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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Oitavo andar

Perdi um livro da Clarice na mudança. Não qualquer um, o melhor. Aquele onde ela se conta, solta nas palavras e nas emoções. O único onde a personagem principal é a própria. Faltava pouco pra ler as últimas crônicas. Tudo bem. Detesto mesmo chegar ao fim dos livros da Clarice. Me dá uma sensação horrível. Quase um luto. Como se ela se despedisse ao fim de uma longa conversa de vida e de comoções.

Por isso mesmo vou lendo aos poucos. Escolho os livros dela com cuidado e intercalo com outros autores. Vou adiando o momento de dizer que não falta nada. Nem quero pensar que um dia terei lido tudo o que ela deixou. Depois, viverei de quê?

E sem a companhia da senhora Lispector, essa semana fiquei presa no elevador. E comprovei que a calma é uma virtude preciosa. E que a solidão é uma utopia. Ninguém está totalmente só até se ver preso num elevador. Foram minutos de uma auto-análise perigosa. Fiquei pensando em tudo o que eu precisava fazer do lado de fora. E o lado de fora era impossível. E a vida que era totalmente possível me levou ali. Àquela contenção. Como se me obrigasse a parar de correr. Como se me obrigasse a olhar. Foi um tapa na cara e em seguida um beijo de ternura, porque gostei do que vi.

Eu, que só queria chegar ao oitavo andar, cheguei a mim mesma.

Me dei conta de que era preciso muito mais que aquela porta de aço pra me prender. Foram poucos, mas longos minutos de contemplação.

No final, sorri. E o porteiro me olhou assustado e observou: ainda bem que a senhora é muito calma.

Sim, ainda bem que agora sou.
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PS: Meu Rei. Falta pouco pra dizer. E muito pra sentir. Ainda bem. Considere-se beijado. Considere que eu sussurro essas palavras pra você. Me delicio com tudo o que não é publicável. Tudo o que sabemos sobre nós dois. E tudo o que não sabemos também. É lógico e nem precisava ser... rsrsrsrs

PS sobre o último texto: Fiquei impressionada. Incrível como as traições mobilizam sensações e reflexões em todos nós. Especialmente nas mulheres. Toda vez que toco nesse assunto por aqui, percebo que o tema não tem nada de pessoal. Que pena. Não precisava ser uma dor tão comum. Agradeço todos os comentários e todo o amor também. Foi quase terapia em grupo... conto sempre com vocês.

PS das Mitsuokas: Lelê, obrigada pelo apoio de sempre. Obrigada por me lembrar que vale a pena dizer a verdade mesmo quando o preço que se paga é altíssimo. Por você, assumo qualquer dívida e qualquer briga.
Dezah, algo me diz que você já voa muito mais alto do que todas nós podemos enxergar. Algo me diz que seu caminho será trilhado com uma força muito especial e que esses treze anos escondem uma alma de mulherão. Os homens que se cuidem. Não vai ser nada fácil merecer você. E eu espero sempre merecê-la, no meu blog e na minha vida.

PS da Toty: Também amo você. Você, que não é mais visita. É da casa. É da alma. O beijo e a admiração de sempre...

4 comentários:

Camilinha disse...

Minha nossa!
AMEI esse seu texto...alias por sinal, sou fã de Clarice. O que seria de nós, sem suas palavras às vezes?

Você presa no elevador, é como eu me sinto no metro! rs..real comparação de momentos, quando meu livro fica na gaveta, e meu mp3 acaba a bateria. Aquele silêncio, e os minutos que passamos pensando na vida! E sinceramente, às vezes deseje que fique presa mais vezes, assim o silêncio sempre vai ajudar de uma forma ou de outra a refletir por alguns minutos!

Alias um dos últimos textos que li dela, me fez lembrar-se de você! “Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo”... mais agora paro e penso, será que você tem medo ainda? Acho que não...

Boa semana pra nós!

Beijos Alê, se cuida! Adoro você!

Anônimo disse...

Esperei mais de 20 minutos e nada...
O que será que aconteceu?
Tentei ligar e nada....
De repente vc entra pela porta. Pálida!
E de pensar que este oitavo andar é exatamente o do meu apartamento!
É uma pena que só em momentos como estes é que temos a oportunidade de olhar pra dentro.
Achamos que somos livres e não nos conhecemos, não conhecemos nem os nossos próprios limites.
Ainda bem que vc conseguiu enxergar um propósito, um caminho tão lindo dentro de vc e dentro daquele elevador.
Assim como vc foi arrancada de lá, espero que vc possa ser arrancada das suas prisões, das suas angústias e dos seus medos.

Um beijo

Faby

Equipe disse...

Mais um texto maravilhoso., eu nunca li a Clarice, só leio crepusculo e os livros que a escola manda, rsrs.
As vezes, uns minutos a sós nos faz refletir muito sobre a vida, eu por exemplo, ficaria hiper preocupada, se ficasse presa no elevador. Eu faria um escandalo, coitado do porteiro HAHA.
Ah Lelê,sempre vai ter um espaço pra você na minha vida,e eu sempre vou comentar no seu blog., seus textos já fazem parte do meu cotidiano, e do de muita gente por aqui =]
Num si preocupe (o sutaque da gangue). rsrsrss.
Bgsmil:*
Opa,já ia me esquecendo, vai aparecer como "Eu" no comentário,mais é a Dezah. HAUAUAUHAUHAH.

Gih disse...

"Seja um minuto ou uma hora, aprende-se a valorizar o silêncio da solidão.
Palavra vista constantemente como sinônimo de tristeza, mas que se olharmos profundamente, esta interligada com autoconhecimento e aceitação.
Ficar só por opção é maravilhoso, no seu caso não foi por opção, mais sei que se pudesse escolher viveria esses minutos preciosos novamente sem pestanejar.
Acho até que o mundo devia obrigatoriamente parar por alguns minutos, para que as pessoas pensassem mais ou em alguns casos menos."
Mais um texto maravilhoso Alê.
Te amoO sempre
bjOos