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quarta-feira, 30 de abril de 2008

(RE)VIRADA

Ah, menino. Tenho que agradecer por me envolver em teus braços e me salvar da multidão. Mas, quem virá salvar-me de mim mesma?

Não bastam tuas mãos convalescentes, abrindo os caminhos a me conduzir. Minha leveza é passageira. A pressão sanguínea oscila tanto, que desfaleço.

Noutro segundo saio em disparada, desfolhando-me por aí. Sente meu peso. Sofre o meu sorriso. É uma liberdade asfixiante.

Ouve. Pode ser sim, pode ser não. Como em todas as nossas viradas. Nos encontros lunares das noites, tão nossas. Em tão pouco. Até as estrelas fingiam esperar, guardando segredos num ballet de brilhos póstumos.

Há previsão de Sol para os próximos dias? E quantas Evas fizeram-se de tuas costelas? Quantas acordaram no teu colo, num sopro de vida doce, após tanta morte explodindo num desmaio?

Se tiveres medo, saiba que já tive.

Hoje, quero oxigênio e silêncio.

Amanhã, cantarei pra ti.

sábado, 12 de abril de 2008

MEA CULPA

Agradeço o teu perdão. Mas, quanta vaidade há nessa absolvição?
Aliás, tua vaidade continua me surpreendendo. Veio no pacote, quando me apaixonei. Não te ocorre que também preciso perdoá-lo?

Não te ocorre que meu desejo era que respondesse às minhas canções com Djavan? Existiu algum sacrifício feito em meu nome, meu amor?

Você escreveu, mas nunca publicou nossa história. Não dedicou a mim nenhum dos teus livros. Sempre negligenciou esse amor fora-da-lei.

Uma vez, em uma das nossas longas discussões sobre a monogamia ser ou não uma invenção da sociedade – por que era sempre necessário um álibi cultural para o teu comportamento vil – você disse que me amava, mas que eu só encontraria a fidelidade e cumplicidade que procurava numa mulher.

É que eu havia suposto numa ingênua loucura que em você, enfim, encontrara tudo. Com o doce acréscimo das surpresas e da poesia que me fascinavam. Mesmo nos dias em que a pedra era só uma pedra. E ironicamente, não fosse a cabeça errante do teu falo, você teria sido a minha mulher, que eu pediria em casamento e levaria ao altar.

Com sacrifícios, meu bem. E eu teria suportado o comportamento adolescente do teu pênis, que sempre achei mesmo que o sexo em si carrega menos intimidade que um beijo. Mas flagrei poesia nas tuas traições. E a poesia requer ainda mais desejo e fantasia que o encontro dos lábios.

E é por isso que me perdôo por não perdoá-lo. Mesmo que essa decisão me torne mais ocidental do que gostaria. Não importa. A relação entre um homem e uma mulher se configura em dramas neolíticos. E não sou eu quem vai decifrar as regras. Sei apenas do que sinto. E experiencio meus limites.

Portanto e por tudo, não insista. Guarde tuas moedas. Ou distribua com teus beijos vãos, por aí.

Clarice dizia que a vida só é possível reiventada. Não atender as tuas ligações e teus apelos é uma das responsabilidades da minha reivenção. E você não suportaria a magnitude das minhas verdades.

Ofereço-te meu mais complexo NÃO. Confuso, eu confesso. Mas, absoluto.

E, no meu dicionário musical é o Itamar Assumpção (na voz da Zélia Duncan) que define e ressignifica esse NÃO:

Vou tirar do dicionário a palavra você
Vou trocá-la em miúdos
Mudar meu vocabulário e no seu lugar
Vou colocar outro absurdo

Eu vou tirar as suas impressões digitais
Da minha pele
Tirar seu cheiro dos meus lençóis
O teu rosto do meu gosto
Eu vou tirar você de letra nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir com quantos nãos se faz um sim.

Vou tirar o sentimento do meu pensamento
Sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento a qualquer momento
Procurar outra lembrança

Eu vou tirar eu vou limar de vez a sua voz
Dos meus ouvidos
Eu vou tirar você e eu de nós
O dito pelo não dito
Eu vou tirar você de letra nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir com quantos nãos se faz um sim.

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PS: Amigos, não existem palavras para agradecer os comentários. É por vocês a minha ousadia e a minha cara exposição. Não sei onde isso vai dar, mas obrigada por encherem minha jovem e esquecida alma literária de coragem... rsrsrs

terça-feira, 8 de abril de 2008

Erros Púrpuros de Português

Amanheceu. E eu tão cansada de sonhar com você. Como se faltasse uma perna, o estômago, o próprio ar. Mas havia de encontrar uma saída gástrica – ácida, pra finalmente digerir teu gosto.

Nessa manhã, a mulher no espelho pertencia mais a você que a mim mesma, com todas aquelas marcas na pele: o caminho do teu cheiro. Desde as pontas dos teus dedos embebidos em urucum. Tua caligrafia em mim. Traços de uma aspereza leviana. Típicos de quem goza os campos sem ao menos reparar neles.

Salve Fernando Pessoa. Salve Clarice, Cecília, Antônio e Yaguarê. Salve Vinicius e suas morais. Ah, mas não salve esse desencanto da concubina emoldurada com todas as suas dores refletidas num rosto de Marquesa. De Santos e de Demônios.

Precisava exorcizar teus vestígios. Precisava devolver-me.
Daí cortei os cabelos. Lavei a alma com todo o soro que rebentava das glândulas lacrimais. Pintei os olhos e escolhi um colar. Refiz o contorno da boca com batom cor de deusa e já podia sentir. Tudo aquilo além do espelho era meu. Um mundo inteiro de encontros e desencontros especiais.

Tonteava, experimentando meu próprio gosto. Foi quando tropecei noutro sorriso - forte, livre de histórias e pretensões. E pude ouvir o seu perfume. Seus poros falaram aos meus.

Que seja. E seja mais. Porque todas essas cores são minhas. E os devaneios, os segundos. A poesia. E os olhares que vigiam os espasmos tímidos de uma cumplicidade recém-nascida, também. E as marcas no meu corpo. Os calos nos dedos, denunciando as cordas do violão. Meus.

E ele tem gosto de pêra. É de uma suavidade suculenta. Quero beijar seus olhos. A música tem um novo tom e a vida me convida a dançar...

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PS 1: Agradecimentos à Toty, porque suas palavras conversam com minha alma. E a Dadá, que suas palavras me emocionam especialmente. Ao grande amigo Dom Gracioli, que sempre diz: "Alê, poucas idéias"... Blééééw.

Ah, e à minha grande-pequena irmã, que voltou a colorir nossas vidas com seus pincéis. Sou sua fã.

PS 2: O nome do blog é uma homenagem à minha avó materna. Dona Rosa. Uma mameluca com nome de Flor. Nordestina porreta que não conhecia o alfabeto, mas trazia nos dentes uma força ingenuamente feminista.

">Ei, Dona Rosa, obrigada. Há dois anos não acreditei quando disse que estava indo embora, mas saiba que toda a sua vida está em mim. Em nós. Mas, eu não sou rosa, sou genuinamente cafuza.