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sábado, 6 de junho de 2009

Senhora, não me perdoe.

Peço licença pra contar uma história que não é minha. Uma história que dói em outros corações. Mentira. É um pouco minha também. Só ele é que não é meu.
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Senhora, amo o seu marido. E não tive culpa nem direito à recusa. Ele chegou em seu cavalo branco numa noite seca. Lindo, sem aliança, sem memória, sem perdão. Com sua espada em punho e o desejo de me coroar.

E era só. E a sua solidão cabia no meu peito. E o meu peito cabia em suas mãos. Toda noite eu ansiava, trêmula. Como quem tem fome. Como quem tem sonhos que a vida de repente oferece numa bandeja. Um banquete deslumbrante de desejos, promessas e sensações.

Então ele chegava. E era gula, era sede, era fúria – e alguma paz, que acalmava os fantasmas que vivem embaixo da minha cama. Era amor. Como nunca havia sido. Tanto. Como se os dias fossem apenas intervalos entre os nossos encontros. E as nossas conversas enchiam de luz a madrugada. Éramos sonhos que não queriam amanhecer.

Senhora, lamento informar que ele também me amou. Com outro nome, outros motivos, outros temores. Mas eram exatamente os mesmos olhos. Aqueles que trazem o mar, o céu e a confusão. Morei nos olhos do seu marido.
A casa estava vazia, triste e empoeirada. E eu...

Eu levei flores e canções. Dei de presente a ele os filhos que não tive e todos os beijos que não dei. Aquele abraço, que guardava pro final.

Não me pergunte de agora. Agora a verdade dilacera. A covardia e a ausência dele são os meus soluços e a minha falta de ar.

Senhora, nunca quis o seu lugar. O seu lugar de vítima e de madrasta desse amor. Tenho coroa e meu amor é realeza. Serei rainha, mesmo que de outros reinos. Mesmo que hoje, eu seja a princesa que se apaixonou pelo bobo da corte.

Sim, Senhora. Amo esse bobo que dorme ao seu lado. E não me perdoe, que não me desculpo nem me arrependo. E não a perdôo também, por não amá-lo como eu amo. Desejo que um dia possa encontrar o seu príncipe. E que sinta o que eu senti, mesmo que seja por uma noite.

E eu, que de tantas migalhas me sinto anêmica, vou descansar. Uma longa estrada me espera.

E uma vida inteira, pra descobrir como viver. Senhora, se puder, me conte o seu segredo. Como é possível viver assim, ao lado dele sem ele?

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PS: Amiga, ele não é seu, nem é dela. Talvez não seja nem dele mesmo. Espero que esse tenha sido o seu amor bastardo. E que o legítimo te atropele na próxima esquina. E que seja forte, p/ segurar vc no braço e no abraço. Que seja o teu rei.
E espero ter alcançado as emoções certas p/ tentar dizer tanta coisa. Me perdoe se não fizer sentido. Obrigada por confiar o seu coração às minhas palavras.
A sua história me deu a oportunidade de reviver a minha.

Amo você.

3 comentários:

Anônimo disse...

É amiga, como sempre, achou as palavras certas.

Leio revivendo as emoções, o desespero e a desesperança.

Não viverei mais de migalhas, sei que viverei momentos melhores e mais intensos e verdadeiros do que estes.

E um dia vc escreverá uma nova história que nos fará chorar, mas de muita ALEGRIA.

Te adoro!!!!


Bjos

Anônimo disse...

Nossa Cabecinha...perfeito...eu sei q não foi escrito para mim...mas caiu perfeito...acho que muitas mulheres passam por isso e é foda...te amo muito...

TOTYNIX disse...

Como sempre lindo...A história é triste e também revivi um pouco a minha história nessa história.Acho que no final das contas, o amor nem é tão único. Acho que justamente por isso existem tantas poesias, músicas e filmes falando de amor. Esse danado, no fundo, acho que quer mesmo ser estrela...Beijooo