(...)

(...)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O que será?

Quando cheguei, percebi que o sorriso dela era novo. Era moço. Moço de uma maturidade comedida. Tudo nela era flor. À flor da pele, a flor dos olhos, as flores no cabelo. O que será que será?

Daí ele chegou. O jardineiro. O dono de todas aquelas flores. Cavalheiro vindo direto do vale das suas próprias dores, com sede dos lábios dela. Com sede de amor. Reclamou que há vinte minutos ela não o beijava. E beijou. Como se fosse única. Como se ele mesmo, fecundasse a flor.

Eu, espectadora desse deleite, sorri. E torci para que eles se descobrissem mais que um casal. Desejo que eles sejam sempre, um homem e uma mulher - de carne, osso e pólen.

Eu não sei mesmo o que é. O Chico já perguntava desde 1976:

O QUE SERÁ? (À FLOR DA PELE)
Chico Buarque

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores que vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
_________________________________________________
PS: Aninha... É lindo ver. Melhor ainda é sentir. Desejo que o amor floresça. Desejo que a paixão seja apenas o primeiro capítulo, da história mais emocionante da sua vida. E da dele... rsrsrsrs.
Obrigada pela inspiração, pela cumplicidade, pelo carinho e a emoção de sempre (que todos os nossos encontros e reencontros são especiais).
Beijo enoooooorme!

PS2: O que será não importa. Não faz a menor diferença. O que importa realmente, é O QUE É. Delicie-se!!!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Oitavo andar

Perdi um livro da Clarice na mudança. Não qualquer um, o melhor. Aquele onde ela se conta, solta nas palavras e nas emoções. O único onde a personagem principal é a própria. Faltava pouco pra ler as últimas crônicas. Tudo bem. Detesto mesmo chegar ao fim dos livros da Clarice. Me dá uma sensação horrível. Quase um luto. Como se ela se despedisse ao fim de uma longa conversa de vida e de comoções.

Por isso mesmo vou lendo aos poucos. Escolho os livros dela com cuidado e intercalo com outros autores. Vou adiando o momento de dizer que não falta nada. Nem quero pensar que um dia terei lido tudo o que ela deixou. Depois, viverei de quê?

E sem a companhia da senhora Lispector, essa semana fiquei presa no elevador. E comprovei que a calma é uma virtude preciosa. E que a solidão é uma utopia. Ninguém está totalmente só até se ver preso num elevador. Foram minutos de uma auto-análise perigosa. Fiquei pensando em tudo o que eu precisava fazer do lado de fora. E o lado de fora era impossível. E a vida que era totalmente possível me levou ali. Àquela contenção. Como se me obrigasse a parar de correr. Como se me obrigasse a olhar. Foi um tapa na cara e em seguida um beijo de ternura, porque gostei do que vi.

Eu, que só queria chegar ao oitavo andar, cheguei a mim mesma.

Me dei conta de que era preciso muito mais que aquela porta de aço pra me prender. Foram poucos, mas longos minutos de contemplação.

No final, sorri. E o porteiro me olhou assustado e observou: ainda bem que a senhora é muito calma.

Sim, ainda bem que agora sou.
_______________________________________________________
PS: Meu Rei. Falta pouco pra dizer. E muito pra sentir. Ainda bem. Considere-se beijado. Considere que eu sussurro essas palavras pra você. Me delicio com tudo o que não é publicável. Tudo o que sabemos sobre nós dois. E tudo o que não sabemos também. É lógico e nem precisava ser... rsrsrsrs

PS sobre o último texto: Fiquei impressionada. Incrível como as traições mobilizam sensações e reflexões em todos nós. Especialmente nas mulheres. Toda vez que toco nesse assunto por aqui, percebo que o tema não tem nada de pessoal. Que pena. Não precisava ser uma dor tão comum. Agradeço todos os comentários e todo o amor também. Foi quase terapia em grupo... conto sempre com vocês.

PS das Mitsuokas: Lelê, obrigada pelo apoio de sempre. Obrigada por me lembrar que vale a pena dizer a verdade mesmo quando o preço que se paga é altíssimo. Por você, assumo qualquer dívida e qualquer briga.
Dezah, algo me diz que você já voa muito mais alto do que todas nós podemos enxergar. Algo me diz que seu caminho será trilhado com uma força muito especial e que esses treze anos escondem uma alma de mulherão. Os homens que se cuidem. Não vai ser nada fácil merecer você. E eu espero sempre merecê-la, no meu blog e na minha vida.

PS da Toty: Também amo você. Você, que não é mais visita. É da casa. É da alma. O beijo e a admiração de sempre...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sobrenome

Ele ensaia uma despedida sofrida. Na UTI, perdeu a perna e a dignidade de uma autonomia muito peculiar. Nem parece o mesmo homem. E eu nem o conheci. Sei apenas das histórias, das saudades que minha avó nunca curou. Uma saudade que doeu até que ela perdesse os sentidos.

