(...)

(...)

domingo, 22 de agosto de 2010

Lido

Ela não sabia se era coisa de sentir. Ou de comer. Talvez, fosse de sonhar. Que era sempre ele escondido entre as páginas que folheava – perigosamente distraída. E fingia não vê-lo. E ele, fingia nunca ter estado ali.

Mas, o que havia de fazer se estava? Todo. A cada estrofe mais longe. Que era pra poder voltar. Então vinha mais perto, mais certo, mais seu. Era brincadeira de criança. Poesia de ciranda e em todas as flores: bem-me-quer.

Os dias eram impossíveis e a noite, criança também, era de brincar. E quando naquela casa sem teto, os olhos em todos os céus, a boca em todas as palavras... Eram eles!

E o sonho, era de quem?

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Regurgitar

Há tempos não ouso dizer. Que não me sobra um verso, um terço, uma poeira se quer. Nenhuma paz. Nenhum tom cintilante, nem vestígios daquela canção lá de dentro. Lá de trás.

É que um de nós precisava de óculos. Na alma.

Um de nós precisava não se enganar. Que tomamos juntos um porre de covardia e a ressaca insiste em se perpetuar.

A cabeça dói. Na minha taça, a covardia era mais doce, mais tenra, mordaz. Na sua era qualquer uma. Qualquer uma que não precipitasse na boca o fel. Qualquer uma que borbulhasse, distraindo o seu próprio paladar – perplexo, temeroso, condenado à mesma dose de leite morno que a mãe (e a vida) diariamente oferecia-lhe.

Achava que era o vinho. Mas eram aquelas doses de covardia, amargurando até matá-las: as borboletas no estômago. Era o susto. Era a vida. Com medo de ser ele mesmo, foi ser outro. Mais simples. Mais confortável nos olhares alheios. Mais feliz?
_____________________________________________________________
PS: Vinicius disse que o ódio era um amor exaltado, exagerado. Mas, as vezes é outra coisa. As vezes as borboletas agoniadas no estômago nos fazem vomitar.

E é por isso que hoje, conversando com a Gabi... achei tão bonito. Bem disse ela que um dia, você acorda ao lado dele e a borboleta vem livre, linda, calma... pousa na nossa cabeça, no colo, na flor.

Que assim seja. Borboletas voando. Pousando, como se beijassem o amor. Mas, nada de clausura no estômago... rsrsrsrs. Chega.

E eu, que não sei perdoar, agradeço. Viva a liberdade das almas, das bocas, das borboletas. Vivam os dias seguintes. Todos.

Ah, claro. A música:

"Obrigado (Por Ter Se Mandado)"
Cazuza
(mas eu prefiro a interpretação da Cássia Eller, que ninguém colocou tanta força na frase OBRIGADO POR ME TRAIR/ME DAR INSPIRAÇÃO/PRA EU GANHAR DINHEIROOOOOOOOOOOO...)

Obrigado
Por ter se mandado
Ter me condenado a tanta liberdade
Pelas tardes nunca foi tão tarde
Teus abraços, tuas ameaças

Obrigado
Por eu ter te amado
Com a fidelidade de um bicho amestrado
Pelas vezes que eu chorei sem vontade
Pra te impressionar, causar piedade

Pelos dias de cão, muito obrigado
Pela frase feita
Por esculhambar meu coração
Antiquado e careta
Me trair, me dar inspiração
Pra eu ganhar dinheiro

Obrigado
Por ter se mandado
Ter me acordado pra realidade
Das pessoas que eu já nem lembrava
Pareciam todas ter a tua cara

Obrigado
Por não ter voltado
Pra buscar as coisas que se acabaram
E também por não ter dito obrigado
Ter levado a ingratidão bem guardada

Pelos dias de cão, muito obrigado
Pela frase feita
Por esculhambar meu coração
Antiquado e careta
Me trair, me dar inspiração
Pra eu ganhar dinheiro
____________________________________________________
PS2: O pior é saber que eu ganhei mesmo inspiração e dinheiro, enquanto as borboletas agonizavam no meu estômago. Parodoxo total. Capitalismo e desamor em colapso.
Mas, aprendi. ESTÔMAGO NÃO É LUGAR DE BORBOLETA...

domingo, 1 de agosto de 2010

Tarja Preta

Não podia saber que haveria amanhã. Que buscaríamos o Sol. Que faríamos do desmaio e da arritmia um casal.

Romance tarja preta. Que não se trata a maturidade da loucura com aspirina. Que somos suficientemente loucos pra querer. O risco, a convicção, a companhia. É que ainda não sabemos de nada que nos preocupe. E gostamos assim.

E os nossos segredos se admiram. Eu, que sempre brinquei com meus limites reencontrei nele a cumplicidade desmedida. Que perigo ser eu mesma, ao lado de alguém que também é. É tanto que o coração do moço bate mais forte que os outros. Coração autônomo, rebelde, avesso ao manual de instruções.

Ele é Palmeiras e tem uma nêga chamada Alessandra. E eu? Tenho Tutano na mamadeira, fortalecendo o sangue. Tenho um desejo recíproco. Temos tempo a ganhar, medo a perder, quereres a desvendar...

E é por isso que aplaudem (e cantam!) quando passamos. Bela surpresa? Que a nossa loucura inspira os corações vazios. Àqueles que não aprenderam ainda, aconselho:

Experimentem. Cair em si, a dois.
______________________________________________________
Cair em Si
Djavan

Às vezes parece um tambor,
Mas não é tambor nem nada, é o coração
Que fica entre a paz e o terror
Quando vejo a sua cara
Entre as caras da multidão
Logo fico cansado
Como se tivesse estado a correr
Num segundo já me sinto
Sem uma gota de sangue
Mal consigo respirar, sobreviver
Só Deus sabe o saldo
Creditado ao amor que lhe dou
Se terei sono tranqüilo ou vida sobressaltada
Não sei nada, não sei nada.
Olhar pro sol, vencer o mar,
Admitir, brigar com o par.. Isso é nada!
Não ter você, cair em si,
Morrer de amor não é o fim mas me acaba...
______________________________________________________
PS: E ainda não cantei só pra ele. Tutano, me aguarde.
(...)
"Há previsão de Sol para os próximos dias? E quantas Evas fizeram-se de tuas costelas? Quantas acordaram no teu colo, num sopro de vida doce, após tanta morte explodindo num desmaio?

Se tiveres medo, saiba que já tive.

Hoje, quero oxigênio e silêncio.

Amanhã, cantarei pra ti."

Dona Cafuza, abril de 2008 – “(RE)VIRADA”
(http://donacafuza.blogspot.com/2008/04/revirada_30.html)