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domingo, 6 de fevereiro de 2011

(EX)Porta-bandeira

De longe, eram o casal mais importante da escola. De perto, era muito longe. O samba ardia nós pés e nos sorrisos cansados. É que felicidade também cansa. Dói e acaba na avenida o sonho de um ano inteiro. Duas vidas inteiras. É que eram feitos daquele amor girando, suando, de pé. Ela mantinha a bandeira no alto, mas quando a saia rodava é que era emoção. Os olhos passavam por ele marcando o desejo de voltar. Ia... como gostava de Ir! Era como ventar. E voltava, para vê-lo devolver-lhe o equilíbrio com as mãos.

Então desfilavam, de mãos dadas. Faltava o fôlego e o coração exagerava, que também queria sambar. Com a ponta dos dedos, ele a dizia o que fazer... então giravam, sorriam – e perdiam-se... que sem as mãos, nada mais se davam.

E percebeu que o que mais gostava naquele mestre-sala era a maneira como guardava os olhos sob o chapéu. Mas, era o mesmo chapéu que garantia-lhe os dez centímetros de distância e sombreava as verdades e os ensaios de amor.

Rodando, lembrou-se que ele nunca fechava os olhos. E como é que seria capaz de sentir, se não os fechasse? Como é que seria capaz de vê-la?

Daí perdeu o passo, o jeito, a paz. Escapou-lhe a letra do samba-enredo. A bandeira estampava uma causa que nem era sua. Ficou tonta, mas girando viu tudo. Tudo! E na volta, já não alcançava as mãos dele. Nem as pontas dos dedos, nem o olhar. Tropeçando em si mesma, caiu.

Soube que naquele ano, além da cumplicidade, perderiam o carnaval. Perderiam o que nunca haviam tido. Perderiam-se...

O ensaio acabou. Desceu do salto e a bandeira descansava no chão. O mestre-sala beijou-lhe o rosto, como se a perdoasse por esperar que ele sempre estivesse ali, oferecendo-lhe as mãos. Ele a perdoava, enfim. Mas, ela já não era capaz de perdoar-se. Dançando com ele, algumas vezes, teria mesmo que cair. Distraído debaixo do chapéu, não percebeu que ela jamais voltaria.

Quem sabe em outra escola – outra fantasia...

Foi experimentar quem seria sem a bandeira, os holofotes e a bateria. Foi sambar a vida, sem idéias geniais ou apurações.

Pisou no pé do diretor de harmonia e sorriu. Quis mesmo machucá-lo. Quis provocar no mundo alguma dor que fosse... humana. Sorriu mais. Sorriu sempre. Descompassada, desafinada. E feliz.
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PS: Aviso aos navegantes: Talvez, as redes sociais sejam o álibi perfeito para a hipocrisia. A fantasia perfeita para as relações. A absolvição àqueles incapazes de olhar nos olhos, incapazes de lidar com as verdades (suas e alheias). Eu... não acredito que um scrap substitua um abraço. Não suporto ser marcada em fotos por amigos que não me veem há anos. Não mando recados maquiados em nicks. Não consigo “curtir” nada num click. Nem meço o meu coração (e o dos outros) num “emotion”.

Ah... me mandem cartas. Venham fazer parte da minha vida. Venham me mostrar algo que mereça a minha atenção. E emoção.

PS2: Ah, tenho me divertido (e me emocionado) com a literatura do Fábio Roberto. Eu, que já era sua fã, agora tenho o privilégio de mordiscar quase que diariamente suas loucuras:

"Uma mulher é realmente importante para você quando não te faz falta. Faz pênalti."

Fá, genial!!! http://faroberto.blogspot.com/

4 comentários:

Cåm¡£¡ñhå disse...

Uffa!
Consegui largar tudo de lado por um momento e vim finalmente comentar.

Eu não acredito que palavras substituam atitudes. Prefiro um abraço, do que uma mensagem falando, eu te adoro. A frieza as vezes nas palavras não suprimem a real necessidade de você ter alguém por perto. E quem é de verdade sabe quem é de mentira SEMPRE, não importa quanto tempo, a verdade vem a tona quando menos esperamos.Enfim. Palavras na maioria das vezes são frias. Sem sentimento. Sem vida.

Escola de samba... quando o amor não é suficiente, quando não vem realmente de dentro, não adianta! Não tem quimica, não tem nada. Se quando você chega na quadra, não sente suas pernas bambiarem, seu coração acelerar, como se a sua vontade fosse sair toda pela boca. Fuja! Corra! Saia Fora! Não é perigo. É uma fria.

È como se tudo ficasse vermelho na sua volta, como se você fosse o fogo, e a outra parte o gelo. Aquele gelo de Iceberg, forte, que dificilmente alguem, ou algo consegue quebrar. Nem o mais nobre dos sentimentos pode derretê-lo. Não basta querer, tem que ser mais. Tem que ter vontade, vontade de dentro! Não vontade esquecida, a dez centimetros. Não vontade de uma noite, não vontade de um final de semana, e sim VONTADE! Todos os dias, todas as horas! E o mais importante, se fazer existir. Ter sentimentos. Pq nem a mais forte pedra vai resistir, e se resiste, se tudo causa apenas uma rachadura. Esquece! Deixa pra lá. Não que o dificil não tenha seus valores, seu significado. Mais é que ninguém no mundo consegue viver de palavras. Vivemos de atitudes, de amor e de amor! Seja amizade, ou...

Gênia! Um dia você mesma me falou uma frase, que eu guardo até hoje, e HOJE serve pra você! "Agente nunca perde, aquilo que nunca possuiu de verdade", o verdadeiro é pra sempre, as dúvidas, são passageiras e o tempo apaga..a chuva leva...e as vezes a distância vai destruir.

Se é pra desfilar. Que seja de verdade. Com emoção e sorriso no rosto e não apenas para se iludir, e se confundir.

Lindo texto!

Beijo!

Fábio Roberto disse...

Eu creio que a porta-bandeira se libertou do carnaval para sambar o mundo! Vamos trocando emoções Alê! Beijos Muitos

bastaestarvivo disse...

Lindo lindo como você contou essa história com a exata mistura que tem de belo e triste e a beleza do recomeço.
Bonito demais mesmo, coisa fina.
E sobre o social que se faz nas redes sociais eu não poderia concordar mais com vc.(só pra variar né...)
Bj
A.

Alê Ferraz disse...

Adelson, querido... Pra viver basta estar vivo, não é?

E as redes sociais já não me fazem nem cócegas. Tô melhor assim, por enquanto. Quando descansar, quando for capaz de ressignificá-las... quem sabe até volto?

Beijo!