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domingo, 26 de dezembro de 2010

Bolinha de Sabão

Ele sabia que ela estava aprontando alguma... Enquanto a bobona, sorrindo aprontava. De fato, nada estaria pronto. Nada seria dito. Mas aos trinta, ser boba era um prazer. Privilégio que oferecia a ele. Flores e maçãs.

E foi-se. Ser toda. Toda a menina que era. A emoção de ser pequena com olhos graúdos - brilhantes. O entendimento era dele. Dela, a graça. A pirraça. Bolinha de sabão.

De tão solta, esqueceu-se. Trancou a porta com uma força ingênua - mais rápida que as mãos. Força infeliz! Quebrou-se lá dentro, o osso do dedo e a solidão. Chorou de dor e de contentamento. Que era tão visceral, que era tão infantil aquela dor.

De presente e de susto, quinze dias experimentando a desautonomia da mão esquerda e as gentilezas e cuidados alheios. Quinze dias sem escrever, sem violão, sem uniforme.

A mão direita de férias e a esquerda no recreio. Ah, se não tinha outro jeito... Beijaria o mundo, tateando com a língua. A vida! Puro paladar. E coração.
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Eis o que ando cantando. Sem as mãos (!):

Meditação
Composição: Tom Jobim/ Newton Mendonça

Quem acreditou
No amor, no sorriso e na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais

Quem no coração
Abrigou a tristeza de ver
Tudo isso se perder
E na solidão
Procurou o caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz

Quem chorou, chorou
E tanto que o seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e a flor
Então tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou
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PS: Era segredo. É que fiquei brincando com as rimas e cócegas das bolinhas de sabão... Paixão? Confusão? Feijão?

PS2: Já que leu, atreva-se a brincar também (enquanto meu dedo lateja... e descansa).

domingo, 19 de dezembro de 2010

Quarta

Era um silêncio antigo. Grisalho. De memória fraca e coração bom. Era de duvidar que fosse bom, mas se era a própria dúvida o seu maior segredo. Ah, que de tanto segredo e de tantos silêncios faziam amor. Suavam o prazer de existirem. Há tempos, há sôfregos desejos e enganos e aquela cumplicidade úmida, de tão íntima. De tão só.

Só o que eram. Só o que teriam feito da vida, da praga, do ensaio. Do encontro das bocas tímidas, que nem em sonho. Que nem em vida. Mas, se ainda era vida aquele inferno de ser não, de ser talvez (alguma coisa). Talvez alguma coisa, um dia. Barulhinho de pingo na telha, na testa, de chuva no peito, um dia desses. Um dia nosso.

Qual? Se era o meu silêncio aqui e o teu segredo lá. Se eram tuas as palavras cheias de pó. A minha rouquidão – a nossa covardia. Nosso beijo pós-mar. Nosso impossível beijo – de amor.

Rouba meu mar, que roubo esses olhos azuis. Que troco a paz que nunca tive por esse amor, que sempre foi teu.

Que sempre fui tua.
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... era essa a música que eu desafinava, amando desafinada, pela primeira vez:

DINDI
(Tom Jobim e Aloysio de Oliveira)

Céu! Tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Pra onde elas vão? Ah! Eu não sei, não sei...
E o vento que fala nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém...
Mas que são minhas e de você também...

Ah! Dindi...
Se soubesses o bem que te quero
O mundo seria Dindi, tudo, Dindi, lindo, Dindi...
Ah! Dindi...
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindi
Fica Dindi...Olha, Dindi...

E as águas desse rio onde vão eu não sei
A minha vida inteira esperei,
Esperei por você, Dindi
Que é a coisa mais linda que existe
Você não existe Dindi
Olha Dindi...Deixa Dindi...Que eu te adore Dindi...
Ah! Dindi...
Se soubesses o bem que te quero
O mundo seria Dindi, tudo, Dindi, lindo, Dindi...
Nosso, Dindi...

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PS: Nuvens da quarta-série, da quarta-feira, da quarta poesia. Fica, Dindi...