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domingo, 29 de março de 2009

Exílio

Fica combinado. Distraio a tua solidão enquanto você reconhece a minha.

Daí finjo que sou tua e você finge que é amor. Descansaremos dos nossos sonhos um no outro. Dentro. Lá onde não há calma nem especulações. Onde só há a carne e os espasmos de encanto - de uma alma quase pueril.

De manhã, começaremos tudo de novo. Você me mostra as praias da tua cidade e eu te mostro o meu mar. Inquieto. De uma força quase bárbara.

No final do dia, assistiremos a tristeza entardecer. Vou morar no teu peito. Até não querer voltar. Até que a noite venha como um bálsamo, um beijo... Até que você rasgue a minha roupa e a minha passagem de volta.

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E a música é do Peninha. A Gal interpretou, mas eu prefiro com a Bethânia (porque sempre prefiro a Bethânia):

Tá Combinado

Então tá combinado, é quase nada
É tudo somente sexo e amizade.

Não tem nenhum engano nem mistério.
É tudo só brincadeira e verdade.

Podemos ver o mundo juntos,
Sermos dois e sermos muitos,
Nos sabermos sós sem estarmos sós.

Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós.

Então tá tudo dito e é tão bonito
E eu acredito num claro futuro
de música, ternura e aventura
Pro equilibrista em cima do muro.

Mas e se o amor pra nós chegar,
De nós, de algum lugar
Com todo o seu tenebroso esplendor?

Mas e se o amor já está,
se há muito tempo que chegou
E só nos enganou?

Então não fale nada, apague a estrada
Que seu caminhar já desenhou
Porque toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor...

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PS: Ah, acredito mesmo “num claro futuro
de música, ternura e aventura”. Mas e se o amor pra nós chegar,
De nós, de algum lugar? Que venha todo o seu tenebroso esplendor.
Como bem disse o Adelson, “estar vivo é tão bom mesmo quando dói. Quando não dói então parece vento na cara.”

PS2: Um agradecimento à minha irmã, que outro dia passou por aqui e me chamou de medrosa... rsrsrs (fiquei reflexiva). Ela acrescentou: LIBERTE-SE!!! Mas, não espere encontrar nele, aquilo que não tem.
Afff, desde pequena ela fala pouco. Mas quando fala, é assim. Essencial... rsrsrs.

PS3: Exílio de Páscoa. Inspirador... E por falar em inspiração, Toty, menina danada com as palavras, me emocionou mais uma vez:
“(...) do nada você fica em branco. A boca seca. Ele te diz frases lindas. Ri demorado. Beija gostoso. E você acredita que a vida pode ser melhor. Que talvez, seja ele. Que talvez, seja hoje.(...)”
totynix.blogspot.com

segunda-feira, 16 de março de 2009

Lá vem você. Com esse cinismo quase santo. E lá vou eu, escolher outras palavras pra dizer a mesma coisa. Se preferir, posso desenhar (e depois tatuar, para que esteja sempre aqui quando você me olhar – de longe).

É verdade que ainda leio você. Comprei o último livro e adorei o texto publicado no Natal. Porque lá encontrei a verdade e não o personagem que te consumiu. O personagem às vezes te dá uma chance. Mantenha-se vivo, por favor. Não desperdice tanta vida e tanta poesia. A popularidade pode empobrecer tua genialidade e ser, no mínimo, cruel.

Pode ser. Mas também pode ser que assim seja feliz. Tanto faz.

Mas a questão aqui é lembrá-lo dos nossos limites. Foi o que restou. Você sempre teve opção, mas eu só a tenho agora... E gosto de tê-la.

O dia seguinte sem você foi um dos mais tristes da minha vida. E não veio só. Foi uma sucessão de pesadelos, calafrios, paredes desmoronando e insuficiência na alma. Desidratei o nosso amor chorando. Faltava força nas pernas e tudo (que merda!), tudo me lembrava você.

Até hoje me pego duvidando do que aconteceu. Seria mais fácil não ter raiva. Seria mais fácil, não fosse esse lobo faminto, sem escrúpulos e sem medida (como você mesmo brilhantemente definiu).

Mas, tudo bem. Entendi a gravidade de tudo o que não vivemos. A sua covardia me fortaleceu de uma maneira irreversível.

Irreversível.

Achei que passaria o resto da vida resistindo às tuas aproximações. Depois percebi que “o resto” é tempo demais pra ser perdido com você.

Perca-se sozinho. Como sempre.

Eu, melhor agora. Inteira. E só.

