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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ímpar

Era inteiro dela. Até seus cromossomos pediam e esperavam por ela. Sabiam do cheiro, sabiam do beijo, sabiam que era alguma coisa além – muito além do arroz com feijão, desses amores cotidianos e amenos.

E a menos que fossem dois loucos, não se pertenceriam. A menos que fossem covardes, não jogariam pela janela aquele banquete de emoções experimentadas em cada sussurro, em cada sorriso disfarçado fazendo névoa, fazendo cócegas no ar.

Então, deixaram-se inundar de um amor que mataria os anêmicos. Que era preciso sangue quando se falta o fôlego. Era preciso hemoglobina e alma demais para querer-se tanto.

Mas, era aquela uma certeza profana. Porque, inundados de si, afogariam um outro. Alguém que boiava, perto demais dos dois. Boiando, mais indecente que inocente. Alguém que sobrevivia dos restos e dos rastros daquele amor.

E era mesmo uma tragédia, serem três onde só cabiam dois.

Ímpar.

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PS: Nesse caso, pior que três, só se ainda fossem quatro. Ainda bem que não. Não agora e não mais.

PS2: Pior que é um mulherão. Suficiente pra desempatar qualquer jogo e com larga vantagem. Mas às vezes, a gente se acostuma a comer só a sobremesa, achando mesmo que é o melhor da festa. E só depois sente falta do sal. Só depois percebe que queria mesmo era roer o osso, se lambuzar de purê, arroz e feijão.

Amiga, se não rolar, troca de restaurante. Um onde você possa comer tudo o que quiser. Mais saudável, mais forte, mais você.

Eu, que durante anos também me deliciei com a sobremesa, hoje me sinto uma fera alimentada à base de mocotó! Rsrsrsrs. Como é bom ser PAR. Ser paz.

Beijo enorme (o de sempre).

4 comentários:

Alê Ferraz disse...

Ah, também tem uma música. Uma piração, que a história toda merece:

CHICO SCIENCE

SOBREMESA

Walking in the morning sun
My pockets are empty now
I don't have anything
Only dirty black boots
And a little flower in hands
Looking to the city
Cabs, buildings, people
A rocket goes in the sky
My mind flies

Borboletas se equilibram no espaço
Um muro velho em minha face
Uma cadeira flutua num espiral
Flores em minha camisa numa tarde do bairro
E enquanto caminho pelas ruas da cidade
Lembro que uma sobremesa me espera em casa...

Ê... Uma sobremesa...
Ê... Uma sobremesa...
Ê... Uma sobremesa...
Ê... Uma sobremesa...

Anônimo disse...

Mais uma vez sem palavras... Tanto de você em mim!
E é exatamente assim, não deu certo, bola pra frente, o que vale é a tentativa e mais uma experiência de vida... Mais que esse banquete seria providencial, á se seria rs...

AmO você!

Anônimo disse...

Deliciosa crônica. Gosto de cupuaçu misturado com castanha do pará, sobremesa que preenche vazios.
Gosto de sobremesas...gosto de ser sobremesa...talvez só saiba ser isso. Talvez ser só...Talvez ser isso.
Continue sua escrita, mas não demore tanto. Você sempre me deixa com água na boca e com ideias loucas...rsrsrs

Anônimo disse...

Volta Alê!