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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ode ao ódio

Calou-se, como quem espera o castigo. Como se o que acabara de dizer pudesse se materializar. Calou-se de susto, com pressa de ser outra, em outro lugar. Procurou ao redor alguém que pudesse ter dito... e era ela. Era lá dentro que ainda lia-se num cartaz mal-feito: “Odeio você”.

E entre tudo o pretendia dizer, entre tudo que o que não pretendia sentir... era isso enfim, que estava dito.

Lembrou-se da sua paixão pelas palavras. Pelas pessoas. Lembrou-se que odiar era um verbo que nunca havia conjugado. Que desde pequena soava-lhe feio, triste, infeliz. Não gostar era tão mais simples, mais leve. Odiar... odiar era desumano. E ela em todas as suas idiotices, sempre fora tão humana.

Não odiava nem jiló. Nem as injeções que durante a infância obrigaram-lhe a tomar. Detestava música eletrônica, celebridades instantâneas, traição de amigo. Mas, odiar era muito. Ou era pouco? Tanto que nunca quisera pra si.

E agora estava dito. Estava feito? E já havia um segundo depois. Aquele mórbido segundo antecedendo a respiração do “odiado”. A reação que podia ser todas, podia ser nenhuma. Mas, foi essa (que ele disse sem nenhum ódio): “Eu sei”.

Eu sei? Que é ele podia saber se ela (dona das palavras e ex-dona da razão) se quer ameaçara entender?

Mas ele sabia. E o fato o tornara ainda mais odiável. Aquela calma, aquela emoção estável dos que sabem... Era dele o controle e dela a dúvida. A culpa?

Então encheu-se de coragem e repetiu: “Odeio você”. E achou mais bonito e mais humano que todas as vezes que declarou amar alguém. Que o amor às vezes é tão previsível. Tão... clichê.

Naquela noite foi difícil adormecer, pensando se também era odiada. Queria tanto, ser odiada com aquela mesma ternura. Aquele mesmo desejo...