dias. Não sou a pessoa amada, e nem sou sua.

Por favor, não me espere que não tenho hora. Vou ali, dançar com outro cara. Aquele, que para começar, me faz rir.

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PS: Da série "Cafuzices TPMlísticas".

domingo, 31 de maio de 2015

Exorcismo

Troquei de perfume, porque não quero que reconheça nada em mim.

Nada aqui te pertence, da minha pele aos meus cabelos ásperos, nem o mais fugaz dos desejos. Nem aquela pontinha de loucura, que faz a gente passar reto na curva depois de algumas doses. Que faz a gente dar o beijo que não devia. Nada é seu. Nada, neguinho.

Não ouse me tocar. Nem cumprimentar, nem agradecer. Não ouse me guardar no álbum de lembranças boas, que sou ruim. Sou daquelas que, ou se ama ou se odeia. Ou se quer, ou se teme. Feito oferenda pra Exú em dia de mau humor.

Chuta, nego. Que é macumba. Mas chuta com força, porque na volta, acerto teu peito e te arranco a alma no dente. Só pra guardar de alegoria. Que quando a minha saia roda, nego... nem preto véio fica de pé.

E você que é novo, e nem tuas verdades sustenta, não vai suportar minha ventania. Quiçá minha voz. Com essa cegueira na alma, nem vai perceber se eu juro ou se esconjuro.
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PS1: Vou repetir: “Não ouse me guardar no álbum de lembranças boas, que sou ruim.” Sei exatamente o tipo de gente que quero na minha vida. E o tipo que não admito. Sem essa de faxina no face, se na vida real a gente continua gastando vela com defunto ruim.

PS2: Bruna e Val, minhas cúmplices da noite. Mudei o final (na verdade, “amenizei”), porque quando percebi, já estava gastando energia demais sorrindo, brincando, dançando. Fome na alma... prazer imenso saciar com vocês. Gratidão!

PSdoBibo: Se eu te abraçasse tanto quanto te amo, você morreria (emprestado da poetiza Bia Quesada).

terça-feira, 17 de março de 2015

Hiato

Eu tinha na ponta da língua aquela calmaria que, só sente o gosto, quem fez a coisa certa na hora errada.

De horas erradas eram feitos meus relógios e meu horário de verão tinha mais estrelas que sol.

O sol era aquele cara chato, queimando minha pele, fazendo arder as confusões. Deixando o ar espesso, quase intragável. Quase impossível.

Impossível era ser eu, escorrendo tanta lua. Esperando os segredos da madrugada. Esperando que as sombras elucidassem alguma cor.

Daquelas cores que, só a noite. Só subindo as escadas, os músculos, os desejos.

Só ouvindo Toquinho. Só brincando de ser gente que se quer tanto, que não sabe como fazer.

Então, uma estrela murcha, a cuíca calada. Um hiato triste, tosco, órfão. Impublicável.

Amor rouco, desafinado. Bêbado e só.
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PS: Sabem quando no truco, você morre com o casal maior na mão? É isso.

PS Musical: Ah, tinha que haver um samba. Já dizia o poeta: um samba pra cada emoção...

"Se a Fila Andar"
(Composição linda do Toninho Geraes)

Não, eu não estou
Preparado pra te encontrar amor
Nos braços de outra pessoa
Só de pensar já me causa dor

Se o sonho acabar
Se a fila andar
Não vou aceitar facilmente
Tente me preservar
O que a gente não vê
O coração não sente

Vou te admirar
Se não for vulgar
E não se exibir por castigo
Pois corro perigo
Dos nossos amigos
Me virem chorar
(Não quero nem imaginar)

Se você chegar e me encontrar
No samba eu lhe peço um favor
Respeite o insano
Sagrado e profano
Que foi o nosso amor