Entre um e outro sussurro, ouça essa pérola do Alceu Valença - é o tema do teu exorcismo em mim. É pra lembrar o que você não fez. O dia em fomos embora um do outro. Um brinde à (nossa) solidão:


Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como uma bumba-meu-boi sem capitão
E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como um boi no meio da multidão

Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho
Cruzei ruas, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contramão
Pelo canto da boca num sussurro
Fiz um canto demente, absurdo
O lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão
Solidão.

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PS: Não choro mais. Não respondo mais. Não te vejo, não te beijo, não te quero. Lamento nem lamentar. Com prazer, eu te erro. Sei quando está por aqui. É quando não largo a direção por nada. Porque se olhar p/ o lado... Ah, se olhar p/ o lado. Bato esse carro e morreremos os dois. De amor.
...“era tarde demais pra ser sozinho”.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Acabou Chorare?

Continuo aqui. Setecentos quilômetros (e algumas confusões) depois e você ainda vagando no perímetro das minhas emoções.

Insisto em qualquer bobagem pra me distrair. Outro desejo que amenize a presença da tua ausência.

Mas, nessa noite já visitei três livros diferentes. Experimentei temas, drinks e canções... Até perceber a verdade (e recebê-la com certa resignação):

Quero mesmo é você. Me contando como foi o seu dia enquanto rio da sua mania de fazer planos, contas e previsões. Quero você... pra jogar conversa fora e música dentro. Pra escolher o vinho enquanto eu pinto as cores dessa relação.

Por você inteiro, eu espero. Mas, borbulha uma urgência sublime... Pegue um atalho – dos meus sonhos à vida real.

Agora (quase agora). É o que você quer? Então terei que provar dessa reciprocidade num beijo. Quero que esse frio na barriga me faça desfalecer.

Tenho medo que você não leia esse texto. Mas, tenho ainda mais medo que leia.

Se nada disso fizer sentido, terá sido mais um exemplo de encontros e desencontros entre um homem e uma mulher. Uma dessas histórias que se repetem, condenadas à mediocridade. Amor mediano que não vira livro, nem filme, nem sonho. Fica ali nos cantos, acumulando pó.

Antes de vir, saiba que sou alérgica a pó, pêlos de gato e camarão. Nunca tive um cachorro. Sou ciumenta (muito mais por dentro que por fora). Às vezes falo demais. Às vezes não falo (escrevo). Minha TPM é crônica. E ainda gosto de você.

E se tudo isso fizer sentido? Vamos perceber? Vamos esquecer?

Vem me descobrir... Traga o violão. Eu levo o antialérgico e mais uma canção...

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“ACABOU CHORARE”
(Novos Baianos, brincando de fazer sentido há uns 40 anos)

Acabou chorare, ficou tudo lindo
De manhã cedinho, tudo cá cá cá, na fé fé fé
No bu bu li li, no bu bu li lindo
No bu bu bolindo
No bu bu bolindo
No bu bu bolindo

Talvez pelo buraquinho, invadiu-me a casa, me acordou na cama
Tomou o meu coração e sentou na minha mão

Abelha, abelhinha...

Acabou chorare, faz zunzum pra eu ver, faz zunzum pra mim

Abelho, abelhinho escondido faz bonito, faz zunzum e mel
Faz zum zum e mel
Faz zum zum e mel

Inda de lambuja tem o carneirinho, presente na boca
Acordando toda gente, tão suave mé, que suavemente
Inda de lambuja tem o carneirinho, presente na boca
Acordando toda gente, tão suave mé, que suavemente

Abelha, carneirinho...

Acabou chorare no meio do mundo
Respirei eu fundo, foi-se tudo pra escanteio
Vi o sapo na lagoa, entre nessa que é boa

Fiz zunzum e pronto
Fiz zum zum e pronto
Fiz zum zum
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PS1: Esse texto tem algumas referências de um poeta que sempre me falava sobre os amores medíocres. Outro dia ele escreveu sobre “a presença da Ausência Presente” e me marcou. Mais uma vez. Obrigada.

PS2: Totyyyyyyyyy... amei a sua nova mania de “não deixar de dizer nada”. E mais uma vez vc me emocionou. O “Motivo” não é só da Cecília Meirelles... é nosso!!! Rsrsrsrs
Eu continuo sem saber se desmorono ou se edifico, se permaneço ou se desfaço... E a canção continua sendo TUDO. E cada vez mais, conto c/ vc!!! Beijo enoooooooorme.

PS3: Hummm... mais uma estranha analogia (e mais um PS da série "desnecessários" rsrsrs). P/ aqueles que reagem ao amor como se fosse (sempre) ameaçador:
A alergia é uma reação excessiva do nosso organismo a substâncias que ele considera nocivas, mesmo que não sejam. É como se fosse o resultado do "excesso de zelo" do nosso sistema imunitário (desregulado), provocando reações, mesmo que o elemento estranho não tenha um caráter ameaçador ou perigoso.