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sábado, 26 de junho de 2010

Taquicardia

Era uma alegria distraída
Falsa, murcha
De quem se entorpece – num gole cheio
de pequenas dúvidas

O amor: enfermidade
Dores, pílulas e fantasias
de Aniversário, Parabéns!!!
Quando tudo o que teria sido, jaz

N'outro dia a vida, pincelando surpresas
abstrata a tristeza, o susto – a confissão
Uma avalanche de vestígios
Lavando pés, mãos e almas

O coração com pressa
pulando na boca seca
desejando o abismo do mundo
Que não havia mesmo
absolvição

Um céu de pretéritos
- pontiagudos e imperfeitos
Um perigo, um pecado
Uma dó

E foi-se, num segundo
A minha ingênua e cara paz.
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Daí vem a Gal, o Chico e o Djavan, cantando um milhão de vezes:

NUVEM NEGRA
Composição: Djavan

Não adianta
Me ver sorrir
Espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilhada

Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair
Se ligarem não estou

À manhã que vem
Nem bom-dia eu vou dar
Se chegar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei
Tá difícil ser eu
Sem reclamar de tudo

Passa a nuvem negra
Larga o dia
E vê se leva o mal
Que me arrasou
Pra que não faça sofrer
Mais ninguém

Esse amor
Que é raro
E é preciso
Pra nos levantar
Me derrubou
Não sabe parar
De crescer
E doer...
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PS: Gabi, minha borboleta querida, testemunha do inferno que fez-se em mim... Ajuda a cantar (que do canto vem o bálsamo): “Passa a nuvem negra, larga o dia e vê se leva o mal que me arrasou (...) Esse amor que é raro e é preciso pra nos levantar, me derrubou”.

Ah, Nuvem, passa. De vez...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Quarenta e nove luas

Cheguei à última página, ofegante. Havia adiado aquele encontro com o fim como se fugisse de um luto. Quase quinhentas folhas que percorri descalça, sem pressa, reconhecendo que Dona Clarice não é mesmo temporal. Reli muitos trechos e fiz daquela relíquia quase mil páginas e milhões de descobertas e emoções. E quantos sabores podem ter uma emoção?

Ah, não queria mesmo a despedida e sabia que viria o vazio. Sabia que os outros livros na cabeceira não significariam nada depois desse. Depois dessa.

Então abri o vinho. Papel, caneta e um cigarro. Mas lembrei que não era hora. Fazia um ano e fazia frio. Tão frio que a caneta falhava, a palavra engasgava e a memória era o calcanhar de Aquiles. E eu era apenas Alessandra, cheia de calcanhares saltando da imensidão. Era a saudade - imensa e turva e triste. A saudade.

Quinhentas páginas, quarenta e nove luas e doze meses. O ciclo lunar (ou lunático?) onde fui de preferida à preterida, do amor à condenação.

Eu diria um palavrão. Um bem feio e forte, que insano esbofetearia o coração. Mas fiquei com dó. Que culpa tem o pobre se a cabeça é burra e sofre de memória boa?

E se a memória boa é que é ruim, cuidemos das flechas cravadas nos calcanhares. Cuidemos, que é preciso seguir com os pés sadios. E as mãos livres.

Ah, as mãos. Elas, que como bem disse Vinicius "tateiam antes de ter".
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PS: Não era nada disso o que queria dizer. Mas, dane-se. E o livro era a Descoberta do Mundo. Antes de terminar, passei a tarde numa livraria e me dei três bons presentes. Mas trocaria todos os presentes (!) por um passado. Um só. É que o futuro sem ele me parece um tédio. Um tédio novo a cada dia. E a cada noite, um velho sonho e um novo livro (que não saciam a fome).

E agora? Agora eu diria outro bom e feio palavrão e ainda assim, trocaria tudo. Nada. Tudo?

PS sobre a data: Não que seja relevante, mas esse texto é de maio. A Gabi diria que é um segredo de travesseiro. Um segredo assim... póstumo. E em junho seriam mais de 49 luas. E mais quantas páginas e estrelas?