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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sobrenome

Ele ensaia uma despedida sofrida. Na UTI, perdeu a perna e a dignidade de uma autonomia muito peculiar. Nem parece o mesmo homem. E eu nem o conheci. Sei apenas das histórias, das saudades que minha avó nunca curou. Uma saudade que doeu até que ela perdesse os sentidos.

Ela gostava de cantar – e dizem que cantava bem. Mas, se apaixonou por ele e entregou tudo. Trocou todos os sonhos por um legítimo casamento à moda antiga: submissão, traição e choro guardado. E alguma faísca de amor que velava o seu sono.

E ela amanhecia grávida. E a promiscuidade daquele homem lhe trazia algumas doenças e obrigações. Antes de sair de casa, ele escolhia o terno que ela deveria lavar, passar e engomar pra que naquela noite ele encontrasse a outra. E foram tantas outras. Ele era mesmo um homem bonito. Apropriava-se de um tipo de beleza que não valia nada. Que não valia uma família. Talvez, nem um beijo vazio.

Até que um dia ela foi embora. Não que quisesse tanto. Só não queria mais.

E esse é o começo da minha história. É a herança que meu avô deixou. Ela passou o resto dos seus anos tentando reconstruir um sorriso e tudo o que lembro são das gargalhadas secas que no final soavam engasgadas, úmidas de lágrimas e lamentação. Lembro das trágicas experiências de amor das minhas tias – que cresceram avessas ao amor. Sem fé nos homens e na comunhão.

Vem dele esse sobrenome e esse medo danado de confiar. Medo de fechar os olhos em paz. Medo de que gostar de alguém possa fazer sentido.

Ainda assim, queria muito tê-lo conhecido. Meu avô. Quem sabe entenderia porque é que, até hoje, meu pai sente tanto a sua falta.

E eu, do que é que sinto falta?
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PS Póstumo: Meu avô materno fez diferente. Um dia foi comprar cigarro e nunca mais voltou. Fugiu com a prima. Minha avó ficou sozinha com três filhos pequenos e uma vida inteira pra descobrir como enfrentar. Dona Rosa. Cheia de espinhos.
Minha mãe já era moça quando descobriu o seu endereço (em outro Estado e com outra família). Trocaram cartas e ele pediu que ela enviasse uma foto. A foto chegou e o perdão não. Ele censurou as roupas que ela usava em sua desnecessária resposta. E continuou fazendo falta. E era ainda mais grave: era a falta de um pai que nem existia.
Mãe, é que provavelmente ele julgava o comportamento dos outros baseado em si mesmo. Baseado em tudo o que foi capaz de fazer e especialmente em tudo aquilo que não fez.
E lá vamos nós, mais de cinqüenta anos depois, correndo atrás do prejuízo. Sobrevivendo numa fortaleza absolutamente matriarcal.

PS1: Será que eu preciso de terapia? Rsrsrsrs. Ou será que um beijo cheio de verdade me cura?

PS2: Depois de contar essas histórias, o assunto está esgotado. Fica claro que em mim, qualquer tipo de traição dói como estaca de madeira no peito. Não tolero, não perdôo e não sou cúmplice. Deixo aos permissivos, aos remissivos e aos indecisos.

6 comentários:

Lelê disse...

Lelê...putz sem palavras...realmente qualquer tipo de traição dói...já fui traída, doeu d+, perdoei e me arrependi de ter perdoado, tenho certeza que nunca mais vou perdoar de novo, parece que agora tô vacinada, se a pessoa trai é pq não vale a pena...mas já trai e não me arrependi, pq se trai alguma coisa faltava...já fui cúmplice...mas sem saber a gravidade da situação...desculpa se magoei alguém...essa não foi a minha intenção...
Cabecinha eu sei que em vc posso confiar...sei que vc nunca vai ser cumplice...pq vc já me provou isso várias vezes...muito obrigada por ser sempre sincera...e me dizer sempre a verdade...mesmo doendo d+...pode ter certeza que vc mudou a minha vida...imagine o que seria dela se não fosse você...vou te agradecer sempre por ter aberto os meus olhos e por ter ficado do meu lado não importando a minha decisão...muito obrigada por ser assim...e pode ter certeza...pra qualquer coisa...eu tô aqui...
te amuuuuuu
bjusss

Dezah disse...

Oi Lelê.

Infelizmente, eu não tenho nem um dos meus avôs.
Por parte materna, nem cheguei a conhecer, por parte paterno, cheguei a conhecer,e ama-lo muito.
Minha vó ficou muito triste quando ele se foi, não pude sintir, pq eu era muito pequena, mais hj posso entender.

Obs: todo mundo vira poeta no seu blog ♥

TOTYNIX disse...

Alê, torço para que consigamos manter nossa inteligência e sensatez. Sempre! Não importando, o quão grande seja nosso amor.
Sou sua fã incondicional, na vida e na arte!
Um beijo linda! Te amo!

Gih disse...

Mais um texto muito loko..
e claro naum dispensa comentarios, pois eles já fazem parte de tudo isso...
Com certeza Não faço, acho injusto comigo e com o outro, por consequência naum tolero, cúmplice....talvez do seu ponto de vista, pois tenho completa decisão de evitar me envolver na vida de terceiros, enquanto isso for possivel, pois acredito que as pessoas vivem aquilo que procuram viver.
Algumas preferem fechar os olhos e focar em outros pontos neh...
Assim eu não me considero cúmplice, conselheira sim, porem cada um traça teu proprio destino.
Porém respeito sim tua opnião e de todos eh claro.
Deixo meus bjoOs e abraços
Lhe amoO

Unknown disse...

Somos o que podemos ser...
As histórias se repetem somente enquanto permitirmos que se repitam.
Somos o que queremos ser... mas é preciso realmente querer...
A desconsideração, o desamor e o desrespeito só acontecem quando a gente não se ama como se deve amar.

Pense nisso... Ah! Este comentário é só pra você, Alê.

Beijos,

Camilinha disse...

È Alê! O texto ta foda mesmo, fiquei pensando em como comentar..

Mais na real? Ninguém é perfeito! As vezes sem intenção de fazer mal, as vezes agindo por impulso..mais cada um sabe de si, o que se espera o que se sente, e o que se sofre...

Traição, dói, machuca, fere! Mais o tempo..cura tudo isso..ninguem eh digno dessa vida de trair ninguem..afinal um dia vai provar do próprio veneno..

O tempo cura qualquer dor por mais 'desgraçada' que seja...!!!!

Deixe que passe!

Tamo aiii..

te amo da ganguee eh nóises..