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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Flor de Oyá

Inquieto, reclamava do cigarro da moça, quando na verdade queria reclamar sua boca. Tomá-la pra si, que nunca uma boca assim, descolada da sua, o incomodara tanto.

A boca da moça era um perigo. Tinha vida, tinha cheiro de flor adulta e em cada pétala um sonho que não dependia dele. E com medo de acertar, ele errava. Era o que sabia bem: errar. Aprendeu a bater antes de apanhar. Desferia o tapa e gozava a dor na palma da mão. Antes essa que a dor da alma – que era capaz de tudo (e nada) pra nunca mais senti-la.

E diante dela, que era inteira primavera, restava-lhe ser o menino. Assustado, precipitado, automaticamente romântico – como se as frases prontas pudessem prendê-la, distraída. Enquanto ele verdadeiramente se preparava.

Enganava-se e embora ganhasse tempo, perdia um pouco e cada vez mais – da moça. Que os cabelos dela eram de ventania e não suportava aquele “eu te amo” morno, plástico, fugaz.

Queria tudo e queria logo. Queria que ele deixasse de amar desesperado para amá-la com cumplicidade, com verdade. A calmaria de quem simplesmente não tem nada a provar. É quando sobra tempo pra viver.

Ela, habituada a pagar suas contas e seus pecados, cansava. Que não era mulher de contentar-se com adoração. Era mulher de vísceras, de colo, de homem dentro dela e não de menino ao redor.

Ai, que era um menino adorável. Rondava sua boca com medo de perdê-la. E a moça, já perdida de amor, ansiava o dia em que ele – destemido – mergulharia naquele beijo, a descobrir...

Que era ele. Crescido. O homem que caberia dentro dela.
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PS: Ao casal mais inquieto, tonto e encantado que eu conheço... rsrsrsrs. Que eles tenham calma. Juntos.
Flor... e se o menino for feito de pólen? Deixa o vento espalhar!

PS2: A música, que eu tenho ouvido tanto e agora divido com vocês:

"Inquieta, Tonta e Encantada"
Interpretação: Maria Rita
Composição: Richards Rodgers / Lorenz Hart (Versão: Carlos Rennã)

Após nove ou dez conhaques
Acordei qual uma flor
Sem Engov nem ataques
Nem senti tremor

Homem sempre me aparece
Geralmente bem me dou
Mas um meia boca desses
Me desconcertou

Tinindo estou, curtindo estou
Criança chorando e sorrindo estou
Inquieta, tonta e encantada estou

Sem dormir, não tem dormir
O amor vem e diz: não convém dormir
Inquieta, tonta e encantada estou

Me perdi dominada e daí errei sim
Ele é uma piada, piada solta em mim
Ele é o fim e até o fim
Vou tê-lo para vê-lo com fé no fim
Inquieto, tonto e encantado também

Vi demais, vivi demais
Mas hoje eu já adolesci demais
Inquieta, tonta e encantada estou

Niná-lo eu vou, no embalo eu vou
Um dia na pele grudá-lo eu vou
Inquieta, tonta e encantada estou

Ao falar ele sente travação, timidez
Mas horizontalmente, falando ele é dez
Perplexa e fim, conexo enfim
Com graças a Deus muito sexo em fim
Inquieta, tonta e encantada estou

Ele é tolo, mas um tolo
O seu charme as vezes tem
Em seus braços eu me enrolo
Que nem um neném

Caso é aquela coisa louca
Nem dormindo eu estou
Desde que esse meia boca
Me desconsertou...

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

(Des)Amores

Hoje, um coração partiu-se. A veia explodiu, quando contei a ele que sua amada ("aquela amada, mais amada pra valer" – como diria Vinicius), finalmente casaria-se. Com outro.

E não importa o que balbuciou, já que ouvi tudo o que não pudera dizer. Tudo. Que era triste, que era dor, que era injusto. Que era ainda... amor. Que é que o outro tinha, que a levaria ao altar? Se ele mesmo fizera todos os pedidos e usara todas as cores pra pintar o seu amor – e ela, cega? Era isso: o outro A tinha.

Ponto final socando as interrogações.
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Ontem, outro coração partiu-se todo, em migalhas. Que ela era tão menina, tão mais menina quando o viu. E foi-se toda, entregue àquele sorriso de homem que fingia uma conveniente timidez. E quando o primeiro beijo – na festa de aniversário dele – parecia inaugurar o amor (não qualquer um, que talvez fosse o amor de todos os amores)... é que parecia tanto. E a menina foi, convicta. Cansada de confundir-se à toa. Cansada de acordar sozinha experimentando novas confusões. Abriu os olhos e ele ainda estava lá. E sorria. Apresentou-lhe a família, os sinais, as pequenas manias. Teve medo de que tudo aquilo não coubesse em seu colo, mas... queria tanto. Queria mais.

Veio o terceiro dia. A promessa de intensificar a entrega e tomá-la em seus braços, em seus lábios. E bebê-la toda. A menina com seu vestido de boneca mal percebia a festa ao seu redor. Que dentro era incêndio. Era aquele calor da espera, da dúvida, o prenúncio de um gozo macio.

Então ele chegou. Com sua cara-de-pau e outra menina. Outra menina! E todos viram que nela – nossa menina, o incêndio foi-se afogando em necrume.

E a menina chorou, sem nenhuma lágrima. Que era seca, incrédula, cansada.

Era mais um ponto final, interrompendo a gestação de doces reticências.
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Havia outro coração. E esse era encharcado de lágrimas. Partiu-se também e os pedaços largados n'água, tomavam cada um a direção de um novo engano.

É que entre todos, aquele engano doía-lhe mais. Era uma dor ardida. Pontada de cólica sem sangue, sem ciclo, sem maternidade. Era a vergonha, o medo, a saudade. Um coquetel de emoções que não têm nome – nem esperança. Tudo o que queria era ser outra pessoa, em outro lugar. Mas estava ali. Testemunha declarada. Ele era feliz (o quanto era possível sê-lo) com aquela mulher que era tão... tão dele.

E ela, contorcia-se toda esperando encaracolar-se ensimesmada naquela confusão. Não o queria mais. Mas e se quisesse? Que pecado havia em querer ser Aquela, ao lado dele. Que olhava-a há tempos e sempre incomodou-lhe não saber como a danada estava sempre ao lado – exatamente – do que e de quem quisesse. Sem hora.

Era isso. Não queria ser Aquela (nem a sua e nem a outra). Queria era saber querer. Sem perder a medida. Sem perder-se.

Ponto final. Seguido de interrogações e exclamações pontiagudas. Ponto final.
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PS: Conto de outros três corações, enquanto o meu... recupera o fôlego. Ensaia, hesita, transforma. E rascunha outra história.

PS2: Corações, por favor... escolham a música.