Ela gostava de cantar – e dizem que cantava bem. Mas, se apaixonou por ele e entregou tudo. Trocou todos os sonhos por um legítimo casamento à moda antiga: submissão, traição e choro guardado. E alguma faísca de amor que velava o seu sono.

E ela amanhecia grávida. E a promiscuidade daquele homem lhe trazia algumas doenças e obrigações. Antes de sair de casa, ele escolhia o terno que ela deveria lavar, passar e engomar pra que naquela noite ele encontrasse a outra. E foram tantas outras. Ele era mesmo um homem bonito. Apropriava-se de um tipo de beleza que não valia nada. Que não valia uma família. Talvez, nem um beijo vazio.

Até que um dia ela foi embora. Não que quisesse tanto. Só não queria mais.

E esse é o começo da minha história. É a herança que meu avô deixou. Ela passou o resto dos seus anos tentando reconstruir um sorriso e tudo o que lembro são das gargalhadas secas que no final soavam engasgadas, úmidas de lágrimas e lamentação. Lembro das trágicas experiências de amor das minhas tias – que cresceram avessas ao amor. Sem fé nos homens e na comunhão.

Vem dele esse sobrenome e esse medo danado de confiar. Medo de fechar os olhos em paz. Medo de que gostar de alguém possa fazer sentido.

Ainda assim, queria muito tê-lo conhecido. Meu avô. Quem sabe entenderia porque é que, até hoje, meu pai sente tanto a sua falta.

E eu, do que é que sinto falta?
__________________________________________________
PS Póstumo: Meu avô materno fez diferente. Um dia foi comprar cigarro e nunca mais voltou. Fugiu com a prima. Minha avó ficou sozinha com três filhos pequenos e uma vida inteira pra descobrir como enfrentar. Dona Rosa. Cheia de espinhos.
Minha mãe já era moça quando descobriu o seu endereço (em outro Estado e com outra família). Trocaram cartas e ele pediu que ela enviasse uma foto. A foto chegou e o perdão não. Ele censurou as roupas que ela usava em sua desnecessária resposta. E continuou fazendo falta. E era ainda mais grave: era a falta de um pai que nem existia.
Mãe, é que provavelmente ele julgava o comportamento dos outros baseado em si mesmo. Baseado em tudo o que foi capaz de fazer e especialmente em tudo aquilo que não fez.
E lá vamos nós, mais de cinqüenta anos depois, correndo atrás do prejuízo. Sobrevivendo numa fortaleza absolutamente matriarcal.

PS1: Será que eu preciso de terapia? Rsrsrsrs. Ou será que um beijo cheio de verdade me cura?

PS2: Depois de contar essas histórias, o assunto está esgotado. Fica claro que em mim, qualquer tipo de traição dói como estaca de madeira no peito. Não tolero, não perdôo e não sou cúmplice. Deixo aos permissivos, aos remissivos e aos indecisos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Feliz Aniversário!

Sei que é impossível dizer tudo. Não que não haja emoção. Aliás, haja e aja emoção. O que não há é vocabulário pra significar você. O que faltar, prometo mostrar num beijo. Um beijo cheio de presente e inquietações.

Feliz aniversário. Que seja o melhor de todos, que você mesmo talvez nunca tenha sido tão inteiro e tão seu. Desejo que cada vez mais, seja assim. Desejo tudo o que você mesmo deseja de si e do mundo. Que a cada ano, a cada dia e a cada hora você esteja mais perto de tudo o que quer. E que me queira também. Sem precauções.

Ah, que culpa eu tenho se você é assim, dos pés à cabeça, apaixonável? Rsrsrsrs

Um Amor Puro
(DJAVAN)

O que há dentro do meu coração
Eu tenho guardado pra te dar
E todas as horas que o tempo
Tem pra me conceder
São tuas até morrer

E a tua história, eu não sei
Mas me diga só o que for bom
Um amor tão puro que ainda nem sabe
A força que tem
é teu e de mais ninguém

Te adoro em tudo, tudo, tudo
Quero mais que tudo, tudo, tudo
Te amar sem limites
Viver uma grande história

Aqui ou noutro lugar
Que pode ser feio ou bonito
Se nós estivermos juntos
Haverá um céu azul

Um amor puro
Não sabe a força que tem
Meu amor eu juro
Ser teu e de mais ninguém
Um amor puro
__________________________________________________________
PS: No violão, dizem que vc só sabe mesmo quando consegue tocar Djavan. No amor, deve ser assim também... então lá vai. A primeira música do Djavan pra você, de aniversário.

PS2: Também ganhei um presente. Uma nova leitora. Muito, muito especial. Ela está descobrindo o mundo e outro dia eu soube que ela gosta de passear por aqui. Dêza, obrigada demais. Espero que as minhas palavras enfatizem ainda mais a sua vontade de experimentar. Crescer é mesmo uma delícia!!! Beijo enoooooooooorme!

PS3: Cá, Feliz aniversário também!!! Que a vida te dê de presente a coragem necessária p/ tomar as melhores decisões. Das pequenas às mais importantes. E que vc se torne uma grande mulher, dona de si mesma. Beijo!