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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Samurai da Vila

Quisera ele ter vivido um amor de novela. Manso como um romance vespertino, trágico como se o horário fosse mesmo nobre. Mas, o seu era amor desgraçado, infecundo - e morava em todas as horas. Doía a cada fração de segundo. Embrulhava-lhe o estômago aquele coração entalado, aquela dúvida ingênua roubando-lhe o oxigênio e a lucidez.

Afinal, haveria alguma chance?

E ter esperança era como uma agonia densa que não dorme. Que não come. Esperança órfã, pegajosa, imunda, espalhando-se feito erva daninha na alma.

Prisão perpétua aquele amor. E perpetuá-lo dava-lhe enfim a sensação de uma vida póstuma (sem ELA). Afinal, existe vida após o amor? Sobreviver era o prêmio àquela devoção?

Cego, surdo, fraco – feito doente terminal – seguia os passos da amada. Torturava-se observando-a de longe.

Enquanto ela... ia tranqüila. Linda. Mãos dadas à vida da qual ele não fazia parte.

Manco de amor, escondido atrás de si mesmo, analisava cada traço do rosto da moça, cada sorriso, cada cadência. Esperando que um fio de cabelo fora do lugar denunciasse um sinal. Um vacilo. Um talvez... a recíproca.

Um milagre.

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♫... Pedaço de Mim
(Chico Buarque)

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
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PS: Lá vai ele (mais uma vez) tentar buscá-la. Como se tivesse culpa, como se faltasse dizer a palavra mágica... alguma que fizesse os olhos dela cederem. E como num surto de clarividência, ela pudesse enfim admitir o amor!

Fã de futebol (e da moça), confessou-me que é uma emoção parecida com a final da Libertadores. Do êxtase absoluto à frustração. Pior... é corinthiano. Que é que não desiste? Que é que tanto sonha com a final da libertadores? Ah, esses amores impossíveis...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Pequenez

Não tenho medo de altura, mas uma barata com seus poucos centímetros de ousadia pode fatalmente me desequilibrar. Não tenho medo quando um grande amor se anuncia, mas um beijo despretensioso pode roubar a minha paz.

Adoro os romances com quatrocentas, quinhentas páginas, mas uma frase solta pode desnortear as minhas mais antigas convicções.

Não tenho medo das grandes verdades e são as pequenas mentiras que me apavoram, desprevenida.

E sofro tanto, quando percebo num altruísta aquele vestígio de mesquinhez... aquele egoísmo cego escondido entre as veias de um grande coração.

Ah, são elas. As pequenas. As minúsculas coisas que me preocupam.

Porque é fácil livrar-se de uma mariposa que ameaça pousar nos seus olhos. Mas aquele maldito cisco... é ele que vai nos fazer chorar.
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PS: ... Eu, com essa mania de grandeza, espero sempre que ao me magoar fulano(a) tenha um bom motivo. Um motivo enorme... daqueles dignos de sacrifícios e perdão.

Porém, se por trás do olhar dissimulado houver apenas um pequeno interesse, um desejozinho instantâneo, uma vaidadezinha bem pobre... Lamento. Pequenas causas não me comovem. Emoção chinfrim não enche a barriga (nem o coração) de ninguém. Mas é igual pedrinha no caminho, pra tropeçar. Que se fosse um paralelepípedo, quem é que não enxergaria?

PS2: Leandro Henrique, uma vez divaguei sobre o caco de vidro esquecido atrás do sofá... lembra? Agora são pedrinhas, mentirinhas, bobeirinhas humanas. Ai! As pequenas coisas a me preocupar...