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terça-feira, 8 de abril de 2008

Erros Púrpuros de Português

Amanheceu. E eu tão cansada de sonhar com você. Como se faltasse uma perna, o estômago, o próprio ar. Mas havia de encontrar uma saída gástrica – ácida, pra finalmente digerir teu gosto.

Nessa manhã, a mulher no espelho pertencia mais a você que a mim mesma, com todas aquelas marcas na pele: o caminho do teu cheiro. Desde as pontas dos teus dedos embebidos em urucum. Tua caligrafia em mim. Traços de uma aspereza leviana. Típicos de quem goza os campos sem ao menos reparar neles.

Salve Fernando Pessoa. Salve Clarice, Cecília, Antônio e Yaguarê. Salve Vinicius e suas morais. Ah, mas não salve esse desencanto da concubina emoldurada com todas as suas dores refletidas num rosto de Marquesa. De Santos e de Demônios.

Precisava exorcizar teus vestígios. Precisava devolver-me.
Daí cortei os cabelos. Lavei a alma com todo o soro que rebentava das glândulas lacrimais. Pintei os olhos e escolhi um colar. Refiz o contorno da boca com batom cor de deusa e já podia sentir. Tudo aquilo além do espelho era meu. Um mundo inteiro de encontros e desencontros especiais.

Tonteava, experimentando meu próprio gosto. Foi quando tropecei noutro sorriso - forte, livre de histórias e pretensões. E pude ouvir o seu perfume. Seus poros falaram aos meus.

Que seja. E seja mais. Porque todas essas cores são minhas. E os devaneios, os segundos. A poesia. E os olhares que vigiam os espasmos tímidos de uma cumplicidade recém-nascida, também. E as marcas no meu corpo. Os calos nos dedos, denunciando as cordas do violão. Meus.

E ele tem gosto de pêra. É de uma suavidade suculenta. Quero beijar seus olhos. A música tem um novo tom e a vida me convida a dançar...

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PS 1: Agradecimentos à Toty, porque suas palavras conversam com minha alma. E a Dadá, que suas palavras me emocionam especialmente. Ao grande amigo Dom Gracioli, que sempre diz: "Alê, poucas idéias"... Blééééw.

Ah, e à minha grande-pequena irmã, que voltou a colorir nossas vidas com seus pincéis. Sou sua fã.

PS 2: O nome do blog é uma homenagem à minha avó materna. Dona Rosa. Uma mameluca com nome de Flor. Nordestina porreta que não conhecia o alfabeto, mas trazia nos dentes uma força ingenuamente feminista.

">Ei, Dona Rosa, obrigada. Há dois anos não acreditei quando disse que estava indo embora, mas saiba que toda a sua vida está em mim. Em nós. Mas, eu não sou rosa, sou genuinamente cafuza.

4 comentários:

DANIEL MUNDURUKU disse...

Alê, vc conseguiu colocar em poucas linhas um mundo de sentimentos trazendo para dentro de si os sentimento dos outros autores os quais conhece bem.
É um texto denso que mostra seu talento para as letras...apesar de vc insistir em ser psicóloga, rsrsrs.
Continue nos enriquecendo com sua poesia.
Daniel

TOTYNIX disse...

Dona Cafuza!(amei)
Incrivelmwnte belo. Como pode esconder-se por tanto tempo?
Texto lindo, envolvente, rico, original...
Que nossas almas possam sempre se comunicar lindamente...
Vamos meter poesia, na bagunça do dia-dia e na bagunça eterna que são nossos corações...rs
Beijo grande querida. Sinto sua falta também...LUZ!

Anônimo disse...

Deusa ou Rainha?!?!
Estava com saudades de tudo isso, na verdade não podemos parar de fazer aquilo que nos faz melhor e transforma o que vivemos hoje, nossa bagagem é muito extensa para ser deixada de lado.
O seu valor é você quem faz, os amores são conseqüência disso.
Te amo demais!!!
E, preciso que também sinta isso SEMPRE.

Rosi (já fui pequena, rsrsrsrs)

PS.: A mamãe já viu?

Bjo.

Anônimo disse...

Cafuza, confusa, Chica da Silva ou simples e intensamente você!
É isso ái, não se confunda mais e se exponha!!!!
Parabéns minha amiga atemporal, a vida é mesmo um vendaval e que bom que nos temos inteiros para recebê-lo.
Sua fã, Dadá