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sábado, 16 de janeiro de 2010

Ele Lê

O Sol invadiu aquele quarto que nem era dela. Não queria ir trabalhar. Queria viver de literatura, de música – de amor. Havia chorado. O rosto, de tão largo, parecia que eram dois. A alma parecia que era nenhuma.

Tomou um banho pra acordar a coragem. Vestiu a fantasia de aprendiz de executiva e foi. O ar condicionado do escritório lhe fazia mal. O calor lá fora, também lhe fazia mal. Queria que as pessoas desejassem um bom dia como se fossem palavras mágicas. Abracadabra. Ela precisava tanto de um bom dia...

O mundo cãoporativo latia. E ela só queria sorrir. Na caixa de entrada, eram duzentos e-mails chegando. Antes de se entregar à labuta, se permitiu uns minutos de Lado B. Quis ser um pouco dela mesma, acessando seu e-mail pessoal. E foi aí que sorriu, inteira.

Ele havia escrito. Pra ela. E era a primeira vez que aquelas palavras a tocariam com o deleite de alguma privacidade, pincelando um merecimento que ela nem conhecia. Era poesia particular. Era ele, por trás do que lera. Em suas confissões literárias, em sua cumplicidade. Derramando algum tipo de intimidade que só em versos se vê. E se Lê.

E se também a lia, era nua. Lúbrica. Grosseira. Dramática. Era lida e era toda. Não se tinha mais o que fazer.

Estava escrito. E agora, ele era um pouco dela. E ela, que era sempre um pouco dele, por hora era mais.
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PS: Lê e Lê. Respeito o seu silêncio quando lê. Mas, respeito ainda mais as suas palavras...
"Poesia pega, ô se pega. É transmissível a beijos devassos. A olhares maliciosos. Não passa na Sessão da Tarde. Poesia não é popular. É risco de vida."(http://anjomalandro.blogspot.com)

Sim, respiro você desde então. Porque a minha coleção de beijos devassos foi, finalmente, significada. Porque eu tento há anos dizer e você chega com essa malandragem angelical e diz - em poucas e certeiras palavras.

Obrigada! Por essa e por outras felicidades. É isso. Ler você é uma felicidade...

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